segunda-feira, novembro 06, 2006

o sentido da vida

encontraremos, ao longo da nossa curta existência, tudo aquilo que procuramos? porventura nem as chaves do sótão conseguiremos encontrar, ou a chupeta da filha quando estamos à porta de casa, cheios de tralha, preparados para sair e só falta mesmo essa pequenina coisa para encurtarmos o nosso atraso de uma hora para 56 minutos.
amor? realização profissional? dinheiro? casa de praia? carro de alta cilindrada? amigos? um excelente spread no crédito à habitação? um empregado de café que nos traga realmente um café curto quando pedimos um café curto? acho que é colocar a faixa muito alta. deviamos contentar-nos apenas com o café curto. o amor é sobrevalorizado, com o tempo transforma-se apenas em respeito e consideração; o emprego é sempre mal pago; o dinheiro gasta-se em meia hora; a casa de praia no inverno fica inundada e exige reparações anuais caríssimas; o carro de alta cilindrada gasta muito combustível e basta um risco na porta para perder metade do valor comercial; ter amigos é sempre chato, porque os convidamos para ir jantar lá a casa e ficamos à espera três ou quatro anos que eles nos convidem para o mesmo. ou seja, nunca há retribuição à altura. e outra coisa, os amigos só estão de facto presentes quando sentem que precisam de nós para alguma coisa. logo que esse pequenito aspecto se esfume, deixamos de ter qualquer ponta de interesse; quanto ao spread bancário, tenho 34 anos e nunca entendi patavina sobre isso, deve ser apenas para pessoas inteligentes.
qual é o maior problema das pessoas hoje em dia? não terem tempo. nunca há tempo para nada. têm que chegar aos seus empregos a tempo, sair a tempo para almoçar, entrar novamente a tempo, sair a tempo de não apanhar trânsito, chegar a casa a tempo de fazer o jantar, arrumar a casa a tempo para ir dar banho aos filhos, deitar os filhos a tempo. uff... que canseira. chega o fim de semana e quando pensamos que vamos descansar... enganamo-nos redondamente. é ainda pior. porque há a casa para arrumar, aspirar, temos que cozinhar, limpar o chão, lavar a louça, etc.. no domingo então há sempre visitas de familiares, há que ser bom anfitrião, não deixar faltar nada na mesa, encher sempre os copos, ir buscar pão... em suma, uma grande estafa, ficamos ainda mais cansados do que se estivessemos a trabalhar.
na prática, quando é que uma pessoa tem algum tempo? no meu caso, com tudo isto que referi no parágrafo anterior, só tenho algum tempo quando toda a gente lá em casa está a dormir. é nessa altura que aproveito para ter algum tempo de qualidade. normalmente vejo séries como o seinfeld ou o friends, ou jogo playstation até cair para o lado, literalmente, com sono.
portanto, com tudo isto, o que restará procurar ou extrair mais desta vida se não há tempo para o fazer? amigos tenho os suficientes, não ando à procura; emprego tenho e gosto do que faço; dinheiro vai-se ganhando todos os meses, se tivesse mais também gastava mais, por isso...; casa de praia e carro de alta cilindrada dispenso, tenho a minha casita na cidade que gosto e dois carritos velhitos que ainda cumprem; amor? sim. saúde? sim.
agora, se me pudessem trazer o tal cafezito curto... se não for pedir muito...

5 comentários:

cj disse...

escravos do tempo mas, sobretudo, de nós próprios.
dos nossos sonhos, das nossas vontades, desejos, expectativas.
mas afinal, não é isso a "evolução" humana?
de qq maneira...ok, admito, também estou a ficar conformado.
mas a querer conquistar "all the time in the world".

BR disse...

Querido Isaac, perguntas se encontramos tudo o que procuramos? Eu pergunto o que é o "tudo"?
Beijo,
BR

CristinaVaz disse...

Adorei a tua descrição...

Nuno disse...

É isso. E um copo de água, fachavor.

Abraço.

tulipa_negra disse...

ora aí está (mais) um post com sentido!
sabes que estou a passar por uma experiência marcante menos boa e vejo as coisas de maneira diferente... por vezes somos nós que falhamos com o tempo que temos...
beijocas