quarta-feira, janeiro 11, 2006

nascente das minhas ilusões

A nascente das minhas ilusões

Tinhamos a inocência na alma, retratada nos rostos

sem uma ruga de enfado, um esgar de cansaço!
Fervíamos na imaculidade da paixão
que não comportava a hipocrisia do interesse
ou intenções duvidosas de instintos perversos.

Ficávamos contentes só de nos vermos,

estarmos juntos, mesmo calados a contemplar a natureza,
a escutar o murmúrio dos pássaros,
das árvores e da água das fontes que saltitava dos veios rochosos,
felizes porque só conhecíamos o encanto
e nada nos matava a certeza do dia seguinte!

Tinhas a frescura da Primavera, a beleza do nascer do sol

e a elegância de um cisne altivo!
Os teus olhos reflectiam candura e pureza,
envoltos nesse oceano castanho de longos cabelos,
em cujas águas me perdi!

Deitados na relva, contemplávamos o majestoso céu

que parecia sorrir para nós, ordenando a Van Gogh idílicas pinturas,
a Rimbaud que declamasse um poema
e a John Lennon que escrevesse a mais bonita das músicas!

Foste a nascente das minhas ilusões,

o lapso de tempo que queria imutável
e a sensação intensa que desejava insuprível!

Agarrado aos fiapos da tua imagem,

acordei diante da minha solidão.
Perdi-te como se perdem todas as quimeras:

sem perceber os fios das teias
que me enredaram na tua imagem.

Neste sonho foste memória viva!
Agora, acompanhado por uma sombra vitalícia de tristeza,
só esta saudade de ti me alimenta o tempo...
Amei-te! Amei-te tanto que ainda julgo que nunca te perdi!


J.A.L.
Junho 2004

1 comentário:

Anónimo disse...

Há que aproveitar as paisagens, em busca de caminho para o jardim secreto...

Mas a sua beleza só dura enquanto for contemplado...

Sirc