domingo, junho 04, 2023

o pináculo da felicidade no caritel


2017 e 2022. cinco anos separaram as duas idas ao alojamento local da quinta do caritel, em vouzela. na primeira vez, era como que uma entrada num quarto escuro, não sabíamos ao que íamos, desconhecíamos o local, a quinta, a casa. além disso, a relação era fresca, tinha meses apenas, portanto, também nesse aspecto íamos ao desconhecido, sem saber o que nos esperava. 
era a primeira vez a partilhar uma casa, durante três dias e duas noites, a primeira vez que iríamos passar muito mais tempo juntos do que até então tínhamos experimentado, mas também a primeira vez a cozinhar, a arrumar a cozinha, a acender a salamandra, a ir buscar lenha para a mesma, a partilhar tudo naquela pitoresca e aconchegante casa, com uma sala/cozinha, um quarto e uma casa de banho. cá fora, tínhamos um pátio/esplanada, onde tomámos sempre o pequeno almoço, e uma quinta inteira para visitar e para passear. o cenário da nossa janela não era o mais idílico, porque um mês antes, naquele fatídico outubro de 2017, um grande incêndio tinha consumido milhares e milhares de hectares de floresta, dizimado vidas, casas e culturas. a região, nomeadamente vouzela, um dos concelhos que mais sofreu com as chamas, ainda estava a recuperar do choque.
como seria de esperar, correu tudo lindamente e ainda fizemos uma das nossas tradicionais caminhadas na envolvente ao caritel. praticamente não saímos da quinta, só o fizemos para dar um salto rápido a vouzela para comprar um bolo qualquer que assinalasse o nosso aniversário, 18 de novembro, porque esse fim de semana foi escolhido a dedo, obviamente, para coincidir com a nossa data.
cinco anos depois, regressámos ao caritel, nos mesmos moldes. se em 2017 tivemos o aniversário num sábado, desta vez foi mesmo na sexta, dia em que chegámos. fomos preparados, desta vez. abastecemo-nos no mercadona de viseu, ainda fomos almoçar (e que almoço!) às termas de são pedro do sul, na adega do ti joaquim, e assim que o sandro, o proprietário, nos disse que podíamos entrar, lá fomos nós, entusiasmados também para ver o que tinha mudado. 
pouca coisa tinha mudado, felizmente. sabíamos onde estava tudo, ainda nos lembrávamos, a cozinha continuava funcional, a salamandra também, e a vista, agora, era bem diferente, com o caramulo verdejante à nossa frente. no dia da chegada, festejamos o nosso aniversário, como se impunha. chovia lá fora (aniversário molhado, aniversário abençoado!), mas a casa estava quentinha e os nossos corações também. atingíamos ali uma marca bem gordinha já e estávamos felizes porque festejávamos a nossa união, recordámos o nosso primeiro encontro, a garrafa de água que tombou a meio da conversa, os nervos, naquela mesa da pastelaria que ostentava a palavra "doce". e foi bem doce esse momento, como foram milhares deles depois disso.
a chuva, como que por milagre, resolveu dar uma abébia no sábado de manhã. decididos, vestimos o equipamento, tomamos o pequeno almoço e colocamo-nos a caminho. a intenção era fazer o percurso da ecopista do vouga entre vouzela e as termas de são pedro do sul, ida e volta. e a chuva deixou-nos fazer precisamente isso, praticamente 10 quilómetros a caminhar. quando chegámos novamente a casa, recomeçou a chover. até a meteorologia estava alinhada connosco. depois, tal como da primeira vez, a confeção das refeições era sagrada, sempre com as tarefas bem divididas, a abertura de uma garrafa de vinho tinto alentejano para acompanhar, tudo perfeito, na mais prazerosa paz e serenidade. foi assim que nos conhecemos, serenos, e foi assim que sempre quisemos continuar a ser. depois da refeição e da arrumação da cozinha, o sofá foi sempre o nosso melhor amigo, com a inseparável mantinha e a salamandra a crepitar. lemos, vimos filmes (dois deles com cães como protagonistas... eheh), dormimos um pouco, porque o cansaço da caminhada matinal fez questão de aparecer, mas, sobretudo, descansámos. era essa a finalidade também. sair, desligar, cortar a corrente, ficar ali no sossego, sem chamadas, sem stress, sem o bulício habitual dos nossos dias.
tal como da primeira vez, no último dia, domingo, lá vinha o nó na garganta. custou sempre fazer as malas e partir, abandonar a nossa casinha, a nossa primeira casa. foi lá que testámos, digamos assim, a nossa relação. foi lá que percebemos que éramos compatíveis, que nos ajudávamos um ao outro, que partilhávamos tarefas, que dividíamos o trabalho. foi lá que entendemos que tínhamos chão debaixo dos nossos pés, que a casa que começámos a construir a dois tinha bases sólidas para resistir à mais forte intempérie. foi lá que vivemos juntos pela primeira vez. e se repetimos essa experiência cinco anos depois, foi porque ficámos ambos muito satisfeitos com os resultados. só poderíamos, porque foi tudo perfeito! até vacas, vitelos e gatos tivemos. e estivemos sempre o mais isolados possível, nem vizinhos tivemos na casa grande ao lado. o sandro, sempre impecável, só lá foi entregar a chave e deixar-nos umas lembranças (em 2022, foi uma garrafa de vinho tinto e uma bola de carne). depois disso, deixou-nos estar à vontade, nem lá foi para lhe entregarmos a chave.
caritel! é um dos marcos desta união. é um nome incontornável do que fomos. em 2017, foi uma espécie de test-drive ao que éramos como casal, e a avaliação não poderia ter sido melhor. cinco anos depois, já não foi esse o espírito, já sabíamos o que éramos, estávamos devidamente estabelecidos, sólidos e determinados a continuar juntos, a fortalecer cada vez mais tudo aquilo que nos unia, sabendo ambos aquilo que queríamos para o nosso futuro. acima de tudo, queríamo-nos um ao outro, essa era a parte vital. eu queria-te na minha vida, sempre; e tu querias-me na tua vida, sempre. era isto. e 2022 confirmou-o, como se ainda fosse necessário fazê-lo. não arranjo melhor definição, foi perfeito! mesmo perfeito! não mudaria nada. nem em 2017, nem em 2022.
o que ficam agora são as saudades... porque gostava de ir novamente ao caritel. em qualquer 18 de novembro desta vida. é a nossa data. é a nossa casa. é a nossa... vida! juntos! porque eu não sei viver sem ti...

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