segunda-feira, março 23, 2009

o nó na garganta

é da natureza do ser humano nunca estar contente a cem por cento, porque há sempre aquela sensação de que está a faltar algo. quando estamos com a família, sentimos falta dos amigos; quando estamos com os amigos, sentimos falta da família. o ideal seria colocar toda a gente a residir na mesma mansão (porque tinha que ser uma mansão) e tentar conciliar o tempo de forma a passar tempo de qualidade com uns e outros. não sendo possível fazer isto (especialmente a parte da mansão), e especialmente quando alguns amigos estão longe, estaremos sempre expostos à chamada situação do "nó na garganta". as despedidas matam-me, é um facto, sinto que nunca estou preparado convenientemente para elas. na sexta-feira passada voltei a confirmar isto mesmo. a idade não me tornou numa pessoa mais madura ou mais calejada, antes pelo contrário, fez aumentar os meus índices de "lamechice". cada despedida minha está muito próxima daquelas que as mulheres dos pescadores lhes fazem quando estes vão para o mar, nunca sabendo se regressam. à medida que a idade avança, maior é o medo da morte, do inesperado, do incerto, por isso, na sexta-feira, despedi-me da minha família com tudo isso na cabeça (os pescadores, as mulheres deles e o incerto. incerto esse que a professora do 4º ano do meu filho escreveria "inserto". mas adiante). um adeus português tem sempre uma carga dramática superior a um "ciao", um "goodbye ou um "adieu". é um adeus, que diabo, não é um "até logo" ou um "até amanhã". para mim, será sempre um adeus e eu tenho que o revestir de toda a solenidade possível, porque nunca sei se será mesmo o definitivo. sim, eu sei, sou pessimista na mesma medida em que o tony ramos tem pelo no peito, mas o meu lema sempre foi este: "estar preparado". quando entrei no comboio, depois de me despedir da minha família, mentalizei-me, e nunca consigo evitar estes pensamentos, são mais fortes do que eu, que nas próximas três horas poderia acontecer algo e que eu teria que estar preparado para qualquer eventualidade, até mesmo para esse facto inédito de uma mulher atraente se sentar ao meu lado, algo que nunca aconteceu (raios partam a minha sorte!). gosto de ser eu a controlar o meu próprio destino, por isso não gosto de ser "conduzido". não se trata de confiar ou não nas capacidades das outras pessoas, porque confio, é certo, em duas ou três, mas é uma questão de mentalidade, algo que nunca vai mudar na minha vida. portanto, na impossibilidade de ir eu a conduzir o comboio (e a minha mãe, mesmo sabendo disso, bem me disse para ir devagar, como diz sempre), coloquei-me então na mão de outra pessoa. como aprecio bastante andar de comboio (para quando, meu deus, a chegada do comboio a viseu, para eu não ter que ir a nelas apanhá-lo?), a viagem faz-se lindamente, com phones nos ouvidos e livros, jornais ou revistas para ler. quando se chega, à felicidade do reencontro com um amigo junta-se a enorme distância da família, de quem se começa a sentir saudades. mas para podermos ter umas coisas temos que nos privar de outras. a noite correu muito bem, como já referi noutro post, mas à medida que a partida voltava a aparecer no horizonte, começava a formar-se um novo nó na garganta. agora a situação invertia-se. quando o comboio me fez perder de vista a minha família a dizer-me adeus sabia que, apesar da tristeza que sentia, haveria de estar poucas horas mais tarde com um amigo, que tanto fez para que eu me pudesse deslocar a lisboa, tratando de praticamente todos os pormenores. isso é de amigo, daqueles que não se querem, nunca, perder. relações de amizade como esta têm que ser alimentadas, de vez em quando, mesmo que nos custe "deixar" a família por uns momentos. por isso, quando chegou a hora de deixar o amigo, rumo à família, o nó na garganta voltou a formar-se, mesmo que interiormente estivesse contente por estar a caminho do "meu cantinho familiar". também nos custa deixar os amigos, com quem passamos excelentes momentos, de cumplicidade, companheirismo e pura amizade. custa mais ainda quando não sabemos quando os voltaremos a encontrar (em alguns casos), sendo impossível agendar uma outra noitada, uma ida ao cinema, a um concerto, etc.. no meu caso é assim. eu, que gosto de ter sempre tudo organizado e planeado ao pormenor, tenho sempre que viver com esta resignação, de nunca saber como e quando vou poder estar com os meus amigos. por isso, quando me separo deles, sinto o mesmo nó na garganta das despedidas que não gosto de viver. é uma ambivalência sentimental que se desaperta no momento em que chegamos e somos recebidos com um sorriso e um aperto de mão ou com beijos e abraços apertados dos filhos e da mulher. e como é diferente o nosso estado de espírito quando chegamos, em contraponto com o nó na garganta quando partimos.

1 comentário:

saltarica2002 disse...

I agree..

E a todas essas sensações, junta-lhe uma Nearly Death Experience e voilà...todos os Adeus, Até logo, Até breve, os Olás, Como estás, Tudo bem...ganham outro sabor!!