quarta-feira, janeiro 23, 2008

heath ledger

foi com muita consternação que ontem, por volta das 21h50, vi na sky news a notícia da morte do actor australiano heath ledger, com apenas 28 anos de idade. heathcliff andrew ledger nasceu a 4 de abril de 1979 em perth, austrália. a sua mãe, professora de francês, decidiu chamar-lhe heath em homenagem à personagem masculina principal do livro de emily bronte "wuthering heights" (heathcliff). estreou-se como actor na televisão australiana, em 1996, na série "sweat", onde interpretava o papel de um ciclista gay. no ano seguinte deu-se a sua estreia no cinema, ainda no seu país natal, com o filme "blackrock". o ano de 1999 marcou a estreia de ledger no cinema norte-americano, com a comédia "10 things i hate about you". foi igualmente o ano em que recebeu a primeira nomeação como actor principal, com o filme australiano "two hands", atribuída pelo australian film institute awards. pelas mãos de outro actor australiano, mel gibson, que o convidou para entrar no seu filme "the patriot", heath ledger estabeleceu-se definitivamente em hollywood. seguiram-se filmes como "monster's ball", ao lado de halle berry e billy bob thornton, "a knight's tale", "the four feathers", "ned kelly", "casanova" e "the order".
no filme "ned kelly" contracenou com naomi watts, com quem viria a ter um relacionamento amoroso de quase dois anos, entre agosto de 2002 e abril de 2004. em 2005, através do polémico filme "brokeback mountain", a carreira de heath ledger atingiu o seu ponto mais alto, com a nomeação para o óscar e para o globo de ouro de melhor actor. não venceu nenhuma destas categorizadas estatuetas, mas venceu o prémio de melhor actor atribuído pelo australian film institute. na rodagem deste filme, ledger conheceu michelle williams, que interpretava o papel de sua esposa, de quem viria a ter uma filha, matilda rose, nascida a 28 de outubro de 2005. no entanto, a relação entre os dois actores acabaria em agosto de 2007.
ainda em 2005, protagonizou "the brothers grimm", de terry gilliam, ao lado de matt damon, e "lords of dogtown". em 2006 voltou a ser nomeado pelo australian film institute como melhor actor no filme "candy", em que contracenou com geoffrey rush e abbie cornish. no ano passado, heath ledger entrou em "i'm not there", biopic de bob dylan, em que interpreta o papel do cantor e compositor norte-americano, numa das seis etapas da sua vida. os outros actores são cate blanchett (que foi nomeada para o óscar de melhor actriz secundária), richard gere, marcus carl franklin, ben whishaw e christian bale.
os interesses culturais do actor não passavam apenas pela sétima arte. heath ledger criou uma editora discográfica com o cantor ben harper e dirigiu três vídeos musicais, um dos quais para o próprio harper ("morning yearning"). o actor manifestou ainda o desejo de fazer vídeos para as músicas de nick drake. chegou mesmo a criar um teledisco para a música "black eyed dog", uma das últimas músicas gravadas por drake, em que, no final do mesmo, ledger se afoga numa banheira.
o actor era igualmente conhecido pela sua tempestuosa relação com a impresa, nomeadamente com os paparazzi. em 2004 foi acusado de ter agredido um fotógrafo em sidney. mais tarde, os fotógrafos "retaliaram", aquando da estreia de "brokeback mountain" em sidney, molhando o actor com pistolas de água. o actor não conseguia lidar com a pressão dos paparazzi e procurava refugiar-se ao máximo da exposição mediática.
o derradeiro filme do malogrado actor está em fase de pós-produção e chama-se "the dark knight", realizado por christopher nolan, onde ledger vestiu a pele de joker, outrora interpretado magistralmente por jack nicholson, em "batman", de tim burton. em dezembro de 2007, o actor começou a trabalhar no filme de terry gilliam "the imaginarium of doctor parnassus", ao lado de christopher plummer e tom waits, mas a produção foi cancelada devido à sua morte. a 22 de janeiro de 2008, heath ledger foi encontrado morto no seu apartamento em nova iorque.
a família de heath ledger fez hoje um curto, mas pungente, comunicado à imprensa: "we, heath's family, confirm the very tragic, untimely and accidental passing of our dearly loved son, brother and doting father of matilda, who was found in a peaceful sleep in his new york apartment by his housekeeper at 3:30pm [new york time]. we would like to thank our friends and everyone around the world for their kind wishes at this time. heath has touched so many people on so many different levels during his short life, but few had the pleasure to truly know him. he was a down-to-earth, generous, kind-hearted, life-loving and unselfish individual who was an extreme inspiration to many. please now respect our family's need to grieve and come to terms with our loss privately".
quando morre um actor, temos sempre tendência para o recordar num determinado papel. a carreira de heath ledger ainda era curta, tal como era a de river phoenix quando morreu, mas está recheada de bons filmes e de magníficas interpretações. a tendência natural seria escolher o filme "brokeback mountain", onde tem uma portentosa interpretação, mas opto por "monster's ball", que é um dos filmes mais tristes de que há memória, onde a sua personagem vive na sombra de um pai austero e distante emocionalmente. o seu conflito interior, entre aquilo que ele quer da vida e aquilo que o pai idealizou para ele, atinge a sua expressão máxima numa das cenas mais marcantes do filme (e são muitas), quando pai e filho se confrontam, física e verbalmente, acabando um deles para acabar com a vida, apontando e disparando uma arma contra o próprio peito. essa imagem tem passado centenas de vezes pela minha mente desde que soube da morte de heath ledger. se "monster's ball" já era, para mim, um dos filmes mais tristes e trágicos que tinha visto, carregado de dramatismo, agora ainda o é mais.

3 comentários:

Anónimo disse...

o brokeback é... polémico? porquê? por ter gays?

josé alberto lopes disse...

polémico pela controvérsia que gerou. se o respeitável anonimo, ou anonima, for ao dicionario, verá que a palavra "polémica" signigica "discussão na imprensa, controvérsia, disputa amigável mas acalorada". quer-me parecer que o respeitavel anonimo quis "comprar" uma discussão comigo, "acusando-me" de preconceituoso ao mesmo tempo. é óbvio que nada tenho contra os gays, nem o filme é polémico por narrar a história de uma relação gay entre dois homens. o filme foi por mim considerado gay por tudo o que se disse na altura da sua estreia, pelas discussões que gerou. o "ultimo tango em paris" também é um filme polémico e não tem gays. o "nove semanas e meia" também. por que raio é que quando se fala em gays fica logo toda a gente melindrada e disposta a atacar seja quem for ao minimo sinal de preconceito? já irrita essa conversa...

josé alberto lopes disse...

outro filme polémico: "a última tentação de cristo" (não tem gays).