quarta-feira, dezembro 10, 2008

mulheres tuning

o mundo divide-se entre pessoas de bom gosto e pessoas de mau gosto. como é natural, todas as pessoas pensam que têm bom gosto e, por norma, colocam quase todas as outras pessoas na categoria do "mau gosto". é preciso ter bom gosto quando se compra um carro, na escolha da cor e do equipamento, quando se compra uma peça de roupa, um relógio, umas botas, etc.. quando alguém compra isto tudo, e se for tudo no mesmo dia é muito bom sinal, chega quase sempre à conclusão de que escolheu efectivamente os melhores produtos, entre aqueles que lhe foram dados a escolher. mas, se não ficar satisfeito, há sempre forma de "rectificar" o erro cometido. vamos debruçar-nos, por exemplo, sobre a compra do carro. vá, eu espero enquanto vocês se debruçam. já está? adiante então. passados uns meses, o homem começa a achar que o carro é banal e que dá pouco nas vistas, mesmo que ele passe nas principais ruas da cidade com a música bem alta, normalmente tony carreira ou bob sinclar. a solução é, quase sempre, "kitar" o carro, ou seja, dar-lhe uma nova roupagem, acrescentando-lhe tudo e mais alguma coisa que as lojas tuning oferecem. o "bom gosto" dessa pessoa consegue transformar um opel corsa de 1995 em qualquer coisa parecida com um carro de corridas da nascar. do carro original resta, então, pouca coisa, talvez só o número de chassis, mas isso não importa, desde que ele faça um figurão junto dos amigos. e se ele juntar à música alta, ao cd pendurado no retrovisor interior, aos autocolantes na traseira do carro e ao cigarro no canto da boca um arranque demolidor, em que gasta metade dos pneus, tanto melhor.
este género de "homem comum" tem igualmente tendência, como qualquer homem comum, diga-se, para gostar de mulheres. mas atenção, não são umas mulheres quaisquer, têm que se "encaixar" no quadro onde ele vive, onde se potencia o consumo de minis e cigarros, se pratica snooker como se não houvesse amanhã e se dão calinadas verbais de dez em dez segundos. este é o mesmo mundo em que vivem todas as pessoas que não sabem escrever (nem falar, neste caso), mas camuflam esse facto com a chamada "escrita sms", seja nos telemóveis, seja nos computadores (messenger, hi5, skype, etc.). o pior é quando têm mesmo de escrever a sério... há cerca de um mês, numa reportagem televisiva sobre um festival tuning no norte, onde a polícia montou um cerco e passou dezenas e dezenas de multas, falaram meia dúzia de entusiastas tuning e foi um fartote de tanto rir.
as mulheres deste género de "homem comum" têm de possuir uma característica indispensável: não ter medo de mudar de aparência. isto porque vão passar pelo mesmo processo que passou o pobre opel corsa de 1995. mudança de cor do cabelo, piercings, pestanas e unhas postiças, wonderbra, calças para arrebitar o rabo, silicone para os seios e lábios, botox, base, toda uma série de "acessórios" para "kitar" a namorada, porque uma rapariga normal e simples contrasta demasiado com o carro. o nosso "homem comum" sente-se agora feliz, com um carro e uma namorada que, de autênticos, não têm nada, mas que dão para impressionar outros "homens comuns" do mesmo calibre.
numa perspectiva muito particular e pessimista, acredito que ainda há-de chegar o tempo em que as mulheres já não terão, também elas, nada de autêntico e original, tantas são as formas de embelezamento artificial existentes no mercado, nas chamadas "lojas tuning" para mulheres. pena é que não possam, também elas, como toda a gente, comprar um bocado de bom gosto nessas mesmas lojas.
por mim, prefiro mil vezes o meu "velhinho" ford fiesta a uma qualquer novidade "armadilhada".

1 comentário:

saltarica2002 disse...

Como te entendo, caro amigo!!
Quem me dera ter o meu velho "Opel Corsa", mesmo todo partido, saído da sucata, desde que andasse...e eu o pudesse conduzir, claro!