ponto 1:
em portugal, a polícia sempre foi considerada, pelos portugueses, uma completa nulidade, ineficaz, com falta de meios humanos e materiais. sempre foi assim. nos noticiários é sempre o mesmo: falta de policiamento nos bairros considerados perigosos, escassez de postos de polícia, mecanismos de prevenção reduzidos ao mínimo indispensável, jogos de futebol de alto risco em que o trabalho da polícia é sempre criticado, etc..
no entanto, todo este cenário se transforma, ou se esquece, quando são os estrangeiros a questionar a capacidade e a eficácia das nossas forças policiais. quando isso acontece, como está a suceder agora no "caso madeleine", somos logo os primeiros a defender e a enaltecer os pobres coitados, que fazem um excelente trabalho tendo em conta os precários meios que têm ao seu dispor.
ponto 2:
como seria se este episódio tivesse ocorrido com um casal de portugueses, a passar férias no algarve, que tivesse tido o desplante e a negligência de ir jantar, deixando três filhos no quarto do hotel? provavelmente já estariam presos, por negligência e incúria, seriam vergastados pela imprensa e teriam sempre à porta do estabelecimento prisional centenas de senhoras, entre os 40 e os 60 anos (que são as que vão sempre às manifestações, comícios políticos e levantamentos populares), a gritar e a berrar "assassinos, assassinos" (de notar que este género de movimentação só surte algum efeito se estiver alguma estação de televisão a filmar; inclusivamente as senhoras guardam os seus mais sonantes "assassinos, assassinos" para os momentos em que sabem que estão a ser filmadas. não estando a ser filmadas, conversam sobre o estado do tempo e a novela do dia anterior, na maior das calmas).
como os pais são estrangeiros, há aquele sentimento de compaixão e uma abordagem mais terna e compreensiva.
dois factos, duas medidas.
2 comentários:
Se a madeleine fosse de uma família portuguesa, aqueles pais estariam agora sem nenhum filho, porque a esta hora a Comissão de Protecção de Menores já lhe teria retirado os outros dois filhos...
Sem esquecer que as buscas já teriam terminado há muito!
é esse exactamente o meu ponto de vista. se fosse um casal português seria tudo diferente, sem projecção internacional, sem interpol nem scotland yard. e depois veja-se a discrepância entre o caso do sargento que estava preso por ter assumido a paternidade e ter educado uma filha de uma forma conveniente, sem negligências que se conheçam; e o caso deste "mártir" casal inglês, que se pirou para jantar deixando três crianças no quarto, sozinhas, rejeitando inclusivamente o serviço gratuito de baby sitter... como pai condeno veementemente esta atitude e, como tal, recuso-me a entrar na onda nacional de compaixão e comiseração por estes pais.
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