quem segue este blog ficou a saber que ontem eu estava com uma neura desgraçada, aliada a uma grande dor de cabeça, provavelmente provocada pelo estúpido do meu monitor Mac, que decidiu ficar verde claro de repente. há coisas que inexplicavelmente nos colocam na pior das depressões, em que até nem sentimos forças para sair dela, só nos apetece ficar quietinhos a contemplar o vazio, o nada, sem pensar, sem sentir, sem... pois bem, alguma coisa de bom haveria de surgir disto tudo, acredito que quando temos um dia mau, o dia seguinte vai ser bom a dobrar. não sei explicar porquê, mas hoje levantei-me a pensar nisso e com esse espírito. e não me enganei. o meu monitor continua da cor do shrek, os olhos ardem só de olhar para lá, mas que diabo, aconteceu algo de bom, de muito bom mesmo. tenho finalmente em meu poder o album mais ansiado: marjorie fair - "self help serenade". quem me arranjou tal pérola foi outra pérola, uma pessoa que vem atestar e comprovar aquele velho ditado "mais vale tarde do que nunca", porque partilhávamos o mesmo meio, sem nunca termos perdido tempo a partilhar as nossas mentes um com o outro. agora que o fazemos, até se encontram vários pontos de vista comuns, o que se torna agradável, na medida em que são passadas muitas horas na sua companhia. ja lhe agradeci e fiz uma lista extensa das coisas que lhe fico a dever até ao fim dos meus dias, pelo favor que me fez.
pois bem... marjorie fair! que dizer? se eu tivesse talento, se fosse músico, letrista, compositor, era este tipo de música que eu faria. estão aqui verdadeiras preciosidades musicais, como "Stare" (cuja letra coloco por ser quase autobiográfica, nesta altura), "Don't believe", "Please don't", "Silver Gun", "Halfway House" e "Stand in the World". os temas parecem fundir-se num só, num ambiente bucólico de longos relvados, flores, arvores e sol. muito sol, porque as músicas aquecem-nos a alma, revitalizam-nos o espírito, andam na nossa cabeça o dia todo, em pequenos extractos que ainda não conseguimos juntar numa música. já tinha feito o convite para irem ao my space ouvir 4 musicas do disco (está lá o "Stare", por exemplo). agora fica o registo do quão agradável é ouvir o album todo e sorrir, sentir os raios de sol a invadir-nos e imaginarmo-nos na companhia perfeita, no cenário perfeito, ao som de verdadeiras e pungentes músicas.
Stare
these are things I feel but dont want to say
incase you feel that way
these are things I know but dont want to say
incase you feel that way
I'll wait another dayI can never change
cause the pain just makes me want to stare
at the same things I saw before
thinking there's something more
god it's a lonely place
I will never know how you feel
about the things I think about
will I get a chance to make up to you
the things I kept from you
you know I wanted toI can never change
the pain just makes me want to stare
at the same things I saw before
thinking that something's wrong
god it's a lonely place
say the same things you said before
wanting you even more
god it's a lonely place
I can never change
the pain just makes me want to stare
at the same things I saw before
thinking theres something wrong
god it's a lonely place
say the same things you said before
wanting you even more
god it's a lonely place
quinta-feira, março 16, 2006
quarta-feira, março 15, 2006
neura
Desfaço-me em dúvidas,
multiplico-me em conjecturas.
Suavemente escureço.
Conscientemente, entrego-me,
cansado de pensar luas cheias,
farto de porejar ocasos solares,
fatigado de brotar tulipas e girassóis.
Recolho agora os mil pedaços
desta fragmentado ser,
esmigalhado na sua pequenez,
absorvido pelo pensamento reinante
ao qual a minha voz não se sobrepôs.
Quero que a noite caia depressa
e me proteja na sua escuridão;
hoje o meu espírito só espalha trevas,
as sombras invadiram o meu corpo,
sinto uma leveza inerte,
uma indolência gritante,
como se uma faca me rasgasse o peito
e em vez de dor, sangue e lágrimas
dele saísse apenas... poeira.
Suavemente escureço...
multiplico-me em conjecturas.
Suavemente escureço.
Conscientemente, entrego-me,
cansado de pensar luas cheias,
farto de porejar ocasos solares,
fatigado de brotar tulipas e girassóis.
Recolho agora os mil pedaços
desta fragmentado ser,
esmigalhado na sua pequenez,
absorvido pelo pensamento reinante
ao qual a minha voz não se sobrepôs.
Quero que a noite caia depressa
e me proteja na sua escuridão;
hoje o meu espírito só espalha trevas,
as sombras invadiram o meu corpo,
sinto uma leveza inerte,
uma indolência gritante,
como se uma faca me rasgasse o peito
e em vez de dor, sangue e lágrimas
dele saísse apenas... poeira.
Suavemente escureço...
quinta-feira, março 09, 2006
patriotismo encarnado
A vitória, de ontem, do Benfica, em Liverpool, contra o actual campeão europeu, e todo o mediatismo daí decorrente, facilmente confundido com a exaltação patriota vivida aquando do Euro 2004, veio provar que somos mesmo "pequeninos". tanta coisa só porque uma equipa nacional foi vencer ao terreno do colosso europeu Liverpool? que me lembre, nem quando o FC Porto foi campeão europeu se fez tanto alarido, ou mesmo quando venceu a Taça UEFA. é futebol, a bola é a mesma para as duas equipas, jogam 11 homens contra outros tantos, as regras são iguais para todos, porque raio é que era assim tão impensável o Benfica lá ir ganhar? e não me venham falar em orçamentos milionários e jogadores a ganhar muito mais que os "nossos", porque eles também têm o mesmo número de pernas, de braços, de cabeças, de pés, que os "pobrezinhos" jogadores do Benfica. a questão fulcral nesta matéria é que... foi o Benfica, e o Benfica, a par da Amália e do Fado, é uma instituição nacional. até o governo de Sócrates veio beneficiar do facto de o Benfica ter conquistado o título na época passada, o país ficou mais aliviado, mais alegre; o facto de o governo ser bom ou mau passou a ser irrelevante. quando ouço, como ouvi hoje, enquanto almoçava, conversas do tipo: "está a ver ó senhor Saraiva, somos pequeninos mas fomos ganhar ao campeão europeu, caramba. mostramos aos ingleses que em portugal também se joga futebol". pois, eles já deviam desconfiar disso há uns tempos, há anos que participamos em competições europeias e temos campeonatos nacionais todos os anos. mas este tipo de comentário atesta o nosso sentimento de "inferioridade" e pequenez. já quando o tiago monteiro, na fórmula 1, ficou em terceiro lugar, numa corrida em que só participaram 6 carros, o país ficou eufórico, porque era a primeira vez que um português subia ao pódio naquela modalidade automobilística. que diabo, ficou no meio da tabela!... em seis, ficou em terceiro. uau! brilhante. mas nós somos assim, contentamo-nos com o razoável, em vez de exigirmos o perfeccionismo. parece que entramos sempre nas provas europeias, independentemente da modalidade, para ficar mesmo a meio da tabela, não fazer muito alarido e sairmos de mansinho, sem que ninguém dê por nós. mais recentemente, veio um nigeriano, naturalizado português, estragar-nos os planos, no atletismo. Francis Obikwelu tornou-se herói nacional por ter ficado... em terceiro lugar nos 100 metros, e agora até entra em anúncios televisivos, como aconteceu com o Pedro Lamy, o nosso primeiro piloto a pontuar numa prova de fórmula 1. o povinho precisa de heróis, mesmo aqueles que fazem barbaridades ao seu próprio corpo, como o João Garcia, quando subiu o Evereste. não tem nariz, nem pontas dos dedos, mas... também conseguiu sacar o seu anúncio televisivo. a rosa mota, o carlos lopes, o futre, o cristiano ronaldo, o figo, todos eles tiveram direito ao seu anúncio televisivo. são facilmente reconhecíveis pela maior parte da população nacional. seria difícil de imaginar um anúncio da nike com o miguel esteves cardoso, ou um da coca-cola com o miguel sousa tavares. a maior parte das pessoas não os reconheceria como "heróis nacionais" (no caso do sousa tavares, a maior parte das pessoas deixaria de comprar coca-cola..., mormente os benfiquistas e sportinguistas).
isto tudo faz-me pensar que se Jorge Sampaio só cedesse o seu lugar na Presidência da República 24 horas depois do previsto, ou seja, amanhã, dia 10, ainda teria tempo para condecorar toda a comitiva benfiquista e despedir-se, assim, em paz, aos ombros, ao som de "ele é um bom presidente, pois ele é um bom presidente (...) e ninguém o pode negar". até o povo de canas de senhorim o perdoava...
caramba, ó sampaio, eram só mais 24 horas e resolvias tudo...
isto tudo faz-me pensar que se Jorge Sampaio só cedesse o seu lugar na Presidência da República 24 horas depois do previsto, ou seja, amanhã, dia 10, ainda teria tempo para condecorar toda a comitiva benfiquista e despedir-se, assim, em paz, aos ombros, ao som de "ele é um bom presidente, pois ele é um bom presidente (...) e ninguém o pode negar". até o povo de canas de senhorim o perdoava...
caramba, ó sampaio, eram só mais 24 horas e resolvias tudo...
quarta-feira, março 08, 2006
musica 2006
2006 vai ficar certamente conhecido como um ano de excelente música, em virtude dos vários lançamentos previstos de novas bandas, regressos ansiados de vários grupos e, inclusivamente, a formações originais de verdadeiros ícones da década de 80. quem sabe se tudo isto não será para compensar a pobreza, a parolice que é a programação do Rock in Rio previsto para este ano. comecemos, então, pelos regressos ansiados, que são vários:
Portishead - Aural Velvet - 9 anos depois do ultimo album de originais. duas músicas deste novo trabalho podem ser escutados na página da banda no my space (http://www.myspace.com/portisheadalbum3);
até ao final do verão ainda poderemos saudar os novos trabalhos dos Air, R.EM., Massive Attack (Weather Underground - colectânea), Blur e Prodigy.
mas os regressos mais desejados guardei-os para o fim: Radiohead, Flaming Lips e The Czars. duas das minhas bandas preferidas vão lançar novos trabalhos brevemente. o dos flaming lips tem o nome "A war with the mystics" e algumas músicas também se encontram já no my space da banda. quando aos radiohead a informação é mais escassa, aqui o secretismo impera, para não haver fugas de sons para a internet. o novo disco dos The Czars chama-se "Sorry I made you cry" e se for tão bom como os anteriores... continuam a cimentar o lugar de destaque que têm na minha lista de preferências.
dentro do panorama das novas bandas, em 2006 vamos ter novos albuns de originais dos Interpol, essa excelente banda, cujo segundo album ultrapassou mesmo o brilhantismo do primeiro, The Killers, Bloc Party, Arcade Fire (a grande revelação de 2005), The Bravery, The Stills (Without Feathers), Patrick Wolf e o disco de estreia dos The Upper Room.
faltam apenas os regressos de alguns "catedráticos", como The Cure, novo album de originais (ainda hão-de chegar aos 30 discos e aos 30 anos de carreira, começaram em 1979). os Roxy Music também vão ter novo disco, com a formação original, tal como os Duran Duran. os Pixies são outra das bandas "vintage" que vêm sair novo album em 2006.
por último, as minha apostas: My Morning Jacket (http://www.myspace.com/mymorningjacket). o novo album chama-se "Z" e no endereço em cima podem ouvir duas musicas dele, bem como mais outras duas musicas de trabalhos anteriores. uma delas é o belíssimo tema "Bermuda Highway", que eu bem tento colocar neste blog, mas não consigo. o outro projecto chama-se Marjorie Fair, tendo o album de estreia o nome de "Self Help Serenade". também no my space (http://www.myspace.com/marjoriefair) poderão ouvir 4 deliciosas músicas deste disco.
boas audições...
Portishead - Aural Velvet - 9 anos depois do ultimo album de originais. duas músicas deste novo trabalho podem ser escutados na página da banda no my space (http://www.myspace.com/portisheadalbum3);
até ao final do verão ainda poderemos saudar os novos trabalhos dos Air, R.EM., Massive Attack (Weather Underground - colectânea), Blur e Prodigy.
mas os regressos mais desejados guardei-os para o fim: Radiohead, Flaming Lips e The Czars. duas das minhas bandas preferidas vão lançar novos trabalhos brevemente. o dos flaming lips tem o nome "A war with the mystics" e algumas músicas também se encontram já no my space da banda. quando aos radiohead a informação é mais escassa, aqui o secretismo impera, para não haver fugas de sons para a internet. o novo disco dos The Czars chama-se "Sorry I made you cry" e se for tão bom como os anteriores... continuam a cimentar o lugar de destaque que têm na minha lista de preferências.
dentro do panorama das novas bandas, em 2006 vamos ter novos albuns de originais dos Interpol, essa excelente banda, cujo segundo album ultrapassou mesmo o brilhantismo do primeiro, The Killers, Bloc Party, Arcade Fire (a grande revelação de 2005), The Bravery, The Stills (Without Feathers), Patrick Wolf e o disco de estreia dos The Upper Room.
faltam apenas os regressos de alguns "catedráticos", como The Cure, novo album de originais (ainda hão-de chegar aos 30 discos e aos 30 anos de carreira, começaram em 1979). os Roxy Music também vão ter novo disco, com a formação original, tal como os Duran Duran. os Pixies são outra das bandas "vintage" que vêm sair novo album em 2006.
por último, as minha apostas: My Morning Jacket (http://www.myspace.com/mymorningjacket). o novo album chama-se "Z" e no endereço em cima podem ouvir duas musicas dele, bem como mais outras duas musicas de trabalhos anteriores. uma delas é o belíssimo tema "Bermuda Highway", que eu bem tento colocar neste blog, mas não consigo. o outro projecto chama-se Marjorie Fair, tendo o album de estreia o nome de "Self Help Serenade". também no my space (http://www.myspace.com/marjoriefair) poderão ouvir 4 deliciosas músicas deste disco.
boas audições...
sexta-feira, março 03, 2006
os prémios americanos
no próximo domingo haverá novamente entrega de óscares, mais uma chance que os actores, produtores, realizadores têm de pagar favores uns aos outros. este ano, a lista de nomeados "fugiu" um pouco dos blockbusters sazonais para dar lugar a filmes mais modestos em termos de orçamento, mas certamente mais ricos em argumento. mesmo assim, de ano para ano, criam-se sempre lobbys que privilegiam uns e negligenciam outros. é o verdadeiro sistema de hollywood, em que, tal como no resto do mundo, em qualquer sociedade, ocidental ou oriental, para se "vencer" há sempre que se saber "vender". um bom actor não se pode limitar a ser um bom actor, tem que ir a festas, engraxar produtores, convidar outros actores para jantares, promover campanhas de solidariedade, etc.. tudo isto somado, para conseguir chegar a algum lado, um actor tem que ser verdadeiramente actor 24 horas por dia, excepto, claro está, os chamados "monstros sagrados" como um jack nicholson, robert de niro, al pacino, meryl streep, entre outros, que já granjearam tanto prestígio que lhes permite serem uns arrogantes de primeira apanha. os outros têm mesmo que passar pelo processo todo, de casting em casting, de festa em festa, de engraxadela em engraxadela, até conseguirem chegar a um patamar mais elevado, quem sabe até mesmo a uma nomeação para os Óscares... aí sim, vem o reconhecimento por toda aquela trabalheira que foi vestir a pele de "lambe-botas", mais até do que pela sua verdadeira vocação artística. a comunidade cinematográfica entende que o esforço que esse actor fez, a nível humano, de relacionamento social, foi o suficiente para lhe fazerem esse obséquio, essa condescendência. e nas semanas que antecedem a votação propriamente dita é que esse "relacionamento humano" é mesmo posto à prova. há que "trabalhar" muito bem os membros da academia, gastar caixas industriais de graxa, organizar festas com muita imprensa à mistura, para fazer passar a mensagem que de facto o actor é um tipo porreiraço, bem disposto, um mãos largas, que merece, sem dúvida nenhuma, o Óscar. o papel que interpreta? "bem, realmente agora não me estou muito bem a lembrar do filme, mas que diabo, ele merece a estatueta!". para mim, os Óscares, o fascínio que exercia, as noites em branco a ver tudo pela televisão, morreram na edição de 1990, quando se assistiu à maior injustiça até hoje perpetrada. concorriam para melhor actor principal Kevin Costner (Danças com Lobos), Richard Harris (The Field), Robert De Niro (Awakenings), Jeremy Irons (Reversal of Fortune) e Gérard Depardieu (Cyrano de Bergerac). Costner ganharia nessa noite a estatueta para melhor filme e melhor realizador (logo no seu primeiro filme como realizador, o que eu também não entendo... se pensarmos que Martin Scorsese nunca ganhou nenhum...), mas não venceu nesta categoria. Harris era uma hipótese muito remota. De Niro e Depardieu eram os grandes candidatos. Em Awakenings, Robert De Niro tem uma interpretação fabulosa, uma das melhores da sua carreira, e, em Cyrano de Bergerac, Gérard Depardieu é simplesmente assombroso, notável, brilhante, o filme É ele e ele É o filme, basicamente. apoiante de Depardieu nessa noite dos Óscares, nem me importava muito que ele perdesse para De Niro, que também merecia. mas quem venceu foi Jeremy Irons, em Reversal of Fortune, numa interpretação a roçar a banalidade, na pele de um barão aristocrata. a injustiça custou a engolir, mas nessa altura, nos meus inocentes 18 anos, desconhecia ainda as campanhas de valorização pessoal que revertiam em estatuetas, em detrimento do valor artístico. e mais: nessa altura, a imprensa americana, temente que o Óscar de melhor actor fosse parar a um "patético francês gordo", engendrou uma verdadeira campanha anti-Depardieu, relatando histórias da sua juventude, metendo prostitutas, sexo e deboche ao barulho. o chauvinismo americano prevaleceu sobre o francês, que quando chegou à cerimónia já tinha quase a certeza que ia perder. entretanto, na Europa, o filme coleccionava prémios atrás de prémios, e Depardieu tinha o reconhecimento que lhe era devido. já lá vão 16 anos e, para além de não me esquecer desta obra maquiavélica americana, nunca mais tornei a ver, num filme, uma interpretação tão poderosa, tão marcante, como a de Depardieu, numa película apaixonante, verdadeira apologia romântica, que, pasme-se, nem sequer venceu na categoria de melhor filme estrangeiro. mas isto, vindo do país que estraçalhou um outro só porque pensou que este tinha armas de destruição maciça, não admira assim muito. os Óscares não premeiam arte, mas sim pessoas. de preferência... americanas.
quinta-feira, março 02, 2006
a luz
sobre uma onda calma e escura,
onde dormem as estrelas,
ela flutua lentamente como um anjo.
quando sorri o sol volta a nascer, envergonhado,
o vento beija as suas faces, respeitosamente,
e murmura o seu romance à brisa da noite.
os seus cabelos estendem-se pelo mar
e as ondas acalmam-se em reverência.
as suas palavras são sons celestiais,
envoltas no mais cristalino azul dos céus,
vindas de um espírito imaculado e puro
que mil poetas já tentaram descrever
em outros tantos inspirados sonetos.
o seu coração é demasiado doce
para navegar em tantas marés negras,
que em tempos lhe dilaceraram a alma,
e despedaçaram o sorriso.
agora renasceu, aprendeu novamente a voar
e a estender-se para os céus,
para, ao lado das mais cintilantes estrelas,
iluminar os meus mais sombrios dias.
onde dormem as estrelas,
ela flutua lentamente como um anjo.
quando sorri o sol volta a nascer, envergonhado,
o vento beija as suas faces, respeitosamente,
e murmura o seu romance à brisa da noite.
os seus cabelos estendem-se pelo mar
e as ondas acalmam-se em reverência.
as suas palavras são sons celestiais,
envoltas no mais cristalino azul dos céus,
vindas de um espírito imaculado e puro
que mil poetas já tentaram descrever
em outros tantos inspirados sonetos.
o seu coração é demasiado doce
para navegar em tantas marés negras,
que em tempos lhe dilaceraram a alma,
e despedaçaram o sorriso.
agora renasceu, aprendeu novamente a voar
e a estender-se para os céus,
para, ao lado das mais cintilantes estrelas,
iluminar os meus mais sombrios dias.
quarta-feira, março 01, 2006
e que tal um café?
"temos que tomar um café um dia destes". é das frases que mais ouvimos e mais dizemos, já maquinalmente, como se fosse um "até logo" ou um "até amanhã". "tomar um café", o que há de especial em tomar um café com alguém? e porquê café e não um frisumo, uma meia de leite ou um licor beirão? encontramos alguém na rua, que já não vemos há algum tempo, e quando começamos a ver que já não há tempo suficiente para meter todos os meses que entretanto passaram nos dez minutos que temos, lá vem a solução: temos que tomar um café um dia destes. e para quê? para continuarmos a nossa conversa. acho que nas últimas 10 vezes que disse isto, só fui realmente tomar café com o meu interlocutor uma vez, duas no máximo. pensando bem, "temos que tomar um café um dia destes" também é uma boa forma de "despacharmos" alguém, sem ficarmos com peso na consciência, porque estamos a propor um novo encontro com essa pessoa, embora, secretamente, saibamos que não vamos combinar nada a sério e que aquela encenação toda é simplesmente para dizer: "ok, já não te via há muito tempo mas também não tive assim tantas saudades tuas, ao ponto de perder mais 10 minutos contigo". e o tempo é tão precioso! para quê desperdiçá-lo com um tipo que a única coisa que tem em comum contigo foi ter vivido na mesma terra que tu durante uns anos? ou um outro que era amigo de um amigo? como jerry seinfeld preconiza num episódio de "Seinfeld", a vida devia ser um talk show, em que recebíamos as pessoas que nos conhecem, mas teríamos sempre tempo limite para a conversa. "Tenho muita pena, gostaria de ficar aqui mais um bocado a falar contigo, mas o tempo não o permite e vamos ter que sair para publicidade. fique por aí, já a seguir teremos o paulo dias, da nossa turma no 8º ano do liceu". e quando estamos sorrateiramente e educadamente a tentar "sair" de um conversa e a outra pessoa se agarra à nossa mão, durante o aperto de mão de despedida, como se disso dependesse a sua vida? e nós já vamos no nosso 18º "então vá, até amanhã", ou no 13º "depois a gente fala", e nada. continuamos a ouvir o mesmo relato sobre as férias na serra da estrela, as infiltrações na casa nova, o spread bancário, as taxas de juro, etc.. onde é que está o comando remoto?? fast forward e estava tudo resolvido. se ao menos fosse tudo assim tão simples...
mas felizmente também há o reverso da medalha, ou seja, pessoas com quem acontece exactamente o inverso. nestes casos utilizariamos o controlo remoto para fazer um pause ou um slow motion, para o tempo passar mais devagar. e aqui sim, a frase "temos que tomar um café um dia destes" ganha todo o sentido, porque de facto queremos MESMO ir tomar café com essa pessoa, porque é todo um processo: o encontro no café, o atendimento, o pedido (normalmente, para o empregado, é totalmente irrelevante se pedirmos o café curto, porque ele traz sempre o café da mesma maneira, a cerca de 70 a 90% da chavena, por isso pedi-lo causa-lhe tanto impacto como dizer-lhe "a escola cinematográfica húngara dominou parte do século vinte em termos de efeitos visuais"), a espera, o açucar, mexer durante 20 minutos e ficar à conversa 2 horas. isto sim, é ir "tomar um café". com os exemplos referidos no parágrafo anterior, se tivéssemos MESMO que ir tomar café com eles, seria ao balcão e demoraria o mesmo que um anúncio da vodafone. já tomei cafés, descafeinados, chocolates quentes, capuccinos e meias de leite com pessoas muito interessantes, em que a conversa fluiu sempre de forma escorreita, sem pausas embaraçosas e em que há conhecimentos e referências suficientes para sustentares as tuas opiniões, ouvires outras, contrapores, fazeres valer o teu físico para impores sem margem para dúvidas a tua opinião (esta é a brincar, claro!), mandar piadas e receber sorrisos. e isso é tão importante caramba, sentir essa sintonia, esse "clic", essa partilha. para estas pessoas ainda tenho guardados mais uma centena de "temos que tomar um café um dia destes". e espero que elas aceitem, claro...
mas felizmente também há o reverso da medalha, ou seja, pessoas com quem acontece exactamente o inverso. nestes casos utilizariamos o controlo remoto para fazer um pause ou um slow motion, para o tempo passar mais devagar. e aqui sim, a frase "temos que tomar um café um dia destes" ganha todo o sentido, porque de facto queremos MESMO ir tomar café com essa pessoa, porque é todo um processo: o encontro no café, o atendimento, o pedido (normalmente, para o empregado, é totalmente irrelevante se pedirmos o café curto, porque ele traz sempre o café da mesma maneira, a cerca de 70 a 90% da chavena, por isso pedi-lo causa-lhe tanto impacto como dizer-lhe "a escola cinematográfica húngara dominou parte do século vinte em termos de efeitos visuais"), a espera, o açucar, mexer durante 20 minutos e ficar à conversa 2 horas. isto sim, é ir "tomar um café". com os exemplos referidos no parágrafo anterior, se tivéssemos MESMO que ir tomar café com eles, seria ao balcão e demoraria o mesmo que um anúncio da vodafone. já tomei cafés, descafeinados, chocolates quentes, capuccinos e meias de leite com pessoas muito interessantes, em que a conversa fluiu sempre de forma escorreita, sem pausas embaraçosas e em que há conhecimentos e referências suficientes para sustentares as tuas opiniões, ouvires outras, contrapores, fazeres valer o teu físico para impores sem margem para dúvidas a tua opinião (esta é a brincar, claro!), mandar piadas e receber sorrisos. e isso é tão importante caramba, sentir essa sintonia, esse "clic", essa partilha. para estas pessoas ainda tenho guardados mais uma centena de "temos que tomar um café um dia destes". e espero que elas aceitem, claro...
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