este está a ser um daqueles dias em que parece que se está a viver dois dias ao mesmo tempo. de manhã, ao acordar, neve abundante, estrada completamente coberta por um manto branco gelado e, acima de tudo, escorregadio. olhando pela janela, tudo era branco: telhados, árvores, pavimento... depois de uma infrutífera tentativa de sair de casa para trabalhar, uma manhã de espera de espera, basicamente, em casa. de cada vez que se espreitava pela janela, parecia que o branco se instalava ainda com maior intensidade. ora nevava com vigor, como se s. pedro estivesse a esfarelar esferovite, ora nevava mais suavemente, mas a estrada, essa, era cada vez mais perigosa e assustadora, conforme constatávamos ao ver vários carros a patinar e a deslizar incontrolavelmente.
o tempo ia passando, aproximava-se a hora de almoço. a neve teimava em cair, silenciosa e graciosamente. pela janela assistia-se a um espectáculo ambivalente. por um lado, a beleza dos flocos de neve a cair lentamente, numa imagem suavizadora e bela; por outro lado, o avolumar da preocupação de quem quer ir trabalhar e desconfia das condições do piso para se aventurar a conduzir.
lentamente, a estrada ia ficando cada vez menos branca. os carros, ao passar, esmagavam a brancura da neve contra o negrume do alcatrão. ao fim de almoço, a neve tinha deixado de cair. foi então que decidimos aventurar-nos, pela segunda vez, no mundo exterior. a estrada parecia segura, muito longe já do aspecto que tinha de manhã, da primeira vez que saímos de casa. nestas condições, já conseguimos ir trabalhar.
de tarde, nem sinal da neve. as nuvens foram escurecendo, a neve foi derretendo com a pequena subida da temperatura. ao sair do trabalho, nem parecia que, poucas horas antes, tinha estado a nevar copiosamente, porque não havia resquícios de neve. foi então que começou a chover, causa natural de um céu carregado, com as nuvens prontas a disparar. a estrada, essa, deixou de constituir qualquer perigo. saí de casa "com o coração nas mãos"; regressei a casa na maior das serenidades. de manhã, o pânico; à tarde, o sossego. parecia que aquele nevão todo de manhã tinha acontecido... no dia anterior.
dois estados de espírito antagónicos ao sair e ao regressar a casa. assistir à queda de neve em casa, pela janela, com a lareira acesa, sem qualquer perspectiva de sair de casa, é uma coisa. outra bem diferente é assistir ao mesmo cenário quando temos que pegar num carro, nessas condições, para ir trabalhar. amanhã, como é feriado e não qualquer intenção de sair de casa, já pode nevar outra vez. desde que, na quarta-feira de manhã, a chuva se encarregue de "limpar" novamente os vestígios da neve da estrada.
1 comentário:
Há dias assim...e não é preciso (des)aparecer neve para experimentarmos sentimentos tão antípodas! :)
Enviar um comentário