quase vinte anos passados no novo século, com a tecnologia e a ciência a atropelarem de forma avassaladora o século passado, o telemóvel a impor-se como um instrumento mais indispensável do que a carteira ou o porta-moedas e as redes sociais a substituírem os antigos diários. a sensação que me fica é que a tecnologia tudo está a fazer para que as pessoas deixem de escrever. sim, com caneta ou lápis. sim, esse escrever. estamos quase no final de 2019 e a questão continua premente: as pessoas desabituaram-se de escrever. hoje, nem os médicos escrevem para passar as receitas, os namorados não escrevem cartas de amor, já não se aponta o número de telemóvel ou telefone de alguém com caneta e papel, faz-se um chamada e diz-se "já tens o meu número, guarda-o nos contactos", e até para jogar no euromilhões, que implicava pegar numa caneta e fazer umas cruzes no boletim, o que não era escrever, mas pelo menos pegava-se no raio de uma caneta, basta dizer no balcão "quero os números da máquina", e ela escolhe aleatoriamente uns números e faz sozinha o boletim. enfim, é tudo uma enorme facilidade hoje em dia, aparece tudo feito e não temos que nos chatear com essa coisa tão ultrapassada, tão século passado, que é escrever.
até o simples autógrafo, que no século passado era considerado um objectivo supremo quando em contacto com os nossos ídolos, passou de moda. já não se vê ninguém com uma caneta e um papel à espera de um cantor ou actor. o que é que se usa hoje? isso mesmo, o telemóvel. a fotografia substituiu o autógrafo. tal como a máquina fotográfica foi substituída pelo telemóvel, arriscando-se fortemente a ser "a máquina de escrever do século XXI". o telemóvel faz tudo! todos os anos tem novas funcionalidades, com o objectivo de facilitar a vida às pessoas. fica tudo mais simples, é tudo mais rápido e as pessoas não perdem tanto tempo. mas como é que as pessoas vão gastar depois esse tempo que pouparam com essas novas tecnologias que lhes permitem poupar tempo? exactamente, no próprio telemóvel. ou seja, ficam com mais tempo livre para ir às redes sociais colocar fotos dos seus pratos de comida, frases de outras pessoas que passam por frases suas e fotos tiradas pelo próprio telemóvel.
antigamente, saía-se de casa a consultar os bolsos para verificarmos se tínhamos a carteira e as chaves de casa e do carro. hoje, a prioridade é o telemóvel, porque tudo no dia-a-dia passa por ele. chamadas, agenda, aplicações, contactos, redes sociais, fotografias, calendário, calculadora, etc.. está lá tudo. antes, compreendia-se que as pessoas, nas carteiras ou nos casacos, tivessem canetas e pequenos blocos para apontamentos. hoje, isso é obsoleto. aponta-se tudo no telemóvel, é ele que dirige a nossa vida. se ele for parar, por acidente, debaixo de uma roda de um autocarro, ficamos sem nada. mas, até lá, reina, domina e é imprescindível.
ou seja, esta tendência para o facilitismo, para a rapidez e para o imediatismo, leva-nos a crer que, daqui a 20/30 anos, as próprias canetas serão obsoletas, como o são hoje em dia as sms, outrora, e nem assim há tanto tempo, o último grito em termos comunicacionais. cartas de amor? enquanto houver whatsapp's e afins, nem pensar. cartas de reclamação de serviços? podem fazer-se online. autógrafos? hoje há selfies. até já nem os polícias pegam numa caneta para passar multas, elas vão parar a casa.
portanto, aquilo que mais se viu nesta última campanha eleitoral é mais uma prova mais do que evidente que os políticos não lêem os sinais nem compreendem o seu eleitorado. o que é que eles mais distribuíram durante a campanha? sim, isso mesmo, canetas... é tão útil como oferecer protector solar no zaire ou gelo no pólo norte.
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