sexta-feira, julho 24, 2009
os "vintes" e os "trintas"
os "trintas" são tramados, não tenham dúvidas. é aquela altura da vida em que se definem as nossas prioridades, em que se faz aquela transição, nem sempre fácil, entre uma vida de solteiro e uma vida de casado. enquanto solteiros, o mais normal é manter durante vários anos as amizades que se foram cimentando durante a vida de estudante, nos liceus, nas universidades, etc.. mesmo quando surge uma namorada na nossa vida, é de certa forma fácil conciliar os dois mundos e, apesar das exigências de ambos os lados, o pensamento que impera nesta fase é o de que a vida deveria ser sempre assim, com os amigos e a namorada sempre "à mão", dependendo do nosso estado de espírito. os "vintes" são, dessa forma, fantásticos, porque há um pouco de tudo na nossa vida: ainda há vida de estudante, com as consequentes loucuras sazonais, há a emoção do primeiro emprego, as borbulhas começam finalmente a desaparecer, decidimos que "look" é que vamos adoptar ao entrar na chamada "vida adulta" (pêra, barba de três dias, bigode à freddie mercury, cabelinho "à fosga-se", risco ao meio), conduzimos o nosso primeiro carro, temos o nosso primeiro acidente de viação, ainda temos energia para parques de campismo, discotecas e batalhas de shot's, ainda há bebidas alcoólicas para experimentar e, sobretudo, já não temos, finalmente, hora para chegar a casa, porque experimentamos pela primeira vez as maravilhas de viver sozinho. basicamente, the world is your oyster, ou seja, estamos a retirar tudo o que queremos da vida, da forma como queremos e quando queremos. nos "vintes", depois de muitos anos a obedecer às regras parentais, nós fazemos as nossas próprias regras. se quisermos ficar a dormir até ao meio dia num sábado, tomar o pequeno-almoço à uma da tarde, dormir mais um bocado, porque a noite foi "puxada", e almoçar apenas às seis, podemos fazê-lo sem recriminações. à noite, estamos novamente fresquinhos para repetir a dose. pois, os "vintes" não têm comparação com mais nenhuma época da nossa vida. os amigos são realmente amigos, aturam-nos tudo, embarcam em todas as nossas loucuras, não desperdiçam vinho nem palavras e são, acima de tudo, mais honestos e francos, sobretudo quando estão embriagados. é nesta altura das nossas vidas que descobrimos que os nossos amigos só dizem determinadas coisas quando estão "tocados", abandonando todas as camadas de timidez e preconceito para dizerem bacoradas como "tu és um tipo muito porreiro", ou "sempre achei que ficavas muito sexy com essas calças", ou ainda "fui eu que atropelei acidentalmente o teu gato". depois, vomitar nos "vintes" é de homem, ou um sinal de que nos estamos a tornar uns homenzinhos; vomitar nos "trintas" é deprimente, para quem vomita e para quem vê. uma noitada nos "trintas" é diferente. já existem horas para chegar a casa, temos sempre que conduzir até casa, o fígado já começa a dar de si e a "controlar" o que bebemos, até os amigos e as conversas são diferentes. nos "trintas" já não queremos dominar o mundo, marcar uma posição, falar mais alto do que os outros para impressionar a sala inteira; só queremos é ser bem atendidos e passar o mais despercebidos possível, sobretudo quando estamos num ambiente... cheio de "vintes". certamente que, quando andava pelos "vintes", pouca importância dava aos "trintas", porque na maior parte das vezes, nas saídas nocturnas, estavam sempre aquela mesa mais silenciosa, só se fazendo notar quando olhavam incredulamente para nós, os "vintes", na maior algazarra e animação. agora, os papéis inverteram-se. os "trintas" já nem querem sair à noite por se sentirem deslocados ou, lá está, por terem assumido outras prioridades na vida. esta transição não é visível a olho nu e muito menos palpável, mas acontece e marca decisivamente o adeus aos "vintes". nos "trintas", o mundo já não é a nossa ostra, no máximo é uma ameijoa, e o grande objectivo passa a ser, essencialmente, a gestão desse grande empreendimento chamado família. a tendência é, quer se queira, quer não, termos outros amigos, com as mesmas prioridades e estilo de vida, pessoas que nos compreendam e respeitem a nossa "missão". agora, em vez de estarmos às 4 da manhã a beber mais um shot, estamos na cozinha a preparar um biberon de leite. os "trintas" demoram um pouco a resignar-se, mas quando se conformam é para o resto da vida. regressar aos "vintes", só num de lorean, como no "regresso ao futuro"...
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2 comentários:
OH my God!!!! é assim tão assustador ser um "trinta" como tu? ainda bem que ainda tenho uma década pela frente...
A sorte é que a seguir vem a tal ternura...
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