domingo, julho 23, 2023

the power of love (indeed)


 

é sempre difícil escolher a banda sonora da tua saída do paraíso após 48 horas inolvidáveis. troquei o cd dos band of horses, "cease to begin", que tinha ouvido duas vezes na viagem para lá, por um cd genérico, gravado há mais de dez anos, com uma espécie de músicas preferidas from a long time ago, quando o meu coração ainda era a preto e branco. entendi que escolhi bem quando começo a ouvir músicas como "windswept", de byan ferry, "cowboys and angels", de george michael (que musicão!), "dont dream its over", dos crowded house, "love bites", dos def leppard, "where did your heart go", dos wham, "missing you", o clássico de john waite, "hard woman", de mick jagger, ou "i´ve been in love before", dos cutting crew. sim, fazia tudo sentido, num desfile de músicas indicadas para corações partidos, dilacerados por uma separação forçada, temas sobre dor e sofrimento. mas, lá está, hoje o meu mindset não era esse, já dei para esse peditório, agora estou dois passos à frente desse estado de espírito. ouvi, com prazer, sim, mas aquelas músicas não eram as mais apropriadas para o registo que trazia do referido paraíso. mas sim, lá pelo meio da tal colectânea, surgiu uma música que conseguiu colocar tudo em perspectiva. e foi precisamente a ouvi-la que decidi que iria fazer este post. sempre dei muita importância às letras das músicas e esta fez todo o sentido, na conjuntura que vivo actualmente: "i'll protect you from the hooded claw, keep the vampires from your door, when the chips are down I'll be around with my undying, death-defying love for you". sim, faz todo o sentido, confere e encaixa como uma luva. "with my undying, death-defying love for you". é uma certeza profundamente cristalizada, ontem, hoje e em todos os amanhãs que eu consiga acompanhar com o meu fôlego.


e o que dizer destas cerca de 48 horas contigo?!...

o termo que me surge mais rapidamente é "inesquecível". tudo! ir contigo à água, ver-te ao meu lado no mar, tu que nunca vais à água, a tua alegria, espontaneidade e leveza. rias, rias-te muito, estavas feliz, senti e vi isso em ti, no teu rosto, na ligeireza dos teus movimentos, na maneira como não tinhas medo das ondas, da temperatura da água, fosse do que fosse. senti-te feliz, segura e confiante por estares ali, na água, comigo! e essa foi uma das maiores provas de amor que me poderias ter dado! claro que, a partir daí, desse momento, tudo teria de correr bem. éramos nós, sozinhos, com tempo, sem agendas, e era óbvio que só poderia ser maravilhoso. e foi-o, sem dúvida alguma. não houve um único momento juntos em que não o tivesse sido. acabámos por fazer tudo o que teríamos feito se tivéssemos ido de férias juntos durante quatro ou cinco dias. foi perfeito, ainda mais pelo facto de nada ter sido planeado. fomos andando à medida que o tempo avançava. e nós bem sentimos as horas a passar a voar, qual alfa pendular, quando estávamos juntos, e, pelo contrário, quando não estávamos, elas pareciam que se locomoviam através do auxílio de andarilhos...

sei que vou recordar para sempre tudo isto que vivemos, assim como os "sinais" que nos foram deixando pelo caminho nestes dias. e quando voltarmos ao roots, este ano, para o ano, daqui a dois anos, que seja efectivamente para o propósito que ambos vaticinámos quando te coloquei em cima daquele banco, no nosso spot. é o nosso destino. os sinais estavam todos lá. e é lá que nos sentimos bem e consolidamos este "nós" que parece agora mais sólido do que alguma vez foi!

é isto o poder do amor?! claro que sim. e o nosso amor move montanhas, se for preciso!

domingo, julho 16, 2023

ainda aqui estou...


barney panofsky: ...and I'm just gonna keep talking here, 'cause I'm afraid that if I stop there's gonna be a pause or a break and you're gonna say 'It's getting late' or 'I should get going', and I'm not ready for that to happen. I don't want that to happen. Ever.

[they pause]

miriam: There it was. The pause.
barney panofsky: Yeah.
miriam: I'm still here

(do filme "barney's version")

não estarei certamente a exagerar se disser que me senti assim em 95% das vezes que estive contigo, independentemente do número de horas. era sempre doloroso verificar que era altura de nos separarmos, de irmos ambos para o trabalho, para casa ou para um qualquer tipo de compromisso. disse-te isto ontem: por muitas horas que passemos juntos a conversar, no final fica sempre a sensação que foi apenas meia hora. sabe sempre a pouco. fica-se sempre a desejar mais e com aquela certeza inabalável de que teríamos conversa para várias semanas seguidas, porque esta nunca enche e é sempre estimulante.
tenho esta teoria há anos: uma pessoa até pode ser interessante, inteligente, com boa cultura geral, bem falante, erudita e eloquente, mas se não tiver uma pessoa estimulante à frente, que a faça sobressair e evidenciar estes dotes, rapidamente se torna num ser amorfo, sem interesse e completamente banal. e eu tenho plena convicção de que sou assim visto pela maioria das pessoas que me conhece e que costuma falar comigo. quando a conversa não me interessa, admito, desligo. não sou estimulado a participar na mesma e não sou de sorrisos amarelos de concordância ou de fingir interesse em algo que não o tem.
por isso é tão gratificante ter-te como interlocutora. é diferente, porque sou estimulado e até consigo demonstrar alguma eloquência e até clarividência. eu próprio me considero mais interessante como pessoa quando estou ao teu lado. porquê? porque nos entendemos de olhos fechados, até sem falar, embora nós nunca o consigamos fazer. há dias, num concerto que vimos juntos, eu estava ansioso pelo final das músicas para poder falar novamente contigo. por sorte, o líder da banda fartou-se de "encher chouriços" entre músicas e pudemos falar mais tempo.
este diálogo retirado do fime "barney's version" reflecte isso mesmo. fica bem evidenciado o receio do paul giamatti em ver partir a rosamund pike, porque quer continuar a prolongar aquele prazer de estar com ela e a conversar com ela. e até no aspecto visual a coisa é credível. rosamund é lindíssima, cheia de classe e elegância, e o giamatti é quase o oposto. portanto, transportando o filme para a nossa realidade, confere.
numa semana, quase que conseguimos recuperar os tais 106 dias perdidos. temos falado muito, temos feito autênticas introspecções frente a frente e também temos tido a coragem de falar sempre de forma franca, honesta e transparente, como sempre fomos. é por isso que é tão estimulante estar contigo. podemos falar de tudo, mas tudo mesmo, que eu sei, e tu sabes, que é sempre tudo genuíno e brutalmente honesto, não estamos a mascarar nada ou a fingir que somos outra pessoa. tu sabes quem eu sou e eu sei quem tu és!
apesar de tudo o que (não) vivemos nos tais 106 dias, satisfaz-me imenso e deixa-me totalmente confortado o facto de, nesta semana, em apenas três encontros, ter verificado que continuamos rigorosamente iguais e que a nossa química continua intocável. que continuamos a não querer que os ponteiros do relógio avancem. que continuamos a olhar da mesma forma um para o outro. que continuamos a sentar-nos lado a lado, embora no nosso reencontro tenhamos ficado frente a frente. mas, lá está, rapidamente nos colocámos mais perto um do outro, porque essa é uma das características mais fortes da tal química, a necessidade do toque. no nosso último encontro, tenho a noção de que passei a noite inteira, naquele bar, a empurrar a minha cadeira para a frente e para o lado direito, mesmo quando já não havia mais centímetros para ela percorrer, nem para um lado, nem para o outro. é algo inato, animal mesmo. mas, como já reparámos, há velhos hábitos que não perdemos, pequenos gestos e atitudes que continuamos a manter, porque também só nós os percebemos e lhes sabemos dar o devido valor.
depois deste "testamento" (sim, tu és infinitamente mais sintética do que eu, vais directa ao assunto e não te repetes tanto como eu), espero mesmo que ainda estejas desse lado e não tenhas aproveitado um dos meus parágrafos para ir dar de comer aos gatos ou ir à horta do teu pai apanhar morangos. o talisca e o maniche esperam, tenho a certeza. são meus amigos. eles entenderão.
que nunca deixemos, pois, de ter longas e estimulantes conversas!
brindemos a isso (olhos nos olhos. sempre!)!

sexta-feira, julho 14, 2023

strawberry fields forever


há muitas formas de dizer a uma pessoa que se gosta muito dela. está é, foi, mais uma delas. deve ter sido por isso que me souberam tão bem. as declarações de amor, com a passagem do tempo, encontram-se nos mais microscópicos detalhes, em fragmentos isolados apenas entendíveis pelas duas pessoas envolvidas na relação. 
é o tempo que se gasta, a atenção que dispensamos, a consideração que alguém nos merece, mesmo que o tempo nunca estique e a agenda esteja o mais sobrecarregada possível.
sim, podem perguntar, se quiserem: "mas tudo isto a propósito de um saco de plástico com meia dúzia de palavras?". lá está, são os tais microscópicos detalhes. o que interessa é o gesto, a atenção, a minúcia, a consideração. os olhos dizem, disseram, o resto. nem é preciso dizer nada. está tudo nos olhos. 
com a passagem do tempo, já sabemos muito bem comunicar sem falar e a linguagem corporal, os gestos, os toques, os olhares tímidos e os breves roçares de pernas e braços são equivalentes a uma dúzia de lusíadas. 
souberam mesmo bem estes morangos, mas soube ainda melhor o sentimento que lhes veio acoplado.

domingo, julho 02, 2023

a importância do toque


era tão grande e sistemática a necessidade de te tocar que era muito raro andarmos lado a lado na rua sem ser de mãos dadas. nos cafés, nos restaurantes ou no cinema era igual. ficávamos lado a lado para ser mais fácil o toque, mais imediato, mais perto. até a conduzir isso acontecia, a minha mão direita procurava-te constantemente, tal era a necessidade de te sentir e tocar. e estavas ali ao meu lado... mas se não te tocasse era como se estivesses a 200 quilómetros de distância... 

foi assim sempre, desde o primeiro beijo, altura em que todas as barreiras desabaram e ficámos finalmente à vontade para o fazermos. mesmo assim, e como é nosso apanágio, ainda aguentámos quase duas semanas... afinal, esperámos mais de quatro anos para nos conhecermos frente a frente, o que já por si indiciaria que nada iria ser imediato ou feito em cima do joelho. fomos sensatos, maduros, cautelosos e racionais nas duas situações. 

no dia do primeiro beijo, estivemos juntos, bem juntos, quase duas horas antes desse momento inesquecível, naquele local que mais tarde homenagearíamos nas nossas caminhadas. a vontade estava lá, já lá estava desde o dia 18, mas soubemos conter os nossos impulsos. o que se passou na hora seguinte a esse referido momento reflecte bem o que sempre fomos como casal. estivemos sempre juntinhos, agarrados um ao outro, como se, de repente, tudo fizesse sentido. até creio que já fazia sentido desde 2011, quando os nossos blogues nos colocaram virtualmente à frente um do outro.

andar de mão dada contigo era uma das bandeiras desta união. admirava aqueles casais de idade mais avançada que o faziam e sempre foi a minha intenção pertencer a um casal assim, sem receio de evidenciar ao mundo a felicidade que vive. e como me sentia bem, orgulhoso, inchado e privilegiado por andar contigo de mão dada. fosse onde fosse. estivesse ou não estivesse alguém. era um dos prazeres supremos, um de muitos. tinha de te tocar. tinha de te sentir. era uma necessidade mais forte do que eu e nunca me consegui deter.

é assim que nos vejo, como na foto, de mão dada, a passear pelos milhares de quilómetros de passadiços espalhados por este país fora, a olhar para a frente sem receio do que possa vir a acontecer, porque o pior cenário, o mais negro de todos, nós já sabemos qual é: retirar da foto um de nós.