terça-feira, abril 22, 2008

padrões e valores morais

serei alguma vez capaz de atingir os meus próprios padrões em termos de personalidade? é complicado estabelecer comparações e juízos de valor sobre uma pessoa quando verificamos que padecemos dos mesmos defeitos. a rita (nome fictício de marta) é intriguista, básica, fútil, hipócrita, tem mau hálito e um hábito terrível de citar fernando pessoa sempre que lhe perguntam o que quer de sobremesa. tudo bem, a rita pode ser isto tudo, mas é fabulosamente agradável em termos visuais. o rafael (igualmente nome fictício de marta, curiosamente) deve sentir-se mal por ser amigo dela? por preferir as virtudes físicas às virtudes morais? por deixar arrastar uma "amizade" que nada de psicologicamente estimulante lhe oferece? se analisarmos estas últimas três pertinentes questões pelo lado masculino, chegamos à conclusão de que o rafael quer, efectivamente, apenas "saltar para a cueca" da rita. ou então nem tanto, tendo em conta o tal problema do mau hálito da rapariga, quer apenas ser visto com ela, ser invejado pelo resto da sua espécie. o rafael criou durante largos anos, baseando-se em revistas, programas nocturnos com bolinha vermelha no canto superior direito e na sua professora de inglês do 8º ano, um consistente ideal de beleza. na sua transição da adolescência para a vida adulta, conheceu centenas de mulheres, umas mais inteligentes, outras mais atraentes, sempre com os mesmos padrões físicos embutidos no cérebro. depois de uma interminável travessia pelo deserto (em sentido figurado, claro, porque ele não conseguiu os mínimos para participar no rally lisboa dakar), rafael conheceu rita. dois segundos depois, a sua libido deu cambalhotas de contentamento. dois minutos depois, a libido foi-se deitar novamente, por manifesto cansaço. meia hora depois, a libido acordou porque alguém estava a bater à porta, mas era engano. ou seja, o estímulo visual criado pela rita foi-se desvanecendo com o tempo e o pobre do rafael começou a ficar dividido. ouvir horas e horas de conversas fúteis e insípidas só porque ela é efectivamente uma "brasa" ou continuar a procurar alguém que reúna as vertentes psicológica e física num só corpo? pepsi ou coca-cola? fifa 2008 ou pro evolution soccer 2008? conan 0'brien ou jon stewart? miguel sousa tavares ou vasco pulido valente? pois, o rafael não sabe o que fazer. chega a sentir-se mal ao lado da rita porque sente que está a atraiçoar os seus próprios valores e padrões. sente que não é aquilo que ele representa. sente que poderia perfeitamente estar a ter conversas muito mais interessantes e estimulantes com outras pessoas, que poderia estar a cultivar-se e a aprender. a rita, por sua vez, gosta muito de estar com o rafael, acha que ele é boa pessoa, com um sentido de humor um bocado esquisito (que ela muitas vezes não entende mas sorri na mesma para mostrar que percebeu a piada) e umas referências musicais e cinematográficas estranhas (cinema europeu? isso existe?). no entanto, ao mesmo tempo também acha que o rafael é intriguista, básico, fútil, hipócrita, tem mau hálito e um hábito terrível de assobiar o refrão da música "the final countdown", dos europe, antes de tomar café.

2 comentários:

Gabriela disse...

pepsi ou coca-cola? nem pepsi, nem coca-cola. água sem gás, por favor! belíssimo texto, adooorei.

beijo grande sr. isaac davis ;)

Jerri Dias disse...

Eu prefiro garotas Coca-Cola, acho que tem mais conteúdo e são mais gostosas que a Pepsi.
Muito bom o texto, grandes sacadas. Adorei a parte sobre a libido atendendo a porta.
Abraço.