sexta-feira, março 05, 2010
a perfeição
sim, a perfeição existe. nós, os que estamos mais longe de a atingir, somos os primeiros a dar-lhe o devido valor. para se ser perfeito não basta fazer um esforço descomunal todos os dias para impressionar alguém, não chega fazer todos os possíveis para se ter sempre a melhor postura, decisão ou atitude. será perfeita a pessoa que menos esforço fizer para o ser. quanto aos outros, os que tentam desesperadamente chegar a esse patamar, através de todos os meios e do tal esforço descomunal, esses, no máximo, são perfeitos por um dia. no dia seguinte... tudo se terá esfumado e regressado à estaca zero. será como ter estado oito horas na praia a construir um majestoso castelo de areia, que toda a gente pára para admirar, e este ficar, em segundos, totalmente destruído pelo ímpeto de uma onda mais irritada. no dia seguinte, voltamos à mesma praia para voltar a construir um castelo, mas a motivação não vai ser certamente a mesma, porque sabemos de antemão que tudo o que vamos construir será novamente destruído por uma outra onda. de dia para dia, haverá cada vez menos vontade de se construir um novo castelo. até chegar o dia em que já nem nos apetece ir à praia. é muita fina a linha entre uma postura de querer agradar a toda a gente e uma de completa solidão e enclausuramento forçado e consciente, que resulta do facto de já não se suportar a presença de outro ser humano num raio de 2 metros. de vez em quando, olhamos de longe a tal praia, para os castelos que estão a ser construídos e admirados por toda a gente, e sentimo-nos frustrados por já não estarmos lá, no meio das outras pessoas, a tentar, a fazer um esforço para construir algo perfeito. mas, depois de tantas ondas, de tantos recomeçares, a vontade não é muita. o melhor será deixar as outras pessoas, as que ainda almejam a perfeição, o mais à vontade possível para poderem mostrar as suas aptidões, habilidades e virtudes. a ideia de recomeçar tudo, dia após dia, passando uma borracha sobre todos os dias que ficaram para trás, é cada vez menos animadora. atingir a perfeição, seja em que domínio for, ficará para aqueles cuja praia tenha as ondas mais inofensivas e suaves, que lhes permita construir não só um castelo mas tudo aquilo que se julguem capazes de fazer. afinal, são perfeitos e, como tal, podem fazer tudo, sabendo que a reacção vai ser sempre de admiração e espanto. enquanto isso, na minha praia, as ondas que se formam são cada vez mais ameaçadoras...
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1 comentário:
Ora aí está: a essência da perfeição (exterior)! Um castelo de areia é isso mesmo, lindo, esplenderosos, perfeito, mas...efémero e indefeso
às mãos de uma onda, mesmo que minúscula!
Por isso não conseguimos nós, comuns mortais, ser perfeitos! Precisamos de demasiadas conchas e pedregulhos para nos proteger, mas que acabam por estragar o arranjinho todo...
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