quinta-feira, novembro 18, 2021

passagens marcantes em dia com igual adjectivo


novembro 2019

um sorriso que se eternizou no rosto

é completamente impossível prever o que nos vai acontecer durante um determinado período de tempo, não havendo forma de garantirmos a felicidade suprema ou de evitarmos a mais profunda depressão; limitamo-nos, simplesmente, a entregar a nossa carcaça ao destino para este fazer connosco o que bem entender. foi com este aforismo que enfrentei uma semana de férias, a meio de novembro, um hiato agendado desde março.
perguntar-me-ão (e eu não vos posso censurar por isso): mas por que raio marcar férias de uma semana em novembro, em que há frio, chuva, vento, neve, deslizamentos de terra, tsunami's e avalanches a toda a hora? respondo a essa pertinente questão com isto: não têm rigorosamente nada a ver com isso. adiante...

é engraçado como as nossas perspectivas se alteram em virtude de um identificado momento. se antes desse momento olhava para as minhas férias como um bloco de tempo entediante, sem nada previamente agendado ou definido, depois dele parece que tudo se transformou. se estava renitente ou receoso com a forma como iria preencher o meu tempo durante nove dias (uma semana mais dois fins-de-semana), esse referido momento abriu uma enorme avenida à frente dos meus olhos. e o mais espantoso é que teve lugar precisamente nas minhas primeiras horas de férias, porque tinha saído do trabalho duas horas antes nesse dia, 15 de novembro. essa noite mudou tudo e as minhas férias passaram a ter outra banda sonora e outro calor, mais cores e, sobretudo, um enorme e apatetado sorriso de orelha a orelha que ainda hoje não consigo deixar de evidenciar.

leitura.
durante a semana, li dois livros: "a paixão segundo G.H.", de clarice lispector, e "a sombra do vento", de carlos ruiz zafón. este último, "devorei-o" num dia e meio, de tão agarrado que fiquei à narrativa. custava-me pousar o livro, porque a ansiedade queria sempre mais, tal como me custou, no final, despedir-me daquelas personagens. repeti a experiência vivida aquando da leitura de "a mulher que correu atrás do vento", de joão tordo, que também li num ápice, dando por muito bem empregues todas as horas que passei a mergulhar no universo literário do escritor de barcelona. já iniciei um novo livro, provindo das mesmas eruditas mãos que me recomendaram as obras já citadas: "conversa n'a catedral", de mario vargas llosa. dar-vos-ei feedback daqui a 600 páginas. controlem essa ansiedade, por favor...

cozinha.
um homem na cozinha. quais são as suas principais dificuldades? eu tinha uma, muito grande mesmo: não sabia fazer arroz. vivo sozinho há muito tempo já e não havia forma de me aventurar a fazer arroz. nestas férias, decidi colocar mãos à obra. comprei o arroz, li as instruções, adicionei o que tinha a adicionar, nas doses certas, a água, o arroz, a água a ferver e tal. no final, devo dizer que gostei do meu arroz, ficou solto, sequinho e até saboroso. mas haverá sempre margem, claro, para melhorar. tal como na minha outra empreitada: fazer frango assado. habituado ao meu "frango à zé alberto", que vai ao forno apenas com sal, cerveja, sopa de cebola e natas, entendi que tinha de alargar o meu espectro culinário em termos galináceos. comprei os ingredientes (colorau, alho, vinho branco, louro, sal e azeite), misturei tudo, espalhei pelo frango e... não é que ficou uma delícia! certamente que não ao nível das minhas omeletes, muito apreciadas (eheheh), mas com uma qualidade muito satisfatória!

desporto.
desde a instalação da aplicação google fit, tenho estado muito mais desperto para a minha condição física. comecei lentamente a fazer caminhadas, aumentando o ritmo de semana para semana, passando à corrida quando me senti preparado para tal. a aplicação começou a ajustar-me os objectivos semanais, aumentando a carga em termos de minutos activos e de pontos cardio. tenho atingido as marcas propostas e esta semana não foi excepção. apesar do frio e da chuva, fui bem cedo para o fontelo e para o parque de santiago tratar de mim, da minha condição física e do meu bem-estar.
a tudo isto, junte-se muita música, tanto em casa como na rua, durante as caminhadas/corridas, filmes e séries, tempo de qualidade com os filhos, pais e irmã, e o cimentar de todas as amizades que fazem de mim uma melhor pessoa.

voltando a 15 de novembro, é óbvio que poderia ter feito tudo isto que referi durante estes nove dias, da mesma forma, à mesma hora. não teria era o coração tão aconchegado como o tive, nem exibiria o tal sorriso apatetado a toda a hora. há momentos em que até sentimos o som das peças a encaixar umas nas outras, em que temos a certeza de que estamos a regressar a casa depois de uma longa ausência, em que conseguimos ver reflectidos nos olhos que temos à nossa frente as mesmas sensações, a mesma cumplicidade, as mesmas certezas e convicções. o peito enche-se novamente de ar, o coração volta a ter espaço para pular de felicidade e a alma volta a ter lenha para se aquecer. depois desse dia, tudo voltou a fazer sentido novamente, as chaves voltaram a entrar nas fechaduras certas, os planetas alinharam-se novamente e as cores regressaram às nossas faces.
é impossível quantificar o peso do amor na vida de uma pessoa, a forma como determina as nossas reacções, a nossa disposição ou até a nossa vontade de acordar todos os dias. não consigo quantificar, é certo, mas estou convicto, agora, nesta fase da minha vida, e depois de meses de amargura, de que não posso viver sem ele, sem esta sensação de harmonia e plenitude emocional que dele advém, sem esta convicção de que estou acompanhado mesmo quando estou a 300 quilómetros de distância dele, sem esta euforia de me saber de alguém e de ser de alguém, numa comunhão perfeita em todos os sentidos. harmonia, plenitude e serenidade. tudo isto regressou nesse dia e foi devidamente comemorado na nossa data, três dias depois. o nosso equilíbrio emocional foi restaurado e em virtude disso eternizou-se um enorme sorriso nos nossos rostos.




abril 2019

dois corações que voltam a bater

há pessoas tão doces e ternas que nos preenchem. há pessoas tão belas e sensíveis que nos cativam. há pessoas tão estimulantes e viciantes que nunca queremos sair do lado delas, porque é lá que nos sentimos nós mesmos, que sentimos que pertencemos a algo. e esse algo é o "nós" que procurávamos há tanto tempo. o amor puro até pode chegar tarde, em forma de segunda oportunidade; pode chegar quando menos se espera, quando existem compromissos prévios; pode chegar e reescrever tudo aquilo que somos, em virtude da enorme cumplicidade, da ternura espontânea, da admiração, respeito e amizade mútuas; pode chegar e ser vivido intensamente, usufruindo de cada minuto como se fosse o primeiro fôlego, o primeiro passo, o primeiro bater do coração.
mas há um momento em que ele surge, mesmo de forma inesperada, e quando esse género de amor chega... temos de fazer tudo para o merecer, para o preservar, arrebatando o coração da pessoa amada e conquistando-o todos os dias. um amor assim, agarra-se para a vida! e o que resta dela é para passar ao seu lado, sempre a ver corações em todo o lado.




revigorar o espírito e a alma nos passadiços do sistelo

uma caminhada a dois, entre a ponte medieval de vilela e a aldeia de sistelo, num total de 22 kms. não estávamos à espera que fosse tão difícil, embora estivéssemos preparados, depois de duas caminhadas na ecopista do dão, de 16 e 18 kms, nos dois fins de semana anteriores, mas fomos em frente, com o nível de dificuldade a subir gradualmente até à chegada à aldeia de sistelo. nada foi feito com espírito de missão ou de sacrifício; chegámos ao fim realizados, revigorados e, acima de tudo, com mais uma prova definitiva de que, juntos, conseguimos fazer tudo, por mais complicado que pareça ultrapassar o que nos vai surgindo pelo caminho.

foi uma experiência inesquecível, com paisagens memoráveis, a água mais límpida de sempre do majestoso rio vez, o verde do minho, que tanto nos impressiona (paredes de coura, ponte da barca, etc.), as dezenas de borboletas que nos foram acompanhando no percurso (mais as vacas, as cabras, as ovelhas), as nossas "recompensas", na forma de uma cerveja numa esplanada à chegada à aldeia de sistelo e de um piquenique improvisado na recta final do percurso, e aquela sensação, no final, de que estivemos em contacto com uma natureza pura e imaculada, bem conservada e respeitada, como deveria ser em todo o lado, pelas muitas pessoas que fazem aquele percurso.
um experiência para recordar... mas também para repetir, certamente!




novembro 2018

olhares que convergem

raros eram os dias em que ele não frequentava aquela pastelaria. o vício do café levava-o há mais de uma dezena e meia de anos ao mesmo local, onde, por norma, escolhia a mesma mesa. a rotina era tão intrínseca que a própria funcionária do estabelecimento ficava admirada quando ele ficava numa mesa diferente. 

os anos foram passando, com poucas variações na forma de pedir o café ("boa tarde, queria um café curto, se faz favor!"), na (falta de) interacção com os outros clientes ou mesmo na duração daquele momento diário. os dias misturavam-se uns com os outros, sem nada de surpreendente a reter além de um ou outro cliente novo e da natural rotação de funcionárias. quando ele entrava e se sentava, sabia que caras ia encontrar e isso sossegava-o, porque se sentia enquadrado e confortável. 
de entre as dezenas de rostos familiares, havia um que não deixava de lhe suscitar uma grande curiosidade, porque era a única pessoa naquela pastelaria que não aproveitava aqueles minutos para descomprimir, descansar os olhos e simplesmente saborear o seu café (no caso dela, chá. sempre chá). os dias passavam e a sua postura mantinha-se inalterável: olhos fixos num livro, sempre muito agasalhada, como se nunca estivesse calor suficiente para ela largar todas as peças de roupa que insistia em colocar em cima do seu corpo, e o mesmo ar alienado e distante, como se apenas o corpo dela ali estivesse e a mente flutuasse ao ritmo das palavras que lia. 
os anos passaram, muitos anos mesmo, e todos os dias, à mesma hora, no mesmo sítio, repetia-se, invariavelmente, a situação: ela nunca levantava os olhos dos livros que levava consigo religiosamente, ele à espera de um olhar que fosse. dois seres presos no conforto da sua timidez e introversão, que apenas queriam passar despercebidos naqueles minutos diários na pastelaria. ela bem tentava... mas ele reparava nela todos os dias.
passaram-se vários anos e, por estes dias, eles continuam a frequentar a mesma pastelaria, só que, agora, na mesma mesa. as roldanas gigantes que fazem a vida dar voltas sem fim resolveram parar naquele dia 18 de novembro, pelas 11 horas, para se desamarrar aquele tão ansiado olhar, desejado há tantos anos. demoraram mais de uma década a eliminar as mesas e as cadeiras que os separavam, diariamente, naquela pastelaria, até ficarem, finalmente, juntos. 

escolhem sempre a mesma mesa, a que tem a palavra "doce" estampada, porque foi nessa que tomaram café juntos pela primeira vez, naquele dia de novembro. os anos passam, mas o brilho nos olhos de ambos quando estão juntos mantém-se inalterável desde então...




agosto 2018
slowdive em paredes de coura
3 anos depois da última vez, o regresso a paredes de coura, para ver a mesma banda: slowdive! Um concerto inesquecível, etéreo e inebriante, embrulhado num cativante bailado entre os deliciosos e envolventes sons da banda e um fantástico jogo de luzes. Quatro temas do disco de 2017 e mais uma viagem idílica aos anos 90, revisitando o 'shoegazing' que os catapultou e os temas que teimam em não envelhecer ("alison", "when the sun hits", "catch the breeze", "souvlaki space station" ou "crazy for you"), terminando em apoteose com a sempre magistral e épica "golden hair". Uma forma perfeita, também, de apresentar o festival, que conheci em 1998 com o meu compadre ricardo, à pessoa com quem pretendo partilhar tudo até ao meu último suspiro. Um triunvirato inolvidável: o verde vivo do minho, uma espantosa banda e o coração cheio, a verter felicidade, emoção e, acima de tudo, muito amor! Em 2019, lá estaremos novamente...


março 2016
playlist - 18
depois de tantos anos a fazer playlists neste blogue, regresso hoje a esse velho hábito, que coloca, musicalmente, a minha vida em perspectiva. criar uma playlist obedece a vários critérios, sendo que um dos mais importantes é a conjuntura, ou seja, uma determinada fase da nossa vida em que "agrafamos" momentos a músicas (e vice-versa), em que estas últimas não se cansam de passar no nosso cérebro, mesmo sem nenhum aparelho electrónico a servir de intermediário. estas dezoito músicas ilustram uma viragem na minha vida, a vários níveis, e serviram (e ainda servem) de banda sonora a estes intensos últimos quatro meses.

1. sorry seems to be the hardest word - diana krall
2. the look of love - diana krall
3. somewhere not here - alpha
4. when i'm thinking about you - the sundays
5. we all fall in love sometimes - jeff buckley
6. this love - elizabeth fraser
7. fade into you - mazzy star
8. of this goodbye - cousteau
9. why should i care - diana krall
10. infinite arms - band of horses
11. the other side of the world - tindersticks
12. virginia - scott matthews
13. i can't make you love me - bon iver
14. let's go out tonight - the blue nile
15. adrift - jesse marchant
16. fake plastic trees - radiohead
17. at first sight - durutti column
18. saved - mark eitzel

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