sexta-feira, outubro 12, 2007

quem tem coragem de ler isto tudo?

acordei ao som de "encosta-te a mim", de jorge palma. desencostei-me da minha mulher e levantei-me, sempre com a música na cabeça. é tão frequente acontecer isto, ficar sempre com a música que ouço quando acordo na cabeça, que seria tão estranho isso não acontecer como ver luis filipe scolari aos beijos com maria de medeiros. fico feliz por o jorge palma ter finalmente, depois de tantos anos, um "hit". já o merecia. que diabo, se até o andré sardet e aquele tipo irritante do anúncio do banco, que canta o "virar a vida de pernas para o ar" ou qualquer coisa assim, conseguiram passar nas rádios nacionais de hora a hora, porque não ele? no meio de tudo isto, já no banho, descubro que não há sabonete. saio da banheira, todo molhado, e apanho o meu reflexo no espelho. de repente, parece que estou a ser observado pelo chris penn. mas ele até já morreu, coitado. gostei de o ver em "reservoir dogs", "true romance" e "short cuts", mas a sua carreira nunca atingiu um estatuto parecido com a do seu irmão sean penn. mas ao contrário de sean, chris penn entrou num episódio de "seinfeld" e isso é que interessa. morreu em janeiro de 2006, paz à sua alma. peguei no sabonete e voltei para a banheira. sabe sempre bem passar água bem quente num corpo molhado e frio. é como acordar a meio da noite para ir à casa de banho e voltar para o quentinho dos lençóis e cobertores. aquela sensação de conforto e bem-estar é impagável. "encosta-te a mim, nós já vivemos cem mil anos". bem, é um bocado exagerado o palma, mas aceita-se. quem se lembra de o ver, numa daquelas canções de solidariedade, com vários artistas nacionais, de chapéu de palha e com um ar lunático e totalmente desconhecedor do sítio em que se encontrava, dá-lhe sempre um desconto. fazer a barba é que me irrita solenemente. já a faço desde os 14 anos, idade com que comecei a namorar. a ana era mais velha cinco anos do que eu. "andas a desmamar putos", devia ser a frase que ela mais ouvia das amigas. chegou a ser constrangedor o meu primeiro beijo. "apostei com a goretti e com a eulália em como conseguia beijar-te" (e eu é que tinha 14 anos...). ganhou a aposta. só não entendi porque raio é que ela insistia em meter a língua dela na minha boca. é assim que se beija? que nojo... mas lá me habituei, como me habituei a fazer a barba e a gritar desalmadamente de cada vez que passava o after-shave pela cara. só anos mais tarde, e muitos gritos depois, é que me meti no nivea, que fez milagres pela minha pele. a minha mulher entra na casa de banho. todos os dias, quando isso acontece, ela me faz lembrar o robert smith, dos the cure, tal a confusão que reina no cabelo dela. se lhe pintasse os lábios de vermelho vivo, talvez ela me pudesse cantar um bocadinho do "trust" ou o "friday i'm in love"... sexta-feira, dia 12 de outubro, estou preparado para ti! só me falta preparar os pequenos-almoços de toda a gente cá em casa, as mochilas da escola, os casacos, as chaves, a carteira, os óculos de sol. "tudo o que eu vi, estou a partilhar contigo, o que não vivi, hei-de inventar contigo. sei que não sei às vezes entender o teu olhar". bolas, como eu gostaria de ter escrito isto, ou de dizer isto a alguém num momento romântico. grande jorge palma! a caminho da escola do pedro, ligo o auto-rádio. o que é que está a passar? pois, "encosta-te a mim". começo a pensar em perseguição sonora. esqueço isso rapidamente quando alguém me ultrapassa, mas tão encostado ao meu carro que não caberia uma fatia de panrico entre os dois carros. começo a pensar que há tipos que levam à letra o nome da música do jorge palma. chego à escola e o meu filho, de 8 anos e meio, sai porta fora, disparado, porque já tocou (que saudades do screech...). "anda cá rapaz, dá cá um beijo antes de ires". os pais são assim, não se lembram de que podem estar a envergonhar os filhos. não me lembro a partir de que idade é que comecei a achar constrangedor os beijos do meu pai, mas deve ter sido para aí aos 4. enfim, "filho és, pai serás", que é a frase que a minha mãe profere mais vezes. o guiness book of records ligou-lhe uma vez para o café (os meus pais têm um café), mas ela tinha ido ao talho. atribuíram o record de frases mais vezes proferidas por dia ao octávio machado, com aquela do "vocês sabem do que eu estou a falar". bem, o meu trabalho familiar matinal está feito. que faço agora? vou trabalhar. faço um desvairado zapping pelo auto-rádio e não consigo encontrar o "encosta-te a mim". acho estranho. de quem é a culpa? tozé brito? antónio sala? ribeiro cristóvão? asae? talvez não, o palma não faz nenhuma referência gastronómica ou higiénica na música. eles que mobilizem todas os seus agentes para fátima e tentem desmantelar aquela fábrica de dinheiro, construída à custa de umas aparições alucinogénicas. contento-me, no trajecto entre a escola e o emprego, com uma música que raramente, muito raramente mesmo, passa nas rádios nacionais: "hotel california", dos eagles. parece que passaram 12 horas desde que acordei, com as minhas tradicionais dores de costas e com a minha tradicional mulher. estou preparado agora para enfrentar mais um dia de trabalho. sento-me na minha cadeira, ligo o mac e o pc, sinto-me o jean michel jarre no meio dos sintetizadores. abro o meu blog. nova mensagem. ecrã branco, cursor a piscar nervosamente. que raio vou escrever? saiu isto.

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