sábado, maio 27, 2023

a barra que nunca foi pesada...


 


nunca fui um grande adepto de praia, confesso, e por vários motivos. toda a logística relacionada com o guarda-sol, o incómodo da areia, o facto de nunca arranjar posição para me estender (de costas, de lado, de barriga para baixo...), colocar o protector solar, ficar com as mãos todas peganhentas, toda a poluição sonora à volta, os vendedores de bolinhas, etc. além disso, ir à água é sempre uma aventura, porque se o mar não estiver calminho, nunca me atrevo a deixar a água passar acima da cintura. mas sim, eu sei que faz bem, a importância do iodo, bem como o jackpot químico que por lá consumimos: cloro, sódio, magnésio e potássio.
apesar de tudo isto, não nego que a praia tem os seus encantos, sobretudo fotográficos. com muito cuidado, para não encher a máquina de areia, ela oferece uma diversidade riquíssima de pormenores, das ondas às gaivotas, das dunas ao pôr do sol, a preto e branco ou a cores. sempre me deliciei a tirar fotos neste contexto e essa é uma das características relacionadas com a praia que mais prezo.
as outras prendem-se com as pessoas que estiveram ao meu lado. quando ia com os meus filhos, era sempre uma galhofa completa. não sou daqueles que ficam pasmados a torrar ao sol, inerte e adormecido, antes pelo contrário, gosto de estar sempre em movimento (lá está, também pelo facto de nunca conseguir arranjar uma posição confortável na toalha). com o pedro e a mariana por perto, isso estava garantido. jogávamos futebol, fazíamos castelos, pistas de carros, escavávamos buracos para os transformar em piscinas com a água do mar, enfim, uma caterva de situações. claro que tinha de ir carregado para a praia com dezenas de brinquedos, mochilas, sacos, bolas, etc., mas era o preço a pagar para garantir o divertimento.
mais recentemente, e, por consequência, mais velho também, as prioridades começaram a ser outras numa ida à praia. a leitura, a observação, a contemplação da pessoa que tinha ao lado, a procura de enquadramentos para fotos e uma ida à água para arrefecer o corpo, esporadicamente. recordo-me muito bem de um ciclo de sextas-feiras, em que saíamos de viseu ao fim de almoço, chegávamos à praia da barra numa hora e lá ficávamos até às 20h00/21h00. como habitual, tínhamos as nossas rotinas e como era sempre tudo tão gratificante e prazeroso, mantivemo-las. chegar, estacionar, escolher lugar no areal e usufruir da praia durante algumas horas. depois, vinha o resto. arrumar tudo novamente, deixar ficar a habitual nota de 500 euros (inside joke) e subir o areal na direcção do makay, a nossa esplanada de eleição.
duas pessoas em paz, serenas, a contemplar o mar, o areal, o sol a baixar até ficar laranja, numa esplanada, caipirinhas à frente (sempre, não poderiam faltar neste quadro idílico!), a petiscar algo que servisse de jantar. poderia muito bem ser uma epítome de paraíso, de felicidade completa, partilhada e sentida exactamente da mesma forma. o proprietário já nos conhecia, sentíamo-nos ali em casa. e sim, foi sempre tudo perfeito! sempre! as bebidas, a comida, o atendimento, e nós lado a lado, como fazíamos questão de estar, tu do meu lado direito e eu do teu lado esquerdo. lado a lado, e não frente a frente, porque assim era mais fácil o beijo, o agarrar de mãos, o toque, o passar as mãos pelo cabelo dela (e que cabelo, meu deus), enfim, a contemplação, o deslumbre. se ela era linda em todos os momentos, ali, naquele momento, com o pôr do sol como protagonista, ela era sublime, encantadora, irresistível! fotografei com a mente vários instantes dessas idas ao makay. fomos muito felizes naquela esplanada! muito mesmo!
mas tínhamos ainda outra rotina, mal saíamos da esplanada. aproveitando o pôr do sol, e de máquina fotográfica em riste, não me cansava de lhe tirar fotos, que eram sempre às centenas. enquanto calcorreávamos os passadiços nas dunas, ia procurando o melhor enquadramento, a melhor tonalidade de luz, a melhor forma de fazer justiça a tudo aquilo que os meus embevecidos olhos viam. cheguei a dizer isto várias vezes, nada me dava mais prazer do que aquilo, aqueles momentos, aquela cumplicidade. ela sabia o que eu queria, não tinha de lhe dizer nada, bastava disparar. sabia que o resultado final iria ser excelente. só poderia ser, com todos aqueles condimentos: praia, pôr do sol, mar, dunas e ela, a pessoa a quem tirei mais fotografias até hoje. não posso jurar, mas creio que lhe devo ter tirado mais de 5 mil fotografias. mesmo assim, foram poucas...
portanto, dois relatos completamente diferentes das minhas idas à praia, mas ambos igualmente doces, ternurentos e inesquecíveis, pela avassaladora felicidade que me deixaram!

(as fotos são de 2020 e fazem parte do ciclo descrito acima)

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