"se estás a ler esta carta é porque já fui desta para melhor. adiantei-me a ti, será a primeira vez que isso acontece. não tenho nada a escrever que não saibas já.
no dia em que esperei por ti no meu carro, sabia que não regressarias, que era pouco provável que voltasses. foi esse pouco que me impediu de arrancar imediatamente. "ela não vai voltar, não me resta nada".
tive tantas saudades tuas. e aquilo ainda estava a começar. os nossos hotéis, o amor à tarde, tu debaixo dos lençóis... serás para sempre todos os meus amores. o primeiro, o segundo, o décimo e o último.
serás para sempre as minhas recordações mais belas. as minhas grandes esperanças. nunca esquecerei aquelas cidades de província que se tornaram capitais mal tu pisavas os seus passeios. as tuas mãos nos bolsos, o teu perfume, a tua pele, os teus lenços, a minha terra natal.
meu amor.
viste? não te menti, deixei-te um lugar ao meu lado para a eternidade. pergunto a mim mesmo se lá no alto continuarás a tratar-me por você.
não te apresses, eu tenho todo o tempo. aproveita um pouco mais o céu visto de baixo. aproveita sobretudo as últimas neves. até já.
de gabriel prudent para irène fayolle
"changer l'eau des fleurs" - valérie perrin
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