dez anos depois, continuo sem atingir o meu objectivo: vender o nome do blogue à tvi para servir de título a uma novela. nesse aspecto, falhei completamente. noutros também, mas este eu julgava ser perfeitamente viável.
os blogues estão novamente na moda, sendo esta a palavra certa, na medida em que qualquer badameco, ou badameca, que se entretenha a julgar a roupa que os outros vestem passa de desempregado a "blogger" em dois dias. no meu tempo, um "blogger" era alguém que queria manter o anonimato, vivendo nas sombras, privilegiando a liberdade da escrita, precisamente por ninguém saber quem ele era, mas, ao mesmo tempo, lançando farpas certeiras ao poder instalado, fosse ele central, local, paroquial ou associativo. havia uma necessidade de agitar as massas, de acordar um país ainda pouco desperto para este tipo de ferramentas.
mais tarde, surgiram os blogues predominantemente políticos, tanto de direita como de esquerda, que prolongavam na blogosfera a propaganda eleitoral e partidária dos seus apaniguados. claro que também existiam coisas aberrantes como "a pipoca mais doce", uma espécie de embrião da blogosfera fútil e desprovida de neurónios que hoje campeia no país, mas na generalidade a qualidade dos blogues era alta e apetecia mesmo fazer parte daquele mundo. e o que é certo é que fiz mesmo.
foram bons anos: 2006, 2007, 2008, 2009 e 2010. parecia que havia sempre assunto, matéria e factos para comentar, analisar e apreciar. quando acontecia algo, era uma correria para o computador para fazer um dos primeiros posts sobre o assunto e ficar à espera dos comentários. lembro-me bem de várias altercações que tive com leitores do meu blogue, com os comentários a prolongarem-se até à meia centena. bons tempos! tempos até em que havia alguma preocupação em se escrever bem, sem erros, sem abreviaturas, sem "lol's" e essas merdas. hoje vale tudo em termos de "escrita" e as caras amarelas fazem praticamente o trabalho todo. neste nosso tempo, ilustres personalidades como fernando pessoa ou eça de queirós não teriam a mínima possibilidade de vingar.
tudo isto serve para desenhar alguma frustração num presente desencantado e, acima de tudo, despreocupado. são aos milhares os "tiveste bem" em vez do correcto "estiveste bem", ou "eu tive em madrid na semana passada" em vez de "eu estive" (e não estou a mandar uma piada para rafa benitez). confunde-se o verbo "ter" com o "estar" como quem compra pepsi em vez de coca-cola. a ideia é despachar, estugando os processos de comunicação, mesmo que se cometam autênticos atentados à nossa língua.
portanto, não admira que, depois da aberração que constituiu o novo acordo ortográfico e as facilidades que ele trouxe para quem sempre se borrifou para a língua portuguesa, qualquer dia este género de calinada seja validado e ratificado, ficando a valer tanto o "tive" como o "estive". sempre se foram comendo as palavras neste país. agora até já imitamos os brasileiros (o que não admira, na medida em que o novo acordo ortográfico foi quase como que uma vassalagem nossa ao país irmão) e encurtamos o "independentemente" (porque é uma palavra muito grande...), passando a dizer "independente". um exemplo: "eu vou votar no domingo, independente das condições climatéricas". qualquer dia, não existem palavras com mais do que oito letras. cansam muito...
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