quinta-feira, março 24, 2022

the falling leaf that never tries to hold on to what keeps it alive


 há algo de reconfortante no vislumbre de uma meteorologia perfeita para os nossos estados de espírito. noite cerrada, o prazo do jantar já prescreveu há muito mas é substituído pela confiança no dever cumprido.

fecho a porta com as quatro voltas habituais, desço as escadas e vou preparando o telemóvel e os phones para a caminhada que me levará até casa. a rotina ensinou-me que haverá sempre lugar a duas músicas no trajecto, mas gosto de escolher a função aleatória da apresentação das músicas. no meio da minha tão intrínseca rotina, também deverá haver espaço para algum resquício de surpresa.

saio do prédio, detenho-me à beira do passeio enquanto o telemóvel, na sua lentidão exasperante, rasteja até à aplicação que utilizo. coloco os phones nos ouvidos, aperto o casaco e ajeito o cachecol, que se detém no último patamar antes do asfixiamento.

olho em volta antes de começar a caminhar. pavimento molhado a reflectir as luzes dos carros e das lojas, frio suportável e ruas semi-desertas. tenho direito àquela "chuva molha tolos", miudinha, suave, que sempre me soube bem. a música começa e inicio a minha caminhada, mãos nos bolsos das calças, mochila às costas.

"salty seas", dos devics, num daqueles momentos perfeitos e de simbiose entre música, meteorologia, estado de espírito, luzes, noite, estradas e passeios molhados. ouvi uma vez. fixei o verso "the falling leaf that never tries to hold on to what keeps it alive". tinha tempo para mais uma música. carreguei em "repeat"...

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