sexta-feira, março 13, 2009

como se mata uma língua

é fascinante constatar que as pessoas que lidam diariamente com os meus filhos, seja na escola ou no atl, não sabem falar correctamente. é fascinante fazermos os possíveis em casa para que eles falem em bom português, corrigindo-os quando é necessário fazê-lo, e depois, quando os vamos buscar àquelas instituições, ouvimos, em meia dúzia de minutos, dezenas e dezenas de "agressões" à língua portuguesa. ele é "ouvistes", "pedistes", "vistes", "eles há-dem ver", "esteja-mos", "ganhe-mos"... é um fartote. qualquer dia ainda começam a pensar que quem fala mau português somos nós, lá em casa, tal é a quantidade de gente que os rodeia que fala da mesma maneira, ou seja, mal. os papéis afixados nas paredes dessas instituições são outro pesadelo. geralmente, não há um único que não tenha um erro ortográfico. o mais frequente é o "ás" em vez de "às", como em "a reunião vai ter lugar "ÁS" 14h30". é sempre, não falha. mas há mais: "maioritáriamente", "convoca-mos", etc.. então quando o problema chega aos professores o caso é ainda mais grave. a professora da 4ª classe do meu filho, que já vem do ano passado, dá sempre o mesmo erro ortográfico aquando das notas no final de cada período. escreve ela que "a caligrafia do pedro é muito INSERTA". uma vez ainda se desculpa, podia ter sido distração, mas três vezes...
obviamente, culpo os directores das escolas e dos atl's que contratam pessoal sem se darem ao trabalho de aferirem se essas pessoas falam e escrevem correctamente. é que, por amor de... seja lá quem for, essas pessoas vão passar o dia com crianças. que aprendizagem lhes vão dar? se as crianças ouvem "ouvistes", vão dizer sempre "ouvistes". se ouvem "há-dem", vão dizer sempre "há-dem". é que são oito horas por dia, cinco dias por semana, a ouvir isto, e as crianças, nesta idade, assimilam tudo o que ouvem e como são pessoas adultas a dizer elas acreditam que é mesmo assim que se fala. felizmente não aconteceu com o meu filho, que já vai fazer 10 anos, nem agora com a minha filha, quase a completar 4, porque tanto eu como a minha mulher temos essa preocupação de os corrigir, sempre tivemos e iremos ter, e eles confiam em nós e não se deixam influenciar por mais ninguém. agora, quando ouço outros pais, quando vão buscar, como eu, todos os dias, os seus filhos ao ATL, a dizerem "então, que fizestes hoje?" ou "que filme é que vistes?" perco totalmente a esperança. algo está mal, certamente.
como pai, acho isto terrível, uma péssima forma de introduzir as crianças no mundo escolar, quando passam o dia com pessoas que não sabem falar, basicamente. o problema passa, de geração em geração, e ninguém evolui neste aspecto. chega a ser assustador. creio que daqui a uns 20 anos vão ser mais as pessoas que falam mal do que as que falam bem. e depois vão ser as que falam bem as recriminadas... é triste!

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