sexta-feira, setembro 07, 2007

apareço, logo existo

este povo, meu deus, este povo é inacreditável. alguém me explica o que raio é que estão a fazer dezenas de pessoas à porta da PJ de portimão à espera que saia a mãe da maddie? querem o quê? falar com ela? aparecer na televisão? dar algum contributo válido para a investigação?
aquela gente não tem mais que fazer? não têm emprego? filhos? compras? que género de pessoa é que se dispõem a ficar parado, inerte, a apanhar sol na mioleira, a cheirar o suor das pessoas à volta, para apenas ver de relance uma pessoa que foi prestar declarações? não há dúvida que o peso da televisão ainda é enorme (especialmente das antigas, que eram muitos mais pesadas. agora é só plasmas...). onde há uma carrinha de exteriores de algum canal de televisão, há, invariavelmente, uma multidão. mas qual será o fascínio desta gente por aparecer na televisão? quando os vejo, lá atrás na imagem, de telemóvel em riste, imagino logo a conversa que estarão a ter:
- ó manel, tens a televisão na tvi?
- não, tava a ver o futebol na sporttv.
- então põe na tvi e põe a gravar no vídeo, que eles estão a filmar.
- ó mulher, deixa-te lá disso.
- PÕE A GRAVAR. fiquei eu aqui três horas e nem sequer apareço na televisão?! anda lá, que é para eu mostrar depois aos primos no domingo. vão-se roer de inveja...
- está bem. ouve lá, não vens para casa? e o jantar?
- come qualquer coisa que eu já vou. depois ligo-te quando a sic e a rtp começarem a filmar, para pores a gravar também.

tenho quase a certeza de que não estaria ninguém à porta da PJ se não houvessem câmaras de televisão. o povo quer é aparecer, ser entrevistado, dar opinião. há três meses, eram só palavras de conforto e preocupação para os pais da maddie. todos queriam ajudar a encontrar a menina. agora, ficam horas à espera de verem as câmaras ligadas para chamarem nomes à mãe da criança, agora que correm rumores de que ela vai ser constituída arguida. já os estou a ouvir:
"eu sempre desconfiei dela, sempre"; "ela a mim nunca me enganou, sempre com aquela cara de caso"; "agora era fazer-lhe o mesmo que ela fez à pobre criança"; "assassina" (que é um termo muito popular em concentrações à porta de tribunais ou esquadras da polícia).
depois de terem aparecido na televisão... vão para casa, para as suas vazias vidinhas, com o sentimento de dever cumprido. caramba, não há "portuga" que se respeite se não chamar, pelo menos uma vez na vida, de "assassina" ou "assassino" a alguém em directo na televisão...

Sem comentários: