quinta-feira, abril 22, 2010
o que se ouve por cá
pois é, são os tais ciclos. há alturas em que, à falta de melhor, uma pessoa se vira para a música como o fernando mendes para um prato de comida. apetece descobrir novas sonoridades, investigar as letras das músicas, vibrar com uma canção que depois nos fica na cabeça durante dias, como foi (e continua a ser) o caso de "once we walked in the sunlight", dos papercuts, que já coloquei no blogue. antes disso, deste novo ciclo, a minha assolapada paixão, num regresso ao início dos anos 90, pelos cranes. durante duas semanas não ouvi outra coisa. recordar temas como "far away", "future song", "fragile", "flute song", "tomorrow's tears" e "sunrise", bem como descobrir temas que desconhecia, como "paris and rome", todas elas músicas deliciosamente deprimentes, inebriaram-me de tal forma que já ouvia a voz de alison shaw em todo o lado.
lentamente, fui saindo dessa letargia "craniana", que ainda não passou totalmente, e decidi então desbravar caminho, à procura de coisas novas para adorar. o meu guia foi, como costuma ser, o site all music, que indica sempre, em todas as bandas, as influências e os artistas similares. fui por aí. comecei com uma banda chamada rogue wave, com o disco "out of the shadow". músicas simples, de consumo rápido e fácil apreensão. um pouco parecido com bandas como great lake swimmers ou noah and the whale. é bom, sim senhor, mas passados poucos dias já nos enchemos. passei então para os papercuts. apreciador do disco anterior desta banda, "can't go back" (2007), a banda liderada por jason robert quever não defraudou as expectativas no novo registo discográfico, lançado em abril de 2009. "you can have what you want" é o nome do disco, que começa precisamente com a acima referida música "once we walked in the sunlight". melhor arranque seria difícil de imaginar. o all music diz que os "papercuts make the kind of albums that are easy to ignore or write off as simple and unchallenging indie pop". lá está, enquanto os rogue wave nada tinham de "challenging", os papercuts criam ambientes mais intimistas e muito mais eloquentes instrumentalmente. "the smooth textures and gentle surfaces of the production, the breezy melodies of the songs, and the quiet sweetness of jason quever vocals and lyrics don't overwhelm or stand up and demand attention; instead they kind of seep into the pleasure center of your brain if you want them to". sim, e eu quero! e o disco é, de facto, muito bom. e, acima de tudo, é daqueles que não enche imediatamente. ouve-se com satisfação várias vezes. passa, dessa forma, com distinção, o teste da saturação. "quever keeps things pretty obscure and hinted at; he's not beating you over the head with any great statements. again, he's letting the message sneak into your brain quietly and wrapping it in lovely arrangements that would sound good no matter what he was singing about". exactamente.
na apreciação a este disco dos papercuts (a propósito, não se esqueçam igualmente de ouvir, se tiverem para aí virados, o tal disco anterior, "can't go back", que também é muito bom), surge uma comparação com bandas como grandaddy e midlake. como não conhecia esta última banda, decidi investigar. e reparem só na quantidade de bandas que eu aprecio que surgem na lista das bandas similares: shearwater, the flaming lips, fleet foxes, sparklehorse, iron & wine, papercuts e grandaddy. se a minha curiosidade já era grande em relação a estes midlake, então com estas referências todas ainda maior ficou. na discografia aparecem três discos: "bamnan and slivercork" (2004); "the trials of van occupanther" (2006) e "the courage of others" (2010). ouvi os três e, sinceramente, qual deles o melhor?! fiquei imediatamente rendido à potência daquele som e à voz de tim smith, embora as músicas custassem a entrar no ouvido, na mesma medida de "veckatimest", dos grizzly bear. do primeiro disco, o all music diz: "bamnan and slivercork sounds like a group of musicians trying to remake "pet sounds" and "sgt. pepper's lonely hearts club band" with toy instruments on a portable cassette recorder, that is, with even more impressionistic lyrics. it's a pose that requires the listener to be in on the joke. and now that you've been forewarned, you can go ahead and appreciate it for its offbeat charm". no segundo disco, uma clara viagem aos anos 70: "nothing that you'll be singing in the shower for days at a time, but each song goes down smoothly and they add up to make the trials of van occupanther a very pleasant, maybe even exciting in a restrained way, listening experience. you'll certainly find yourself reaching for it more often than you might expect; indeed, it has lasting power that many records that sound so good on first listen lack. midlake might be stuck in the '70s, but they make it sound like the best place on earth". o mais recente disco dos midlake, lançado em fevereiro deste ano, merece a seguinte apreciação: "tim smith and his crew of laid-back balladeers have created another mesmerizing, smoke-filled work of quiet beauty that may not exactly improve on "the trials of van occupanther", but does refine and focus their sound".
em suma, os midlake estão naquela categoria de bandas do género dos grizzly bear. ao início, o som até pode parecer um pouco estranho e custa a entrar no ouvido; mas quando se absorve o conteúdo e se vão, aos poucos, decorando as músicas, o alinhamento e as letras, é muito mais gratificante estes três discos. "challenging" indeed...
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