por vezes, os nossos filhos dão-nos autênticas lições de maturidade, especialmente quando o panorama se apresenta com algumas nuvens negras. quis o destino que, este ano lectivo, os meus filhos mudassem ambos de escola. o pedro passou para o 5º ano e, consequentemente, mudou para outra escola, para iniciar o 2º ciclo. a mariana, que ainda não tem idade para frequentar a escola que o pedro deixou, por ter ainda apenas 4 anos, mudou de jardim-de-infância, neste caso de um particular para um municipal. os meus filhos têm seis anos de diferença, nasceram precisamente no mesmo dia, 27 de março, e, a partir de ontem, a mariana passou a frequentar o mesmo jardim-de-infância que o pedro frequentou, para onde entrou com a mesma idade que ela. ou seja, há seis anos atrás estávamos bastante preocupados com a reacção do pedro no seu primeiro dia de "escolinha". ontem, seis anos depois, foi a vez da mariana...
como seria de esperar, o nervosismo foi-se instalando em ambos conforme o início do ano escolar se ia aproximando. na última semana de férias era bem visível nas suas faces a ansiedade, misturada com uma pontinha de receio, natural e compreensível para quem vai passar a frequentar uma escola diferente, com colegas, professores e auxiliares diferentes.
ontem, chegou finalmente o dia! o pedro não teve aulas, mas sim uma apresentação oficial da directora de turma, da escola e das suas condições, regras e serviços. portanto, como teve durante toda a manhã a companhia da mãe, as coisas correram muito bem e ele mostrou-se bastante entusiasmado com a escola, especialmente com a biblioteca. hoje, já teve aulas, almoçou na escola e começou, enfim, a conhecer a fundo a escola que vai frequentar durante cinco anos. já conhece bem as suas responsabilidades, os cuidados a ter com o cartão da escola, com a marcação prévia das refeições, o cacifo, etc.. é um mundo novo para ele e, nós, como pais, conhecedores da sua personalidade, sempre pouco dado a mudanças, receávamos que o "impacto" fosse maior. afinal, hoje, quando a mãe lhe telefonou, a combinar a hora para o ir buscar, ele estava eufórico, radiante, dizendo que o dia tinha sido espectacular e que até tinha comprado uma garrafa de água no bar, "que só custou 10 cêntimos". obviamente, respiramos de alívio, porque o pedro sempre demonstrou menor capacidade de integração social do que a irmã (adivinhem lá a quem é que ele sairá?). por isso, este entusiasmo todo logo nos primeiros dias na escola nova não pode deixar de ser considerado um sinal divino. o rapaz está a crescer, está motivado, a ganhar maturidade e cada vez mais responsabilidades e está a encarar tudo de frente, com um sorriso enorme estampado na face. é sinal de que nós, pais, devemos ter feito alguma coisa bem... esperemos que continue sempre assim...
o caso da mariana é diferente. passou dois anos no atl da confraria santa eulália, em repeses, onde se entrosou perfeitamente, tão bem que as educadoras ainda hoje não nos perdoaram pelo facto de a tirarmos de lá. mas convenhamos, as diferenças no final do mês são muito grandes... em todo o caso, ainda tinhamos algum receio de que a mariana, como adorava o atl, os colegas e as educadoras, pudesse chegar à "escolinha" nova e sentir saudades da antiga, porque, basicamente, não conhecia quase ninguém, apenas um miúdo que foi colega seu no atl no ano passado (que ela repetidamente dizia que era o namorado dela). afinal, ontem, no seu primeiro dia, integrou-se perfeitamente, como se lá tivesse passado os dois anos anteriores. almoçou muito bem, brincou com os colegas novos e "portou-se lindamente", como me afirmou uma das auxiliares quando telefonei para lá, ao início da tarde de ontem, para saber como é que ela se estava a portar. hoje saiu de casa toda satisfeita, com a mochila às costas, a imitar o irmão, com real vontade de ir para a escola nova. é altura de conhecer novos amigos, de criar laços de amizade com os colegas e com a professora e as auxiliares. e isso, para a mariana, não é nada assustador, antes pelo contrário. certamente... não sai ao pai nesta matéria.
ontem, quando chegaram a casa, havia um misto de euforia e alívio nos seus rostos. afinal, ir para uma escola nova nem era assim uma experiência tão assustadora como poderia parecer no início. a euforia vinha, precisamente, desta conclusão.
tantas semanas de angústia e, afinal, foi tudo tão fácil e simples. tanto para eles, como para nós...
4 comentários:
Cada vez me convenço mais: aprendemos mais com eles do que aquilo que lhes ensinamos...
(Mas por vezes, mesmo sentindo-nos orgulhosos, dói,confessa lá... senti-los tão soltos, tão auto-suficientes. E nós, cada vez mais descartáveis...)
não, acho que nunca senti isso que referes. é bom vê-los a "voar" sozinhos, depois de tantos anos no "ninho". para mim, é gratificante saber que lhes incutimos valores que eles agora vão aprender a aplicar, sozinhos. como pai e como filho, conheço os dois lados da moeda e, ao longo de todos estes anos, nunca senti, apesar da liberdade que sempre tive, que os meus pais eram "descartáveis". sempre procurei corresponder à confiança que eles depositaram em mim, quando me deram essa mesma liberdade. é isso que espero, agora, dos meus filhos.
Vá...se calhar o termo descartável foi um pouco forte. Eu sei que é para nós que eles correm quando se sentem ameaçados, assustados ou mesmo para partilhar uma conquista ou outro momento bom.
Referia-me a algo que talvez realmente não tenhas passado com as tuas duas crias, a Mariana por ser ainda muito pequena, o Pedro por ser homem, talvez. O facto de eles estarem a crescer e a abandonar o ninho é óptimo, tens razão, é sinal que tudo está a seguir o curso certo e que fizemos/fazemos/faremos um bom papel, mas por vezes dói olhar para o lado e não ver mais aquela bebé que adorava o meu colo, ter aquele contacto pele com pele, cheiro com cheiro, aquela ligação visceral, que embora se mantenha para o resto da vida, tem momentos em que (forçosamente) desvanece. E se calhar ainda bem, eu é que sou muito picuinhas, deixa lá…
Boa Noite e parabéns pelos/aos heróis aí de casa… ;)
compreendo perfeitamente o teu ponto de vista. há por aí muita nostalgia de um passado recente.
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