quarta-feira, outubro 04, 2006
revistas femininas
há dias acompanhei um amigo a um laboratório de análises clínicas. ainda estivemos por lá uma meia hora, espaço de tempo que eu aproveitei para folhear algumas revistas expostas na sala de espera. a predominância literária ia claramente para as revistas femininas e cor de rosa. as revistas femininas, activa, máxima, cosmopolitan, vogue, etc., são o género jornalístico com mais "certezas" e "verdades inquestionáveis" por metro quadrado. elas dão conselhos de beleza, dicas sobre os melhores acessórios, a lingerie mais adequada para qualquer situação. enfim, todas as mulheres (sim, mesmo a teresa guilherme e a odete santos) podem ser belas e charmosas se seguirem os conselhos da revista sobre os cuidados de beleza feminina. é fácil ser bonita, perder a celulite em duas semanas, as rugas em dois meses, etc.. curiosamente, quase sempre os editoriais destas revistas apregoam que só os homens insensíveis acham que as mulheres precisam de ser bonitas...
depois lá estão sempre as mesmas rubricas em todas: os editoriais desprovidos de conteúdo, que se acabam de ler e cinco minutos depois já não nos lembramos de nada (se os editoriais servem para marcar uma posição redactorial, para assumir ideias, para quê este esmero com que nas revistas femininas se produzem editoriais sobre coisa nenhuma, verdadeiro pudim de banalidades a demonstrar como a escrita pode ser uma coisa rigorosamente inútil?); a secção "mulheres que se destacam" ou "mulheres que são notícia", como se elas fossem uma raça inferior e seja necessário realçar quando efectivamente conseguem algum protagonismo; os artigos de opinião de cerca de meia dúzia de indefectíveis, com tempo de antena em todas as revistas do género: rita ferro, margarida e clara pinto correia, margarida martins, margarida rebelo pinto (e já vou na terceira "margarida"!); as "reportagens" sobre temas da sociedade que afectam as mulheres, do género "recomeçar aos 40", "sexo no emprego", "apaixonei-me pelo meu melhor amigo", "como combater a rotina", etc., tudo baseado em "testemunhos" palpitantes e espontâneos, dum realismo impressionante, de pessoas como a "maria, 36 anos, enfermeira", "ana, 44 anos, veterinária" ou a "justina, 31 anos, secretária" (será que estas pessoas existem mesmo ou são apenas alter egos da redactora do texto?). a receita consiste em pôr na boca das imaginárias fontes o que as leitoras gostariam de dizer, sem se atreverem a tal.
outro tema sempre presente é o sexo. não pode faltar. a eterna questão do prazer feminino continua a ser a inspiração para milhares de textos. dá a impressão que esta gente quer transformar o sexo numa ciência exacta, com laivos de tese de doutoramento. no futuro teremos uma geração de mulheres que vai para a cama com o código dos direitos sexuais femininos e anuncia, logo de entrada: "fica sabendo que as minhas zonas erógenas são aqui, ali e acolá, o vocabulário que me excita é este e não aquele, o meu orgasmo é do tipo clitoridiano e, segundo o meu médico assistente, o meu tempo médio de aquecimento é de 11 minutos e quarenta".
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2 comentários:
eu nem perco tempo com essas revistas... até porque têm uma balela de mentiras! perder a celulite em 2 semana... yeah right, completamente impossível!!!
beijos
Já estive quase, quase, quase para escrever um post sobre revistas femininas. Depois desisti. Não lhes resisto. É o meu lado fútil.
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