nunca pensei chegar a esta idade tão cansado. de repente, parece que tudo se desmorona à minha volta. nada parece fazer sentido: o emprego, a vida social, os amigos, etc.. o rumo que escolhi para a minha vida é questionado de cinco em cinco minutos. não estou a gostar de viver comigo, nesta embalagem, com estes atributos físicos e psicológicos. acho que estou a chocar uma depressão. deixei crescer a barba propositadamente. há dez anos que fazia a barba todos os dias. mas agora cansei-me. sim, também disso me cansei. fazer a barba todos os dias implica olhar para o espelho. e eu não quero ver-me. estou farto desta cara. já passei, com algum estoicismo, a fase da comichão e, agora, é deixar crescer a barba, livremente, sem obstáculos, até me tapar a cara completamente. se calhar, era mesmo isso que eu precisava.
mas onde raio é que eu errei? cortei à esquerda, algures, quando deveria ter cortado à direita? tenho sempre que errar em todas as decisões profissionais que tomo? onde é que está escrito que as empresas onde eu trabalho têm que passar sempre por dificuldades financeiras? quem foi o inteligente que estabeleceu essa ridícula margem dos 18 aos 35 anos para todo e qualquer anúncio de emprego? e a partir dos 35 anos? não se pode trabalhar? não existe vida? parece que é aos 35 anos que recebemos a mais importante avaliação que podemos ter nesta vida. se até aos 35 anos não somos capazes de arranjar um emprego decente, com bom ordenado, que nos permita uma vida tranquila e sem sobressaltos, somos uns... falhados, uma espécie de unidade com defeito na linha de montagem. não presta, deita-se fora. há que dar vez aos outros, àqueles que estão a começar, que vão começar a mostrar o que valem. têm 17 anos para escolherem os caminhos certos, para confiarem nas pessoas correctas, para alicerçarem e cimentarem uma vida profissional cheia de virtudes. os azares, como é o meu caso, não contam como desculpa. é preciso saber fazer os devidos julgamentos de carácter quando trabalhamos para alguém e, sobretudo, não nos deixarmos acomodar, porque os "35" estão lá, à nossa espera, mortinhos para nos avaliar e catalogar.
eu nunca foi despedido. saí de três locais de trabalho por ter ordenados em atraso (as tais dificuldades financeiras das empresas), de dois desses locais ainda me estão a dever dinheiro, saí de um por ser um contrato a termo certo (fui contratado para suprimir a falta de uma funcionária durante a licença de maternidade), e saí de um outro por minha iniciativa, apesar de o gerente me tentar demover. agora, parece que vou fechar o meu círculo profissional, porque se estão a passar precisamente as mesmas situações do meu primeiro emprego. é a mesma área profissional, é o mesmo cargo e são os mesmos problemas. fantástico! conclusão: desde 1993, ano em que comecei a trabalhar, não tive qualquer evolução. os meus anos de "avaliação" (os tais dos 18 aos 35) levam um chumbo do tamanho da muralha da china. carrego às costas o peso da minha incapacidade para analisar e decidir o meu rumo profissional. e é isso que toda a gente vai ler no meu curriculum vitae. isso e a minha idade. os tais "35". a experiência, o conhecimento, a tarimba, a cultura geral, o empenho, a pontualidade, não contam para nada. interessa apenas ter menos de 35 anos. saber ler ou escrever é opcional.
3 comentários:
Nada acontece por acaso... às vezes é apenas o empurrão de que se precisa para enverredarmos por outros caminhos... os nossos caminhos...
Quem sabe um trabalho por conta própria? temos medo de tentar... às vezes precisamos mesmo destes empurrões...
o gosto pela escrita pode abrir horizontes... começa por ai...
concordo com o/a anonymous... everything happens for a reason... quem sabe se não é a partir de agora que vais realmente começar a viver a vida?
beijinhos de força e que tudo melhore
vai dando noticias
Couldn't agree more...
É só procurares bem no fundo de ti e verás que a "embalagem" com a qual não gostas de viver afinal não está assim tão mal, mesmo com a barba e os 35 anos...Embeleza-a o conteúdo!
So long, pal...
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