terça-feira, dezembro 08, 2009

de sorrisos amarelos a lágrimas de crocodilo em cinco segundos

depois de muitos anos a liderar as audiências televisivas em portugal, a sic parece não encontrar formatos apelativos que lhe permitam destronar a tvi, nomeadamente à noite. nenhum director de programas consegue encontrar antídoto para combater, no período das 21h30 às 00h30, três novelas seguidas, quase sem intervalos (naquela que deve ser, a nível europeu, a programação mais preguiçosa e oportunista de que há memória). o povinho também gosta, para além das novelas, dos programas da manhã e da tarde, em directo, onde desfilam os casos mais escabrosos, as histórias de puxar à lágrima, os cantores "pimba" (neste aspecto, o toy deve ser o mais requisitado. não há semana nenhuma em que o anafado cantor não apareça na televisão) e os casos mais flagrantes de "sorrisos amarelos" e "lágrimas de crocodilo" dos apresentadores, que conseguem fazer a transição de um momento mais delicado e emotivo para um sketch cómico ou um actuação musical com uma facilidade tremenda.
se na tvi há manuel luís goucha e cristina ferreira de manhã e júlia pinheiro à tarde, a sic tratou de arranjar rapidamente a mesma solução, colocando um "casalinho" de manhã, rita ferro rodrigues e francisco menezes, e uma "senhora" à tarde, fátima lopes. até aqui, tudo bem. o pior foi quando a "cópia" tentou ultrapassar o "original" pelos piores motivos. se goucha e cristina ferreira são estridentes, mais parecendo que estão numa marcha popular ou num espectáculo de revista, rita ferro rodrigues e francisco menezes ainda o tentam ser mais ainda. se júlia pinheiro se comove em directo com os seus convidades, fátima lopes tem que fazer mais: chorar em directo baba e ranho, porque isso dá audiências. foi o que aconteceu ontem, quando a convidada foi diana chaves e, a meio da entrevista, entrou em estúdio o pai da apresentadora/modelo/actriz. o progenitor da convidada discorreu longamente sobre as dificuldades de criar duas filhas sozinho, depois do falecimento da esposa. em letras grandes, no ecrã aparecia "diana chaves perdeu a mãe aos 11 anos", o pai falava normalmente, diana chaves escutava as suas palavras de uma forma contida e séria, mas fátima lopes tinha que fazer aquilo para que é paga. em sucessivos "close up's", o realizador mostrava-nos o rosto da apresentadora inundado de lágrimas, numa expressão condoída, como se estivesse a ter conhecimento daquela história pela primeira vez na vida. será que vale mesmo a pena abdicar da integridade para ter mais dois ou três por cento nas audiências?...
hoje, no "companhia das manhãs", a determinada altura, os convidados foram um casal, que falaram sobre a sua relação de 15 anos e, sobretudo, do cancro que foi diagnosticado à esposa há cerca de 3 anos. quase em lágrimas, a esposa revelou que foi o marido que a ajudou sempre, "24 sobre 24 horas", que nunca saiu do lado dela, etc., etc.. a apresentadora, igualmente compadecida perante tal testemunho de amor, saiu-se, no final da entrevista, com esta pérola: "realmente, pode viver-se sem saúde, mas sem amor não se consegue". realmente, a saúde é muito sobrevalorizada por estes dias...
a sic "apimbalhou-se" propositadamente, para ficar mais parecida com a tvi, mas o povinho, aquele que "engole" as novelas todas, o goucha, a júlia pinheiro, as criancinhas a cantar mais desafinadas que o zé cabra, o inenarrável josé pedro vasconcelos e os seus japoneses, prefere, mesmo assim, o original. até na porcaria é preciso ser-se minimamente exigente.

3 comentários:

A happy single mother disse...

Não te dá vontade de emigrar sometimes?! É que a mim dá...

Anónimo disse...

façam como eu: simplesmente não vejam esses canais. Acho que da tv nacional só vejo as notícias na RTP.

bjs
T

josé alberto lopes disse...

vamos lá ver, ao escrever este texto não estou directamente a revelar que vejo este tipo de programas. acontece que, aqui no jornal, temos uma televisão, que normalmente está sem som e ligada ou na sic ou na tvi, são os dois únicos canais que apanha com uma antena interior. como estou constantemente a ouvir música, não costumo ouvir as barbaridades que se dizem nestes programas, só vejo as figuras tristes dos apresentadores quando passo os olhos pela televisão. os dois casos que referi apanhei-os acidentalmente, mas vieram consolidar a ideia que tinha sobre este "género televisivo". e sim, dos canais nacionais, a rtp, 1 e 2 (por causa das séries e filmes), são os canais que vejo mais.