sábado, agosto 30, 2008

36

não sei, se calhar fiz tudo mal. caramba, se nem no hi5 tenho "saída" o que me restará? é certo que fico com a distinção de ter sido o primeiro blogger a iniciar um post com as palavras "não sei", mas é nitidamente pouco para quem, nesta altura da vida, esperava já ter realizado pelo menos sete dos seus quatrocentos e vinte e oito sonhos. a vida é feita de círculos e de ciclos. temos determinado círculo de pessoas à nossa volta em determinado ciclo da nossa vida (e prometo que vou deixar de escrever a palavra "determinado"). passando esse ciclo, o círculo de pessoas desaparece. no fundo, são etapas de vida, camadas de experiência por que temos de passar, como tomar banho aquando do baptizado, com água fria, ainda por cima, aprender a andar de bicicleta e, consequentemente, aprender a não gritar quando a mãe nos coloca álcool nos joelhos esfolados, ir à escola, começar a namorar, ir à escola porque nos esquecemos lá do porta-lápis, a alegria de termos um quarto só para nós, a imposta responsabilidade de termos de o arrumar sozinhos, ir à escola porque nos esquecemos lá da namorada, ir para a universidade ou, transversalmente, para arrumador de carros, começar a trabalhar, casar, ter filhos, ir à escola porque nos esquecemos lá do filho, passar pela famosa crise de meia-idade, comprar um porsche, quando se pode, para disfarçar a crise da meia-idade, ser avô e, com sorte, bisavô e, finalmente, morrer. e o que fica desta vida? o raio do porta-lápis que ficou na escola.
sim, não há dúvidas que as pessoas que nos rodeiam são essenciais. imaginem o que seria passar a adolescência tendo como amigos de escola o cláudio ramos, o nuno eiró e o daniel nascimento. é claro que não podemos encomendar por catálogo as pessoas que queremos conhecer, caso contrário todas as mulheres escolheriam o george clooney ou o johnny depp e os homens optariam pela filha do nené ou pela betty grafstein. elas surgem de repente, caem de pára-quedas nas nossas vidas, sem pré-aviso que nos permita, ao menos, tomar banho antes. depois, como é natural, entra em campo o nosso rigoroso sistema selectivo, que faz com que fiquemos naturalmente com as pessoas com quem mais nos identificamos (ou que tenham seios grandes, é opcional) e deitemos fora as outras, as chatas, as inoportunas e as falsas (e as que nem de calças de licra bem apertadas fiquem minimamente atraentes). depois, quando nos dá para a introspecção, como num qualquer dia de aniversário, olhamos para trás e vemos que ainda nem levantamos a mesa do jantar. depois disso, continuamos a avaliar intensamente o nosso percurso ao longo de meia vida. afinal, segue-se a etapa da crise da meia-idade e eu não tenho dinheiro para um porsche, nem para um renault clio ou um smart. com sorte, consigo comprar um datsun 1200 de 1982 num sucateiro. a questão é esta: estarei devidamente preparado para esta crise? e ainda posso colocar mais algumas questões pertinentes, como estas: o que hei-de vestir? o que levo para comer? fará frio ou calor? conseguirei destrocar uma nota de 200 euros? não faço a mínima ideia de que forma vou enfrentar tudo isto.
o que é suposto eu fazer na minha crise de meia-idade? vestir-me como se tivesse 19 anos? fazer desportos radicais? ver os morangos com açúcar? andar na rua sempre com o mp3 a bombar nos ouvidos? visitar os pais só para poder sair disparado de casa deles a vociferar "nesta casa ninguém me entende"? não sei. só sei que por esta altura se começa, efectivamente, a ver o tempo fugir-nos e queremos aproveitar ao máximo tudo aquilo a que ainda temos direito. ontem, que diabo, até comi sushi. não quero morrer ignorante. "então meu amigo, gostou da vida que levou?", pergunta-me o s. pedro. "gostei, foi interessante", respondo-lhe eu. "experimentou tudo? plantar uma árvore? ser pai? sexo com gémeas polacas? tiramisu? por-do-sol na praia? sushi?", volta a perguntar o barbudo. "bolas, sushi, eu sabia que me faltava alguma coisa...". pois, era chato pedir ao homem para vir cá abaixo só para experimentar sushi. mas há ainda uma imensidão de coisas que ainda quero fazer, como ir à pesca. nunca fui mas sempre quero saber qual é a "pica" que se tira daquilo, do facto de se estar sentado largas horas com uma cana de pesca nas mãos. deve ser giro. ou talvez não. também gostava de ser comentador desportivo de voleibol de praia feminino. ou de ténis feminino. gostava de ir a itália, mas de avião nem pensar, só de comboio. gostava de ver ao vivo um jogo do campeonato inglês, se bem que isso seja praticamente impossível, só pedindo às equipas e aos adeptos para se deslocarem a portugal ou, vá, à espanha. ainda quero ver muitos concertos musicais, cantar ainda muitas vezes os parabéns aos meus pais e assistir ao crescimento dos meus filhos ao lado da minha mulher. são já vinte os anos ao seu lado, mais de metade da minha vida, em que a passagem do tempo apenas a tornou, ano após ano, ainda mais resplandecente aos meus olhos. tenho muitas dúvidas em relação a diversos aspectos do meu futuro, mas sei perfeitamente que nunca me vou cansar de olhar para ela. essa é a única certeza.
o futuro não me assusta. independentemente dos ciclos que aí venham, bons ou maus, conto com o apoio do meu círculo, nas alegrias e nas vitórias, nas tristezas e nas derrotas, e, essencialmente, para me ajudarem a encontrar as tais gémeas polacas...

9 comentários:

tulipa_negra disse...

não me digas que quando chegar aos 36 também vou passar pelo mesmo! lol ;-)

parabéns e espero que tenhas tido um dia muito feliz!

beijocas

josé alberto lopes disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
saltarica2002 disse...

Obrigadinha... então é nós, não contamos?!
Mimo no nosso blog, que também não comentaste!( Ah, we got you!!)

(E já agora, a certeza que necessitas,tendo em conta o teu comentário neste post: 02 de Setembro: Dia Oficial das Tulipas Negras!!!) ;)

josé alberto lopes disse...

obrigado, cara tulipa, pelo comentário. às vezes chego mesmo a pensar que escrevo só para ti, dado que és a única pessoa que comenta neste blogue. ainda bem que o fazes, fico contente e dás-me mais alguma motivação para continuar. e lá está, mais valem poucos e bons do que muitos e fúteis.
segundo julgo saber, o teu aniversário também está aí a chegar. lembro-me de teres referido isso num dos teus primeiros comentários neste blogue, há dois anos. espero que não passes pelo mesmo que eu quando chegares aos 36. mas, se passares, já sabes o que hás-de fazer: compra o porsche.
beijos.

josé alberto lopes disse...

cara saltarica:
repito o que disse, mais valem poucos e bons do que... tu estás claramente na categoria dos "poucos e bons". e espero que aí fiques durante muito tempo. quanto ao comentário no "mimo", já vai a caminho.

D.O.P. disse...

Gosto imenso das suas crises existênciais.

Parece que encontrou o amor, o que a avaliar pela média, já não é mau.

Ao preço que está a gasolina, não aconselho o Porche.

Um bom trigésimo sexto e continue a partilhar o que lhe vai na alma (porque apesar de silenciosos, nós estamos cá...)

Cumprimentos

Sónia (de Viseu para junto do mar)

S disse...

também quero entrar no "ciclo" dos "poucos mas bons"... que raio!...

miau com pintas disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
miau com pintas disse...

a declaração de amor final está uma ternura!
qdo se tem brilho próprio, não precisamos de um porsche para brilhar! até um datsun ganha novo brilho! :o)
(e lamento não conhecer nenhuma polaca)