terça-feira, maio 23, 2023

Fragas de São Simão. Figueiró dos Vinhos



encontrei-as hoje. são dois sinais inequívocos dos bons velhos tempos, das aventuras intrépidas sem receios ou problemas de qualquer espécie. traçava-se um destino, estudavam-se os trajetos, as estradas, consultavam-se as condições meteorológicas e partíamos, com várias certezas na bagagem. era um dado garantido de que ia correr tudo bem, que iríamos ficar maravilhados com os locais escolhidos, que nos iríamos surpreender a nós próprios a nível físico, porque nunca demos um sinal de fraqueza nestas empreitadas, e que no final iria prevalecer um enorme sentimento de regozijo e orgulho pelo objetivo alcançado. 

foi isso que aconteceu nestas fragas de são simão, onde, inclusivamente, posámos para algumas das melhores fotos que tirámos em conjunto, graças a uma solícita turista que estava na praia fluvial. uma aldeia de xisto, deserta mas bem conservada, e dois miradouros de cortar a respiração. obviamente, a máquina fotográfica não teve tempo para descansar (nem nós, com tantas subidas e descidas). 

antes desta aventura, um episódio hilariante, em figueiró dos vinhos, onde nunca tínhamos estado. a escolha do local para almoçarmos não foi fácil, desde restaurantes vazios e de aspecto manhoso a outros que não conseguimos encontrar via gps. estacionámos e fomos a pé até ao centro da localidade. entrámos num restaurante, onde comemos muito bem, que tinha essa curiosa particularidade de também vender, no mesmo espaço, facas, facalhões e cutelos. um restaurante à moda antiga, portanto. no final, sendo sexta-feira, fomos jogar no euromilhões e também me recordo de outro momento particularmente hilariante nesse outro estabelecimento. como é óbvio, não ganhámos nada, mas ficaram as risadas daquele momento.

ficam as memórias, agradáveis e duradouras, de mais uma jornada pensada e executada tal como a imaginámos, como aconteceu noutras paragens por este país fora (sistelo, foz do arelho, aveiro). chegava a ser comovente, confesso, o grau de cumplicidade que existia em todos as etapas preparatórias, o mesmo entusiasmo, a mesma ansiedade também. quando finalmente chegava o dia de executarmos tudo aquilo que planeámos durante semanas, a euforia, sim, euforia, era bem evidente em ambos os rostos. entregávamo-nos, de corpo e alma, à execução do plano, deixando obviamente espaço para o deslumbre, para a contemplação, para as centenas de fotografias, para o estudo do local, dos seus recantos, as vistas, os encantos, a paz e a serenidade que nos inundava nesses momentos. apesar do cansaço provocado pelo calcorrear das ditas fragas, era imensa a felicidade pela meta alcançada e por termos verificado e apreciado in loco todas os atributos do local. 

nos momentos mais duros da estimulante escalada, bem como para evitar escorregadelas nas descidas, estávamos lá um para o outro, sabíamos que podíamos contar com a preocupação, a perspicácia, a entrega e a determinação de quem estava ao nosso lado. era algo para vencermos em conjunto, como casal, como amigos verdadeiros, como apaixonados pelas caminhadas, pelos trilhos e pela actividade física, sobretudo aquela que nos leva a conhecer destinos turísticos fantásticos neste nosso país.

foi em junho de 2022. com estes instantâneos, tirados sem o meu conhecimento (e ainda bem, porque detesto posar para fotografias), recordo tudo aquilo que merece ser recordado. como este episódio, muitos e muitos mais houve dignos dessa validação. é isso que fica, a memória, uma das minhas poucas virtudes. mas que diabo, se a tenho realmente, há que usá-la em conformidade, privilegiando as largas centenas de inesquecíveis momentos, que se viviam com um enorme sorriso dentro de nós, aquele estado de espírito que nos colocava com pele de galinha, emocionalmente arrepiados, como quando partilhávamos uma música, uma dança (foram poucas, infelizmente), um olhar, um sorriso envergonhado, no fundo, uma certeza. partilhámos essa certeza durante muito tempo e carregamo-la para todos os locais onde fomos. era ela que nos dava força, que nos impelia a fazer tudo aquilo que tínhamos previamente combinado, fosse onde fosse, quando fosse. tenho muito orgulho, mesmo um orgulho desmedido, por ter feito parte de algo assim! é algo que nunca se vai desvanecer...

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