não sei, se calhar fiz tudo mal. caramba, se nem no facebook tenho "saída" o que me
restará? é certo que fico com a distinção de ter sido o primeiro blogger a
iniciar um post com as palavras "não sei", mas é nitidamente pouco para quem,
nesta altura da vida, esperava já ter realizado pelo menos sete dos seus
quatrocentos e vinte e oito sonhos. a vida é feita de círculos e de ciclos.
temos determinado círculo de pessoas à nossa volta em determinado ciclo da nossa
vida (e prometo que vou deixar de escrever a palavra "determinado"). passando
esse ciclo, o círculo de pessoas desaparece. no fundo, são etapas de vida,
camadas de experiência por que temos de passar, como tomar banho aquando do
baptizado, com água fria, ainda por cima, aprender a andar de bicicleta e,
consequentemente, aprender a não gritar quando a mãe nos coloca álcool nos
joelhos esfolados, ir à escola, começar a namorar, ir à escola porque nos
esquecemos lá do porta-lápis, a alegria de termos um quarto só para nós, a
imposta responsabilidade de termos de o arrumar sozinhos, ir à escola porque nos
esquecemos lá da namorada, ir para a universidade ou, transversalmente, para
arrumador de carros, começar a trabalhar, casar, ter filhos, ir à escola porque
nos esquecemos lá do filho, passar pela famosa crise de meia-idade, comprar um
porsche, quando se pode, para disfarçar a crise da meia-idade, ser avô e, com
sorte, bisavô e, finalmente, morrer. e o que fica desta vida? o raio do
porta-lápis que ficou na escola.
sim, não há dúvidas que as pessoas que nos
rodeiam são essenciais. imaginem o que seria passar a adolescência tendo como
amigos de escola o cláudio ramos, o nuno eiró e o daniel nascimento. é claro que
não podemos encomendar por catálogo as pessoas que queremos conhecer, caso
contrário todas as mulheres escolheriam o george clooney ou o johnny depp e os
homens optariam pela filha do nené ou pela betty grafstein. elas surgem de
repente, caem de pára-quedas nas nossas vidas, sem pré-aviso que nos permita, ao
menos, tomar banho antes. depois, como é natural, entra em campo o nosso
rigoroso sistema selectivo, que faz com que fiquemos naturalmente com as pessoas
com quem mais nos identificamos (ou que tenham seios grandes, é opcional) e
deitemos fora as outras, as chatas, as inoportunas e as falsas (e as que nem de
calças de licra bem apertadas fiquem minimamente atraentes). depois, quando nos
dá para a introspecção, como num qualquer dia de aniversário, olhamos para trás
e vemos que ainda nem levantamos a mesa do jantar. depois disso, continuamos a
avaliar intensamente o nosso percurso ao longo de meia vida. afinal, segue-se a
etapa da crise da meia-idade e eu não tenho dinheiro para um porsche, nem para
um renault clio ou um smart. com sorte, consigo comprar um datsun 1200 de 1982
num sucateiro. a questão é esta: estarei devidamente preparado para esta crise?
e ainda posso colocar mais algumas questões pertinentes, como estas: o que
hei-de vestir? o que levo para comer? fará frio ou calor? conseguirei destrocar
uma nota de 200 euros? não faço a mínima ideia de que forma vou enfrentar tudo
isto.
o que é suposto eu fazer na minha crise de meia-idade? vestir-me como
se tivesse 19 anos? fazer desportos radicais? ver os morangos com açúcar? andar
na rua sempre com o mp3 a bombar nos ouvidos? visitar os pais só para poder sair
disparado de casa deles a vociferar "nesta casa ninguém me entende"? não sei. só
sei que por esta altura se começa, efectivamente, a ver o tempo fugir-nos e
queremos aproveitar ao máximo tudo aquilo a que ainda temos direito. que
diabo, até já comi sushi. não quero morrer ignorante. "então meu amigo, gostou da
vida que levou?", pergunta-me o s. pedro. "gostei, foi interessante",
respondo-lhe eu. "experimentou tudo? plantar uma árvore? ser pai? sexo com
gémeas polacas? tiramisu? por-do-sol na praia? sushi?", volta a perguntar o
barbudo. "bolas, sushi, eu sabia que me faltava alguma coisa...". pois, era
chato pedir ao homem para vir cá abaixo só para experimentar sushi. mas há ainda
uma imensidão de coisas que ainda quero fazer, como ir à pesca. nunca fui mas
sempre quero saber qual é a "pica" que se tira daquilo, do facto de se estar
sentado largas horas com uma cana de pesca nas mãos. deve ser giro. ou talvez
não. também gostava de ser comentador desportivo de voleibol de praia feminino.
ou de ténis feminino. gostava de ir a itália, mas de avião nem pensar, só de
comboio. gostava de ver ao vivo um jogo do campeonato inglês, se bem que isso
seja praticamente impossível, só pedindo às equipas e aos adeptos para se
deslocarem a portugal ou, vá, à espanha. ainda quero ver muitos concertos
musicais, cantar ainda muitas vezes os parabéns aos meus pais e assistir ao
crescimento dos meus filhos ao lado da minha mulher. são já vinte e quatro os anos ao seu
lado, mais de metade da minha vida, em que a passagem do tempo apenas a tornou,
ano após ano, ainda mais resplandecente aos meus olhos. tenho muitas dúvidas em
relação a diversos aspectos do meu futuro, mas sei perfeitamente que nunca me
vou cansar de olhar para ela. essa é a única certeza.
o futuro não me
assusta. independentemente dos ciclos que aí venham, bons ou maus, conto com o
apoio do meu círculo, nas alegrias e nas vitórias, nas tristezas e nas derrotas,
e, essencialmente, para me ajudarem a encontrar as tais gémeas polacas...
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