quarta-feira, março 19, 2008

ser pai

ontem, o meu filho, de oito anos (quase nove), durante o jantar e quando se comentava que no dia seguinte ia ser o "dia do pai", disse uma grande verdade. no seu entender, eu tenho duas profissões: a de paginador, no jornal, e a de pai. é óbvio que não se pode considerar a paternidade como uma profissão, até porque não há 13º mês nem subsídio de férias. o estatuto de pai vai-se entranhando na nossa mente a partir do momento em que o primeiro filho nasce. a partir daí, as nossas prioridades mudam radicalmente, eles vêm sempre primeiro, as necessidades deles são sempre superiores às nossas. na nossa cabeça alojam-se, por tempo indeterminado mas com fortes probabilidades de ser para sempre, preocupações com a segurança e bem estar deles. quando adoecem, nós adoecemos também. quando choram, parece que o mundo desaba. quando se magoam, dói-nos a nós também. quando estamos longe deles, nem que seja por umas horas apenas, eles estão constantemente no nosso pensamento. depois, quando estamos juntos, seja onde for, é sempre o melhor sítio do mundo, onde eles saltam, pulam, riem, cantam, dançam e vivem, vivem o facto de serem crianças, seguros de que os pais estão lá para os ajudar, para brincar com eles, para os ensinar e acompanhar nesse processo contínuo de desenvolvimento que é a vida. tal como os meus pais fizeram comigo. e aqui recordo a frase que a minha mãe mais vezes profere: "filho és, pai serás". apesar de a ter ouvido umas três centenas de vezes durante a minha adolescência e de a ter enjoado, a frase, ou provérbio, acaba por ter muita razão de ser (a não ser que o "filho" da frase seja estéril mais tarde, claro). fui filho, agora sou pai. posso ter sido irresponsável em determinada altura, mas agora tenho que ser responsável. o meu filho e a minha filha vão crescer e constituir família, vão ser pais e passar pelas mesmas situações que eu. também espero que, quando eles me desobedecerem daqui a uns anos, não tenha que repetir, por tudo e por nada, a mítica frase da minha mãe, porque se pode tornar um pouco repetitivo:
- pedro, vai já arrumar o quarto e fazer os trabalhos de casa.
- ó pai, agora não me apetece.
- ai é, filho és, pai serás! toma!
hoje de manhã, enquanto estávamos a tomar o pequeno-almoço, o pedro foi buscar a minha prenda. trazia um cartão e uma envelope grande, feitos por ele no atl, o que tem muito mais significado. as palavras do cartão bateram forte, especialmente a parte final, em que dizia que quando eu fosse velhinho ele iria cuidar de mim. no envelope grande vinha um tabuleiro de damas, com as peças, feitas de rolhas, pintadas de vermelho e preto. por sua vez, a mariana deve trazer hoje a sua prenda, da escolinha dela.
embora não seja apologista destes "dias" estipulados, é gratificante verificar que o nosso "trabalho" é reconhecido, sobretudo pelos nossos "patrões".

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