terça-feira, novembro 30, 2021

como tirar uma fotografia a mim próprio dois meses antes...


 

parque do fontelo


 

ode a uma música



este foi o segundo cd que comprei. o primeiro foi o da cantora dos fairground attraction, eddi reader, a solo ("mirmana"), que continha uma música que eu idolatrava: "what you do with what you've got". lançado em abril de 1992, o disco apanhou-me com 19 aninhos, altura em que, graças ao disco anterior, "disintegration", já tinha elevado os the cure à categoria de bandas preferidas. embora não chegasse ao brilhantismo irrepreensível do disco anterior, que continha pérolas como "pictures of you", "plainsong", "prayers for rain", "lullaby", "lovesong" e essa música que, para mim, é o pináculo das músicas depressivas, intitulada "the same deep water as you", este "wish", conseguiu colocar meia dezena de músicas no meu top 20 da banda. são os casos de "apart", "a letter to elise", "from the edge of the deep green sea", "high" e esta obra de arte chamada "trust". lembro-me da primeira vez que a ouvi e de ter ficado petrificado, porque a música parecia ter sido feita de encomenda para mim, grande apreciador da banda, mas com evidente propensão para as músicas mais tristes, depressivas e sorumbáticas. "trust" é um arrebatamento puro, uma descida vertiginosa às sombras da nossa alma, um contemplar resignado à nossa condição de seres vulneráveis e à capacidade intrínseca que temos de ficar, em qualquer altura da nossa existência, com o coração partido. o que torna a música realmente espantosa, além de tudo isto, é a forma como, quase 30 anos depois de a ter ouvido pela primeira vez, ainda fico com a pele arrepiada logo nas primeiras notas de piano. é uma das músicas da minha vida, claramente, e tenho a certeza de que ainda me fará sentir desta forma daqui a 30 anos...

sexta-feira, novembro 26, 2021

versão raquítica de um clássico musical de 1972

"- como é que eu vim aqui parar, afinal?"

quando o cérebro decide brincar connosco, espicaçando-nos e martelando-nos a cabeça para fazer algo que sabemos muito bem que não queremos fazer, acabamos a fazer a pergunta que encima este texto.

podemos falar de curiosidade, essa cenoura que o cérebro nos coloca à frente dos olhos como se fossemos completamente inconscientes e, ainda por cima, cheios de fome. podemos chamar-lhe outra coisa qualquer, mas, no final, o cérebro ganha sempre ao corpo.

mesmo cansado, já na antecâmara de mais uma noite sem qualquer vestígio de novidade ou surpresa, despertei para a sugestão que, perfidamente, ele me sugeriu, como que a dizer "vá lá, tira lá o pijama, vai para a rua, vive um bocadinho, o mundo é a tua ostra!". matutei nessa ideia algumas dezenas de minutos, depois afastei-a completamente, para meio minuto mais tarde a voltar a considerar. afinal, o cérebro e eu vimos exactamente a mesma coisa no monitor: eu achei normal, mas ele acendeu de imediato holofotes, fez soar sirenes estridentes e atirou-me uma alternativa a mais uma noite pachorrenta, solitária e deprimente. e foi por isso que considerei a ideia e acabei por aceitá-la.

levantei-me, tirei o pijama, vesti-me de novo para o imenso frio que se fazia sentir, camisola de gola alta, casaco interior, casaco exterior, cachecol e um gorro. rua acima, em direcção ao carro, que estava gelado. por sorte, pegou à primeira e não tinha nenhum pneu furado. o destino estava traçado, porque o cérebro já me tinha fornecido todos os apontamentos: o que fazer, como fazer e quando fazer.

cheguei ao local e procurei um local apropriado para estacionar. desliguei o carro e fiquei inerte no veículo, tentando passar o mais despercebido possível. os minutos passam... observei meia dúzia de pessoas a passear os seus cães, para estes se aliviarem, outros tantos a fumar, dois ou três a deitar o lixo fora. e passam mais minutos... ao fim de meia hora, não sabia muito bem o que estava ali a fazer. tentei focar-me novamente. saí do carro, caminhei um pouco e cheguei à conclusão de que estava ainda mais frio do que quando saí de casa. nunca fumei nem tive essa vontade, mas talvez compreenda por que motivo os fumadores não se conseguem livrar do vício. talvez os aqueça em noites como estas.

voltei para o carro. sabia que estava no local certo e na posição certa para observar aquilo que o meu cérebro me compeliu a observar. a intenção dele era nobre, lá no fundo, mesmo no fundo, e foi por isso que decidi prestar-me ao papel que estava ali a representar. mas os minutos passavam e nada acontecia. em lugar do suspense e da excitação para ver aquilo que tinha ido ali ver, começava antes a instalar-se uma enorme sombra de auto-comiseração e alguma vergonha. apanhei a minha imagem no retrovisor central e não gostei do que vi. por que raio estava eu ali, àquela hora da noite? e para ver o quê? essa era a questão principal. quereria eu ver algo que me deixasse ainda mais triste? ou quereria eu observar algo que ainda mantivesse vivas as minhas esperanças? a dúvida persistiu durante as quase duas horas em que me mantive naquele sítio, ao frio, no escuro, de gorro, cachecol e máscara, à espera de algo que se iria desenrolar nuns míseros 20 segundos.

a minha solidão foi interrompida por alguém que me enfiou um panfleto por baixo da escova de limpar os vidros. depois disso, um carro estacionou atrás de mim. depois de dois minutos a fazer manobras e mais manobras, quando tinha espaço para estacionar em 3 segundos, o condutor desligou o carro. um minuto depois, não satisfeito, provavelmente, ligou novamente o carro, saiu daquele lugar e foi estacionar, mesmo sem acender as luzes, uns 20 metros mais à frente. há pessoas perfeccionistas, mas este condutor exagerou claramente.

quem era eu naquele momento? um patético cinquentão sem mais nada para fazer? um dom quixote disposto a tudo para defender a sua dama em caso de uma eventual contenda? uma espécie de guarda-costas ou anjo da guarda sempre pronto e disponível para ajudar em qualquer situação? olhava para o retrovisor e não me reconhecia. o cérebro tinha ganho aquele braço de ferro e levou-me para aquele local frio e impessoal, onde me sentia ainda mais deslocado do que habitualmente. não era a minha parte da cidade, não era a minha zona de residência, não eram os meus vizinhos a passear os cães. sujeitei-me a alguns olhares inquisidores, de algum receio até, o que compreendi. se fosse no meu bairro e visse algo do género ficaria preocupado também. mas fui aguentando...

a questão agora era "se já cheguei até aqui, agora vou até ao final". ou seja, se desistisse após uma hora e meia e fosse embora para casa, que raio de sentimento levaria comigo? frustração? impotência? falhanço? o reverso da medalha não era muito melhor, porque representava mais longos minutos à espera, ao frio, mais ansiedade e expectativa. mas decidi-me por este último.

fui até ao final, mesmo que me tivesse colocado a pergunta inicial deste texto umas dezenas de vezes. o desenrolar foi o mais satisfatório possível, naquelas condições. de certa forma, fiquei agradado com o desfecho daquela atípica noite, a minha versão, velha, miserável, patética e doente, da música "take a walk on the wild side", de lou reed.

não sei que noites me esperam no futuro, mas uma coisa é certa: vou colocar o meu cérebro de castigo por uns tempos. não preciso de noites destas. preciso de noites acolhedoras, debaixo de várias mantas quentinhas, a ver um bom filme, a beber um bom vinho alentejano e de mão dada com a pessoa amada. vivo para isso, de forma a que quando me olhar novamente no retrovisor central do meu carro veja um homem realizado, seguro de si, confiante e cheio de auto-estima, porque tem o coração bem aconchegado e que pertence a alguém que nos pertence!

domingo, novembro 21, 2021

51 horas







as amizades, mesmo aquelas com mais de quarenta anos, precisam de ser alimentadas, sob pena de também elas não resistirem às agruras do tempo.
conhecedor e respeitador dessa máxima, o albuquerque, lisboeta de gema, manobrou nos bastidores e orquestrou mais um regresso à terra onde foi passar as férias durante décadas, onde ficava na vetusta e hoje serôdia casa das eiras, dos seus avós. não me lembro do preciso momento em que nos conhecemos e começámos a construir essa longa amizade já referida, mas sei que já ultrapassou os quarenta anos.
desde o momento em que ele chegava, até à sua despedida, eu, o albuquerque e o souto, o famoso triunvirato, só não estávamos juntos quando íamos dormir, cada um em sua casa. de resto, naqueles dias em que parecia haver tempo para tudo e os minutos se arrastavam como caracóis ao sol, passávamos os dias a inventar formas novas de passar o tempo. e foram muitas: jogar futebol, ir ao rio, jogar no spectrum zx, ir à boleia a viseu comprar discos, ouvir programas de rádio para gravar em cassete as nossas músicas preferidas, ver televisão e ansiar pelos telediscos dos duran duran, dos a-ha ou dos cock robin, entre muitos outros, jogar futebol de mesa ou grand prix ou até mesmo encetar verdadeiras aventuras quando tentávamos descobrir que segredos escondiam as divisões da casa das eiras que estavam sempre encerradas.
como não poderíamos ficar jovens para sempre, a natural evolução surgiu em forma de casamentos, baptizados e vidas profissionais incompatíveis com o reencontro de três pessoas que habitavam em três locais diferentes do país. mesmo assim, a terra lá ficou - tal como o souto, o único que ainda lá reside -, com as centenas de memórias que lhe agrafámos durante décadas. algo que, enquanto não somos assaltados pelo alzheimer, sabe sempre bem recordar.
foi isso que fizemos no sábado à noite, na citada terra. antes, aqui o lopes foi buscar, com o filho, o albuquerque a nelas, à estação de comboio. padrinho do meu filho, o albuquerque é o mais velho dos três e fez 50 anos há duas semanas. segue-se o souto, em dezembro, e eu, apenas em agosto do próximo ano. e o reencontro também serviu para assinalar esse facto: um de nós chegou aos 50, à meia centena de anos que estaríamos longe de imaginar naquelas preguiçosas tardes em que nos deliciávamos com um gelado e bebíamos green sands, enquanto ouvíamos "the reflex" ou "wild boys", dos duran duran, no walkman.
antes da saída de viseu para nelas, uma desagradável surpresa: um pneu furado no meu carro. contacto para aqui e contacto para ali, a coisa resolveu-se quando uma mão amiga me cedeu as chaves do seu carro. apesar de tudo, chegámos antes do comboio, mas quando chegámos a viseu tínhamos uma empreitada pela frente: mudar o pneu do carro. apesar de todas as peripécias, a coisa ficou feita, embora no dia seguinte de manhã tenha tido de me deslocar a uma empresa da especialidade, recauchutagem, para tratar do pneu furado.
com esse problema resolvido, fomos jantar ao páteo, na rua direita, onde se comeu divinalmente. no final, fomos a uma casa de fados, pinguinhas, mas apenas para beber um digestivo (sem fados, portanto, um registo que nenhum de nós aprecia sobremaneira). o meu filho, o almeida lopes, acompanhou-nos sempre estoicamente e esteve sempre à altura do momento, com o seu irrepreensível sentido de humor. a primeira noite terminou com a sempre indispensável conversa mais séria, já só com o albuquerque, no seu alojamento local (be my guest, altamente recomendado!). teríamos tido conversa até nascer o sol, mas por volta das 3 horas o sono mandou-me para casa (por sorte, apenas a uns 5 minutos a pé).
o sábado começou com a já referida visita à empresa de pneus, recauchutagem viriato, que em apenas 10 minutos me resolveu o problema. depois, reencontro com o albuquerque no nosso "centro de operações" destes três dias: o armazém do caffé, na rua da paz, em viseu. fomos lá umas seis vezes... depois, uma demorada e interessada visita à feira das velharias de viseu, que se realiza no terceiro sábado de cada mês, na rua da paz e na rua formosa. o albuquerque comprou, regateando, claro, como se faz em todas as feiras do género, uma máquina de jogos tipo atari. foi então altura de começarmos a tratar do almoço...
fomos buscar o meu filho a sua casa e, enquanto demos um passeio higiénico pelo parque aquilino ribeiro, decidimos a ementa do almoço: encomendar umas pizzas na pizzaria mytica, a 3 minutos de minha casa, no centro histórico. a minha filha veio ter connosco a casa e almoçámos os quatro, totalmente deliciados com as pizzas confeccionadas em forno de lenha por um chef italiano. depois, nova ida ao armazém do caffé, nova visita à feira, desta vez com a minha filha também, apreciadora deste tipo de eventos, e regresso a casa para ver o watford - manchester united, que os red devils perderam por 4-1, para nosso contentamento.
por volta das 17h00, começámos a organizar a logística da nossa visita à terra do souto, a terra da nossa infância e adolescência. passámos por uma superfície comercial e adquirimos víveres para a nossa "noitada". chegámos às 19h00 e reencontramos o souto no jardim municipal da vila, actualmente em obras. seguimos para o jantar, no restaurante "ela", propriedade de uma simpática trintona polaca, chamada ela faltyn kotygin, sozinha no estabelecimento com o seu filhote de quatro anos, sensivelmente. falámos em inglês com ela, ouvimos boa música e comemos muito bem, com a nossa anfitriã a confeccionar os três pratos que escolhemos, que chegaram à mesa ao mesmo tempo. uma verdadeira multi-tasker!
no final do jantar, uma caminhada nostálgica pelos locais mais emblemáticos da vila, passando pelo café que foi propriedade dos meus pais, pelo campo de futebol do ciclo preparatório, onde fizemos mais de uma centenas de jogos, pelo liceu, pela supra citada casa das eiras, pela escola primária. uma visita guiada pelas nossas memórias e pelas centenas e centenas de recordações que fomos acumulando durante anos. a noite viria a terminar em casa do souto, onde nos fartámos de ouvir música, especialmente do novo álbum dos duran duran, "future past", a nossa banda de eleição durante décadas, mas também com muitas outras bandas que venerámos nos anos 80 e 90. claro que sempre bem acompanhados de um monte dos amigos, vinho alentejano, cerveja heineken e de tudo aquilo que comprámos para aquele reencontro com o nosso amigo. matámos saudades, falámos do passado, comentámos o presente e falámos no futuro, nomeadamente a noite do rock in rio que colocará no mesmo dia os duran duran e os a-ha, outro dos nossos ícones dos anos 80. estamos a congeminar a nossa ida ao festival, apenas nesse dia, para finalmente cumprirmos um dos nossos sonhos de adolescência: ver os duran duran ao vivo! nós que sabemos as letras todas de cor, as músicas, os álbuns, os concertos, enfim, tudo!
despedimo-nos do souto e regressámos a viseu, já de madrugada, satisfeitos por tudo ter corrido bem, incluindo as viagens!
o domingo acordou cansado, fruto de duas noites mal dormidas, mas não foi obstáculo a nada. voltou a iniciar-se no armazém do caffé, onde me encontrei com o albuquerque, de onde seguimos para casa do meu filho. após uma passagem pela pousada de viseu, onde bebemos uns aperitivos, arrancámos para o restaurante onde tínhamos feito reserva: home sushi & asian food, onde nos empanturrámos de sushi, já para não falar no cheesecake de manteiga de amendoim e na tarte de chocolate com raspas de lima. no final, exigia-se uma caminhada, e assim foi. fomos parar à esplanada do irish bar, no centro histórico, onde tomámos café e nos deixamos permanecer um considerável período de tempo, a fazer listas e a estabelecer os "onzes" das nossas preferências futebolísticas. de lá, saímos para minha casa, onde vimos o totthenham - leeds united, novamente com o resultado a agradar aos três.
depois, de volta à estrada, agora para levar o albuquerque a nelas novamente. regressou a lisboa às 19h10, num comboio pontualíssimo, e eu e o meu filho voltámos a viseu. pelo caminho, a confissão de que tinha adorado estes momentos com o pai e o padrinho e o reconhecimento de que já não se ria desta forma há muito tempo. fui levá-lo a casa, abracei-o, também já cheio de saudades dele, porque só o vejo aos fins-de-semana, e vim para casa, para a minha solidão.
cheguei a casa, liguei o computador e escrevi isto...
obrigado a todas as pessoas referidas neste texto por fazerem parte da minha vida!

sexta-feira, novembro 19, 2021

de resignação em resignação...

 


De que servirá perder tempo a estabelecer prioridades e a definir estratégias para se ser feliz? 

A felicidade está em momentos avulsos, partículas minúsculas dessa monstruosidade chamada vida, em situações que não se planeiam nem se preparam meticulosamente ao segundo. 

Os dias têm sempre a mesma duração, o sol nasce, atinge o seu pico e volta a esconder-se. Amanhã, tudo recomeça, pela mesma ordem. 

O que a natureza nos dá num desses dias, volta a tirar-nos algum tempo depois. O fenecimento é inapelável. 

Tudo nasce para morrer e não há nada que possamos fazer para reverter essa inevitabilidade. Tal como numa daquelas filas em que nos colocamos a vida inteira (para votar, ser atendido no hospital, comprar pão, entrar num festival de música), por cá andamos até calhar a nossa vez de ficarmos a preto e branco. 

quinta-feira, novembro 18, 2021

uma árvore cada vez mais despida



já percebi há muitos anos por que motivo decidi criar um blogue.

enclausurado dentro de mim, faltam-me âncoras diárias de amparo onde despejar tudo o que se acumula dentro de mim há algumas semanas.

não estou bem, admito que não estou mesmo nada bem. tudo o que havia para correr mal, correu mal. os piores receios confirmaram-se, aquela sombra negra que pairava sobre mim, e que se afastou durante algum tempo, regressou e parece decidida a compensar a prolongada ausência com contornos ainda mais carregados de negrume, infinita mágoa e dilacerante amargura.
afinal, os blogues servem para isto mesmo: substituir pessoas de carne e osso. essas, lentamente, vão-se afastando. por coincidência, ou não, estamos em pleno outono e, aos poucos, a minha árvore vai ficando sem folhas. elas vão caindo, uma a uma, levando com elas a irreversibilidade do momento em que conseguem soltar-se, precipitando-se numa queda aliviada para o chão. 

aqueles tempos em que, como pessoa ansiosa que sou, contava os dias que faltavam para me encontrar com a pessoa amada ou mesmo com amigos já lá vão. tenho que me render às evidências, falhei redondamente neste aspecto da minha vida, tal como noutros. sou obrigado a reconhecer que ainda não tenho, nem virei a ter, certamente, uma personalidade devidamente estabilizada e confiante o suficiente para me soltarem na sociedade. se eu fosse um computador, aceitaria, de bom grado, por esta altura, um reset total, ou, em último caso, que me devolvessem à fábrica, por manifesto e mais do que evidente erro de fabrico.

erradamente, pensei que o meu livro de instruções, o tal que veio de fábrica, já teria sido entendido por alguém nesta fase da minha existência. pura ilusão... os meus problemas, todos eles, com pessoas à minha volta ou sem pessoas à minha volta, continuam cá todos. estiveram, simplesmente, camuflados durante alguns anos. andava tão eufórico com tudo o que me estava a acontecer de bom, de magnífico, de excelente mesmo, que nem me preocupava com isso, com essa avaliação ou introspecção. afinal, tinha alguém ao meu lado e esse factor da aceitação e integração social nem sequer foi uma preocupação para mim, de tão feliz, completo e pleno que estava.

chegado a este ponto, definho debaixo das minhas dúvidas e incapacidades. questiono tudo o que ficou para trás, quem fui numa outra perspectiva, dentro da referida ilusão, e se terei agido sempre em conformidade com esse estado de euforia sentimental, se o demonstrei devidamente, todos os dias, a toda a gente. Se poderia ter feito algo de forma diferente ou se fiz tudo o que estava ao meu alcance para, de certa forma, merecer esse estatuto de homem finalmente feliz a passear constantemente nas nuvens.

sei quem fui e sei o que fiz. acredito mesmo que, se o tempo voltasse para trás, voltaria a fazer tudo da mesma forma. estava apaixonado? demonstrei-o. ficava deslumbrado todos os dias com a sua beleza? afirmava-o. manifestava uma ansiedade tremenda em estar sempre com ela? milhares de vezes. nunca me cansei. nunca houve enfado. o que nunca chegava... era o tempo. queria sempre mais e mais. nunca era nem foi suficiente. mas não é esse um sinal inequívoco de uma paixão galopante, o de querer estar sempre com a pessoa amada?

acreditei cegamente que seria finalmente feliz, coloquei todas as minhas esperanças, anseios, ilusões, fantasias e aspirações nessa empreitada, com vista a esse desiderato. o estilhaçar desse sonho deixou-me desfeito e vazio por dentro. se tentar chorar, já só chorarei pó; se me cortar, já só verterei cinza.

este é mais um funeral a que nunca pensei assistir. mas da mesma forma que luto, no final de cada dia, pela existência de mais um dia, e que anseio por cada novo fôlego diariamente, resta-me a convicção, plena, de que fui eu. limitei-me a ser eu, sem artifícios, maquilhagem ou ornamentos. fui o melhor que posso ser. mostrei aquilo que tenho de melhor. mas, mesmo assim, não foi suficiente. pelo que vejo agora, nunca seria. o meu melhor não chegará nunca aos tornozelos de qualquer outra pessoa. o meu melhor nunca representará muito em termos de oferta e perderá sempre em qualquer comparação. mas é o que tenho e nunca irei fingir que sou alguém que não sou.

o problema está identificado e bem enraizado, mas continua à espera de resolução, por ser uma consequência natural de quem se debate diariamente com a mesma dúvida existencial: devo ser como realmente sou porque só assim serei genuíno, autêntico e coerente, ou devo mudar a minha forma de ser, de agir e de pensar, para assim agradar mais, ou alguma coisa, às pessoas com quem interajo?

fontelo


o caminho está delineado há muito. os dias e as horas também. chuva, frio, sol, neve, tudo é irrelevante, o que mais importa é estar. não é pelo compromisso, é pela vontade. não é pela obrigatoriedade, é pela emoção. os dias multiplicam-se e as horas avolumam-se, mas os temas de conversa nunca cessam e esta nunca entedia. simbólica representação de uma vida a dois, numa montanha russa cheia de curvas, contracurvas, altos e baixos, mas que, para nós, se assemelha a uma interminável planície alentejana. sempre que a vida se permite a colocar-nos lado a lado, obrigamo-la a pensar que o deveria fazer mais vezes, mais horas, dias, semanas, meses e anos. teremos sempre conversa para qualquer distância temporal, seja ela curta, longa, intercidades ou interplanetária. porque estarmos juntos é o melhor sítio onde alguma vez poderemos estar!


há pessoas que não dão o devido valor à mancha florestal que a cidade de viseu possui, à sua intrínseca beleza, aos milhões de tonalidades com que o outono a veste e ao deslumbre que as suas centenas de recantos nos oferece. o fontelo faz parte das minhas manhãs de domingo desde abril. são largos meses a assistir às suas mutações naturais, numa prática desportiva que faz muito bem ao corpo, ao espírito e ao olhar. só não digo que também faz bem ao coração, porque nesse departamento a "culpa" não é do fontelo. é de quem me acompanha...


domingos de manhã no fontelo, para revigorar o corpo e a mente, restaurar o equilíbrio interior e encher os pulmões de oxigénio em duas horas de trail, conversas estimulantes e contemplação dos tons outonais. por vezes, não resistimos à beleza que nos é dada a observar e temos mesmo de parar para a fotografar. e sim, claro, as árvores e as folhas também estavam muito giras...


numa conjuntura polvilhada por tantas dúvidas, há certezas que nos fazem imensamente bem! uma delas materializa-se aos domingos de manhã, num circuito de mais de duas horas no fontelo (caminhada, trail e corrida). o esforço é bem doseado, em virtude do traçado delineado (subidas e descidas) e até do piso, mas eu nem necessitaria de nada disso para colocar o meu coração a bater aceleradamente. ele já o faz quando olho para a pessoa que me acompanha. essa é outra daquelas certezas de que falava no início deste post.


harmonia perfeita! com muita consistência, nutrição, pavões, lugares sagrados profanados, quatro percursos de 25 minutos cada a contornar o fontelo, a caminhar e a correr, memórias, previsões e um minuto para tirar fotos. é sempre gratificante documentar os grandes momentos e nós já temos muitos, mas queremos sempre mais!



e sistelo...

passadiços de sistelo.
ponte medieval de vilela - aldeia de sistelo
22 kms - ida e volta.
uma caminhada tão dura quanto inesquecível!

foi há um ano!... um momento de puro companheirismo, amizade, entreajuda, cumplicidade e determinação entre duas pessoas! tudo embrulhado por aquela indómita vontade de querer estar com alguém a toda a hora, caminhar e vencer obstáculos ao seu lado, respirar o mesmo ar puro, ver a mesma deslumbrante natureza e o verde mais verdejante que o minho oferece, em comunhão total e numa simbiose emocional transparente e inquebrável. foi há um ano!... voltaremos ao sistelo, novamente, de mão dada, para revisitar o paraíso e voltarmos a emoldurar mais umas dezenas de momentos inesquecíveis! we will always have sistelo!

passagens marcantes em dia com igual adjectivo


novembro 2019

um sorriso que se eternizou no rosto

é completamente impossível prever o que nos vai acontecer durante um determinado período de tempo, não havendo forma de garantirmos a felicidade suprema ou de evitarmos a mais profunda depressão; limitamo-nos, simplesmente, a entregar a nossa carcaça ao destino para este fazer connosco o que bem entender. foi com este aforismo que enfrentei uma semana de férias, a meio de novembro, um hiato agendado desde março.
perguntar-me-ão (e eu não vos posso censurar por isso): mas por que raio marcar férias de uma semana em novembro, em que há frio, chuva, vento, neve, deslizamentos de terra, tsunami's e avalanches a toda a hora? respondo a essa pertinente questão com isto: não têm rigorosamente nada a ver com isso. adiante...

é engraçado como as nossas perspectivas se alteram em virtude de um identificado momento. se antes desse momento olhava para as minhas férias como um bloco de tempo entediante, sem nada previamente agendado ou definido, depois dele parece que tudo se transformou. se estava renitente ou receoso com a forma como iria preencher o meu tempo durante nove dias (uma semana mais dois fins-de-semana), esse referido momento abriu uma enorme avenida à frente dos meus olhos. e o mais espantoso é que teve lugar precisamente nas minhas primeiras horas de férias, porque tinha saído do trabalho duas horas antes nesse dia, 15 de novembro. essa noite mudou tudo e as minhas férias passaram a ter outra banda sonora e outro calor, mais cores e, sobretudo, um enorme e apatetado sorriso de orelha a orelha que ainda hoje não consigo deixar de evidenciar.

leitura.
durante a semana, li dois livros: "a paixão segundo G.H.", de clarice lispector, e "a sombra do vento", de carlos ruiz zafón. este último, "devorei-o" num dia e meio, de tão agarrado que fiquei à narrativa. custava-me pousar o livro, porque a ansiedade queria sempre mais, tal como me custou, no final, despedir-me daquelas personagens. repeti a experiência vivida aquando da leitura de "a mulher que correu atrás do vento", de joão tordo, que também li num ápice, dando por muito bem empregues todas as horas que passei a mergulhar no universo literário do escritor de barcelona. já iniciei um novo livro, provindo das mesmas eruditas mãos que me recomendaram as obras já citadas: "conversa n'a catedral", de mario vargas llosa. dar-vos-ei feedback daqui a 600 páginas. controlem essa ansiedade, por favor...

cozinha.
um homem na cozinha. quais são as suas principais dificuldades? eu tinha uma, muito grande mesmo: não sabia fazer arroz. vivo sozinho há muito tempo já e não havia forma de me aventurar a fazer arroz. nestas férias, decidi colocar mãos à obra. comprei o arroz, li as instruções, adicionei o que tinha a adicionar, nas doses certas, a água, o arroz, a água a ferver e tal. no final, devo dizer que gostei do meu arroz, ficou solto, sequinho e até saboroso. mas haverá sempre margem, claro, para melhorar. tal como na minha outra empreitada: fazer frango assado. habituado ao meu "frango à zé alberto", que vai ao forno apenas com sal, cerveja, sopa de cebola e natas, entendi que tinha de alargar o meu espectro culinário em termos galináceos. comprei os ingredientes (colorau, alho, vinho branco, louro, sal e azeite), misturei tudo, espalhei pelo frango e... não é que ficou uma delícia! certamente que não ao nível das minhas omeletes, muito apreciadas (eheheh), mas com uma qualidade muito satisfatória!

desporto.
desde a instalação da aplicação google fit, tenho estado muito mais desperto para a minha condição física. comecei lentamente a fazer caminhadas, aumentando o ritmo de semana para semana, passando à corrida quando me senti preparado para tal. a aplicação começou a ajustar-me os objectivos semanais, aumentando a carga em termos de minutos activos e de pontos cardio. tenho atingido as marcas propostas e esta semana não foi excepção. apesar do frio e da chuva, fui bem cedo para o fontelo e para o parque de santiago tratar de mim, da minha condição física e do meu bem-estar.
a tudo isto, junte-se muita música, tanto em casa como na rua, durante as caminhadas/corridas, filmes e séries, tempo de qualidade com os filhos, pais e irmã, e o cimentar de todas as amizades que fazem de mim uma melhor pessoa.

voltando a 15 de novembro, é óbvio que poderia ter feito tudo isto que referi durante estes nove dias, da mesma forma, à mesma hora. não teria era o coração tão aconchegado como o tive, nem exibiria o tal sorriso apatetado a toda a hora. há momentos em que até sentimos o som das peças a encaixar umas nas outras, em que temos a certeza de que estamos a regressar a casa depois de uma longa ausência, em que conseguimos ver reflectidos nos olhos que temos à nossa frente as mesmas sensações, a mesma cumplicidade, as mesmas certezas e convicções. o peito enche-se novamente de ar, o coração volta a ter espaço para pular de felicidade e a alma volta a ter lenha para se aquecer. depois desse dia, tudo voltou a fazer sentido novamente, as chaves voltaram a entrar nas fechaduras certas, os planetas alinharam-se novamente e as cores regressaram às nossas faces.
é impossível quantificar o peso do amor na vida de uma pessoa, a forma como determina as nossas reacções, a nossa disposição ou até a nossa vontade de acordar todos os dias. não consigo quantificar, é certo, mas estou convicto, agora, nesta fase da minha vida, e depois de meses de amargura, de que não posso viver sem ele, sem esta sensação de harmonia e plenitude emocional que dele advém, sem esta convicção de que estou acompanhado mesmo quando estou a 300 quilómetros de distância dele, sem esta euforia de me saber de alguém e de ser de alguém, numa comunhão perfeita em todos os sentidos. harmonia, plenitude e serenidade. tudo isto regressou nesse dia e foi devidamente comemorado na nossa data, três dias depois. o nosso equilíbrio emocional foi restaurado e em virtude disso eternizou-se um enorme sorriso nos nossos rostos.




abril 2019

dois corações que voltam a bater

há pessoas tão doces e ternas que nos preenchem. há pessoas tão belas e sensíveis que nos cativam. há pessoas tão estimulantes e viciantes que nunca queremos sair do lado delas, porque é lá que nos sentimos nós mesmos, que sentimos que pertencemos a algo. e esse algo é o "nós" que procurávamos há tanto tempo. o amor puro até pode chegar tarde, em forma de segunda oportunidade; pode chegar quando menos se espera, quando existem compromissos prévios; pode chegar e reescrever tudo aquilo que somos, em virtude da enorme cumplicidade, da ternura espontânea, da admiração, respeito e amizade mútuas; pode chegar e ser vivido intensamente, usufruindo de cada minuto como se fosse o primeiro fôlego, o primeiro passo, o primeiro bater do coração.
mas há um momento em que ele surge, mesmo de forma inesperada, e quando esse género de amor chega... temos de fazer tudo para o merecer, para o preservar, arrebatando o coração da pessoa amada e conquistando-o todos os dias. um amor assim, agarra-se para a vida! e o que resta dela é para passar ao seu lado, sempre a ver corações em todo o lado.




revigorar o espírito e a alma nos passadiços do sistelo

uma caminhada a dois, entre a ponte medieval de vilela e a aldeia de sistelo, num total de 22 kms. não estávamos à espera que fosse tão difícil, embora estivéssemos preparados, depois de duas caminhadas na ecopista do dão, de 16 e 18 kms, nos dois fins de semana anteriores, mas fomos em frente, com o nível de dificuldade a subir gradualmente até à chegada à aldeia de sistelo. nada foi feito com espírito de missão ou de sacrifício; chegámos ao fim realizados, revigorados e, acima de tudo, com mais uma prova definitiva de que, juntos, conseguimos fazer tudo, por mais complicado que pareça ultrapassar o que nos vai surgindo pelo caminho.

foi uma experiência inesquecível, com paisagens memoráveis, a água mais límpida de sempre do majestoso rio vez, o verde do minho, que tanto nos impressiona (paredes de coura, ponte da barca, etc.), as dezenas de borboletas que nos foram acompanhando no percurso (mais as vacas, as cabras, as ovelhas), as nossas "recompensas", na forma de uma cerveja numa esplanada à chegada à aldeia de sistelo e de um piquenique improvisado na recta final do percurso, e aquela sensação, no final, de que estivemos em contacto com uma natureza pura e imaculada, bem conservada e respeitada, como deveria ser em todo o lado, pelas muitas pessoas que fazem aquele percurso.
um experiência para recordar... mas também para repetir, certamente!




novembro 2018

olhares que convergem

raros eram os dias em que ele não frequentava aquela pastelaria. o vício do café levava-o há mais de uma dezena e meia de anos ao mesmo local, onde, por norma, escolhia a mesma mesa. a rotina era tão intrínseca que a própria funcionária do estabelecimento ficava admirada quando ele ficava numa mesa diferente. 

os anos foram passando, com poucas variações na forma de pedir o café ("boa tarde, queria um café curto, se faz favor!"), na (falta de) interacção com os outros clientes ou mesmo na duração daquele momento diário. os dias misturavam-se uns com os outros, sem nada de surpreendente a reter além de um ou outro cliente novo e da natural rotação de funcionárias. quando ele entrava e se sentava, sabia que caras ia encontrar e isso sossegava-o, porque se sentia enquadrado e confortável. 
de entre as dezenas de rostos familiares, havia um que não deixava de lhe suscitar uma grande curiosidade, porque era a única pessoa naquela pastelaria que não aproveitava aqueles minutos para descomprimir, descansar os olhos e simplesmente saborear o seu café (no caso dela, chá. sempre chá). os dias passavam e a sua postura mantinha-se inalterável: olhos fixos num livro, sempre muito agasalhada, como se nunca estivesse calor suficiente para ela largar todas as peças de roupa que insistia em colocar em cima do seu corpo, e o mesmo ar alienado e distante, como se apenas o corpo dela ali estivesse e a mente flutuasse ao ritmo das palavras que lia. 
os anos passaram, muitos anos mesmo, e todos os dias, à mesma hora, no mesmo sítio, repetia-se, invariavelmente, a situação: ela nunca levantava os olhos dos livros que levava consigo religiosamente, ele à espera de um olhar que fosse. dois seres presos no conforto da sua timidez e introversão, que apenas queriam passar despercebidos naqueles minutos diários na pastelaria. ela bem tentava... mas ele reparava nela todos os dias.
passaram-se vários anos e, por estes dias, eles continuam a frequentar a mesma pastelaria, só que, agora, na mesma mesa. as roldanas gigantes que fazem a vida dar voltas sem fim resolveram parar naquele dia 18 de novembro, pelas 11 horas, para se desamarrar aquele tão ansiado olhar, desejado há tantos anos. demoraram mais de uma década a eliminar as mesas e as cadeiras que os separavam, diariamente, naquela pastelaria, até ficarem, finalmente, juntos. 

escolhem sempre a mesma mesa, a que tem a palavra "doce" estampada, porque foi nessa que tomaram café juntos pela primeira vez, naquele dia de novembro. os anos passam, mas o brilho nos olhos de ambos quando estão juntos mantém-se inalterável desde então...




agosto 2018
slowdive em paredes de coura
3 anos depois da última vez, o regresso a paredes de coura, para ver a mesma banda: slowdive! Um concerto inesquecível, etéreo e inebriante, embrulhado num cativante bailado entre os deliciosos e envolventes sons da banda e um fantástico jogo de luzes. Quatro temas do disco de 2017 e mais uma viagem idílica aos anos 90, revisitando o 'shoegazing' que os catapultou e os temas que teimam em não envelhecer ("alison", "when the sun hits", "catch the breeze", "souvlaki space station" ou "crazy for you"), terminando em apoteose com a sempre magistral e épica "golden hair". Uma forma perfeita, também, de apresentar o festival, que conheci em 1998 com o meu compadre ricardo, à pessoa com quem pretendo partilhar tudo até ao meu último suspiro. Um triunvirato inolvidável: o verde vivo do minho, uma espantosa banda e o coração cheio, a verter felicidade, emoção e, acima de tudo, muito amor! Em 2019, lá estaremos novamente...


março 2016
playlist - 18
depois de tantos anos a fazer playlists neste blogue, regresso hoje a esse velho hábito, que coloca, musicalmente, a minha vida em perspectiva. criar uma playlist obedece a vários critérios, sendo que um dos mais importantes é a conjuntura, ou seja, uma determinada fase da nossa vida em que "agrafamos" momentos a músicas (e vice-versa), em que estas últimas não se cansam de passar no nosso cérebro, mesmo sem nenhum aparelho electrónico a servir de intermediário. estas dezoito músicas ilustram uma viragem na minha vida, a vários níveis, e serviram (e ainda servem) de banda sonora a estes intensos últimos quatro meses.

1. sorry seems to be the hardest word - diana krall
2. the look of love - diana krall
3. somewhere not here - alpha
4. when i'm thinking about you - the sundays
5. we all fall in love sometimes - jeff buckley
6. this love - elizabeth fraser
7. fade into you - mazzy star
8. of this goodbye - cousteau
9. why should i care - diana krall
10. infinite arms - band of horses
11. the other side of the world - tindersticks
12. virginia - scott matthews
13. i can't make you love me - bon iver
14. let's go out tonight - the blue nile
15. adrift - jesse marchant
16. fake plastic trees - radiohead
17. at first sight - durutti column
18. saved - mark eitzel