domingo, março 27, 2022

festejos a dobrar no dia 27 de março
























durante a nossa existência, coleccionamos datas memoráveis e comemoramos aniversários, procurando ter cada vez mais motivos para assinalar e para festejar. eu não tive sorte nesta última vertente, porque ao invés de ter duas datas, igual ao número de filhos, tenho apenas uma, porque eles fizeram questão de nascer no mesmo dia, com seis anos de diferença. portanto, 27 de março é a minha estreia como pai e, ao mesmo tempo, a despedida. abri e fechei a conta no mesmo dia. curiosamente, nenhum deles deveria ter nascido neste dia. o
Pedro Lopes seria uma semana antes e a Mariana Lopes uma semana depois.

entretanto, quase num ápice, passaram 23 anos. felizmente, tenho uma excelente memória e lembro-me de quase tudo, porque vivi a paternidade com entusiasmo, empenho e compromisso. apesar disso, ao rever a caterva de fotografias digitais que possuo, no sentido de escolher 23 fotos para ilustrar esta publicação, não conseguir evitar uma lágrima ou outra, porque gostei mesmo muito de os ver crescer, de ouvir as primeiras palavras, de os ver a caminhar pela primeira vez, de os adormecer ao colo com as minhas músicas de fundo. o tempo voou (ou voámos nós por ele, como disse há dias uma amiga que a chuva trouxe de volta...) e hoje eles aí estão a comemorar juntos mais um aniversário!

é um avassalador orgulho ter sido e ser pai deles, todos os dias, e vê-los felizes e saudáveis, porque são a minha maior realização pessoal como ser humano! liguei-lhes à meia-noite, já lhes dei os parabéns verbalmente, mas fica aqui a minha homenagem a ambos, porque para eu sentir que fui e sou um bom pai, eles também tiveram e têm de ser bons filhos! e eles sempre o foram...

quinta-feira, março 24, 2022

the falling leaf that never tries to hold on to what keeps it alive


 há algo de reconfortante no vislumbre de uma meteorologia perfeita para os nossos estados de espírito. noite cerrada, o prazo do jantar já prescreveu há muito mas é substituído pela confiança no dever cumprido.

fecho a porta com as quatro voltas habituais, desço as escadas e vou preparando o telemóvel e os phones para a caminhada que me levará até casa. a rotina ensinou-me que haverá sempre lugar a duas músicas no trajecto, mas gosto de escolher a função aleatória da apresentação das músicas. no meio da minha tão intrínseca rotina, também deverá haver espaço para algum resquício de surpresa.

saio do prédio, detenho-me à beira do passeio enquanto o telemóvel, na sua lentidão exasperante, rasteja até à aplicação que utilizo. coloco os phones nos ouvidos, aperto o casaco e ajeito o cachecol, que se detém no último patamar antes do asfixiamento.

olho em volta antes de começar a caminhar. pavimento molhado a reflectir as luzes dos carros e das lojas, frio suportável e ruas semi-desertas. tenho direito àquela "chuva molha tolos", miudinha, suave, que sempre me soube bem. a música começa e inicio a minha caminhada, mãos nos bolsos das calças, mochila às costas.

"salty seas", dos devics, num daqueles momentos perfeitos e de simbiose entre música, meteorologia, estado de espírito, luzes, noite, estradas e passeios molhados. ouvi uma vez. fixei o verso "the falling leaf that never tries to hold on to what keeps it alive". tinha tempo para mais uma música. carreguei em "repeat"...

sexta-feira, março 18, 2022

segunda actuação ao vivo das vansick, o mesmo sucesso!








feito! concerto número dois despachado!
hoje foi na escola emídio navarro, num auditório completamente cheio. as Vansick foram as últimas a actuar, interpretando as músicas "zombie", dos cranberries, e "quem és tu miúda?", dos azeitonas. ao contrário da alves martins, hoje houve tempo para um encore, pedido em uníssono pelo público. foi tempo de estrear ao vivo um original da banda, "american dream". foi mais uma demonstração do querer, do saber fazer e do "vamos em frente que a vida são dois dias". o talento não se deve esconder numa envergonhada timidez; deve-se libertar e deixar andar à solta.
mais uma vez, Mariana Lopes, o mesmo orgulho, a mesma satisfação, o mesmo encanto e embevecimento! já estou ansioso pelo próximo...

domingo, março 06, 2022

aprender a andar de bicicleta sem rodinhas...


para um indivíduo claustrofóbico como eu, as escadas são sempre a melhor solução. os elevadores nunca foram opção, porque aquela sensação de estar preso dentro de quatro paredes, num espaço minúsculo, sem que dependa de mim a resolução do problema, caso este se manifeste (falta de electricidade, avaria, etc.), não se coaduna com a minha superlativa ansiedade. ou seja, venham de lá essas escadas, sem receio algum. aliás, a partir do momento em que, na minha alta hospitalar, em setembro do ano passado, após cinco dias de internamento e com claras debilidades físicas, decidi ir pelas escadas do sétimo andar para o rés-do-chão... creio que não será preciso mais nada para reforçar este aspecto.

os degraus que tenho vindo a subir desde agosto, no sentido de um completo restabelecimento de uma insuspeita e repentina falência renal, conheceram na última semana importantes desenvolvimentos. aquilo que colocaram dentro do meu corpo, mais concretamente nos rins, para estabilizar a minha situação, ou seja, um duplo jota, foi-me retirado no passado dia 3 de março. foi colocado em coimbra, no dia 28 de agosto, e foi retirado agora, em viseu. seis meses e 3 dias depois... 

enquanto o tive dentro de mim, e só no dia em que o tiraram fui capaz de ver a sua extensão (não estava à espera de algo tão extenso...), porque a primeira cirurgia, em coimbra, foi com anestesia geral, não consegui esconder o desconforto que me provocava, as dores, as constantes impressões na bexiga, o peso, o facto de não conseguir caminhar mais de 10 minutos sem me cansar como se tivesse acabado de correr uma maratona. apesar disso tudo, sabia que era para o meu bem, porque o duplo jota estava a impedir que os meus rins bloqueassem novamente, esse "pequeno" pormenor que me levou a ser intervencionado de urgência em coimbra. 

olhando para essa curiosa "ferramenta", o citado duplo jota, e depois das lancinantes dores que a intervenção me provocou, desta vez com anestesia local, concluí que seria impossível não ter os sintomas que tive durante seis meses. quando me falaram do duplo jota, pensei que seria algo com uns 10 centímetros no máximo. mas tinha o triplo do tamanho que eu pensava. mas, verdade seja dita, cumpriu a sua função. isso, aliado à forte medicação que tomei durante seis meses para destruir as pedras que me bloqueavam os dois rins, resolveram, para já, o problema. sofri a bom sofrer, mais agora, até, do que em agosto, porque aquela intervenção para retirar o duplo jota não teve, até hoje, qualquer paralelo em termos de intensidade de dores e da mais dilacerante agonia. mas está feito!

esta nova fase, que agora começa, será semelhante àquela em que começamos a aprender a andar de bicicleta sem rodinhas. após três dias em casa, já fiz uma caminhada. primeira diferença: não tenho nenhum daqueles sintomas provocados pelo duplo jota que citei acima. mas vou andar mais preocupado, porque, agora, os rins podem voltar a bloquear novamente. já não há as tais rodinhas...

mas é um processo e uma nova escadaria para subir, sem receios, com redobrado prazer pela vida e com renovada vontade de viver bem e sem dores!

certeza inabalável


 

devo ter feito alguma coisa bem, quando confirmei ontem estes mesmos sorrisos doze anos depois desta fotografia. posso ter feito muita coisa mal, posso ter errado centenas de vezes, tomado más decisões, optado pelo caminho/postura/comportamento errado, mas tenho a certeza de que, em relação a estes dois doces seres, posso ficar de consciência tranquila. dei-lhes aquilo que tenho de melhor e estou convicto de que eles estão a utilizar o que receberam de mim da melhor forma, nos seus percursos individuais. espero nunca lhes falhar, nunca lhes faltar e que nunca se sintam defraudados comigo, nem sequer em relação às minhas proezas gastronómicas. continuem a ostentar esse sorriso. sempre!