quinta-feira, fevereiro 02, 2006

as duas faces da moeda

há decisões extremamente simples de tomar, preferências que assumem maior relevância sobre outras de menor interesse, tais como pedir uma água com ou sem gás, uma bola de berlim com creme ou sem creme, café ou descafeinado, bife bem ou mal passado, etc.. neste caso não é muito difícil tomar uma opção e tudo se resume a um simples "quero este" ou a um "não quero este".
tudo na vida deveria ser assim tão fácil, mas há decisões bem difíceis de tomar com que, volta e meia, somos confrontados. se uma escolha nos parece bem num determinado dia, ou momento, pode parecer errada no dia seguinte, até por uma mera questão de comodidade. pois bem, por esta ordem de ideias e para reforçar esta minha teoria, não há nada mais difícil do que termos de escolher entre duas pessoas, não querendo magoar nenhuma delas obviamente, e se torna complicado chegar a alguma conclusão facilmente. isto porque, não raras vezes, elas se complementam e têm traços de personalidade que nos cativam, que suplantam os defeitos. ou seja, essas duas pessoas juntas poderiam resultar no ser humano perfeito e no companheiro ideal para uma determinada pessoa. e então o que fazer? a sociedade diz-nos que é errado e censurável viver uma história de amor com duas ou mais pessoas, logo temos mesmo que nos decidir por uma delas ou, em casos mais infelizes, perder as duas. é o velho adágio "mais vale um pássaro na mão do que dois a voar". quando não conseguimos encontrar, ou escolher, uma resposta, corremos mesmo o risco de ver dois pássaros a voar. se uma das pessoas é atenciosa, afável, carinhosa, mas tem um sentido de humor igual ao do Manuel Alegre, não perde os Malucos do Riso e os Batanetes e a única coisa que lê é o Auto-Motor e a Maria, por causa do horóscopo, é complicado. uma pessoa assim não nos "incentiva", não espicaça o intelecto, apesar de nos oferecer aconchego, carinho e atenção. mas falta o resto? e quem é que tem o resto? a outra pessoa, porque nos estimula o conhecimento, tem uma vertente cultural mais rica e desse factor até podemos "beber" alguma aprendizagem e crescermos intelectualmente. isto apesar de esta outra pessoa por vezes ser rude, azeda, indelicada e arrogante, que se esquece sistematicamente das datas importantes e recorre frequentemente a um mecanismo de defesa que não permite contemplar a pessoa amada com manifestações de carinho.
com qual destas pessoas é que queremos estar mais?
uma enche-nos de carinho, de amor, mas falta algo que tendemos a procurar noutro lado.
a outra enriquece-nos espiritualmente, mas falta algo que tendemos a procurar noutro lado.
o ideal mesmo era pegar nos dois cérebros, tirar a parte má de cada um deles e unir os lados bons, resultando tudo isto num cérebro ideal. é uma cirurgia a considerar num futuro próximo, deixo aqui a ideia, de graça, a todos os profissionais desse ramo.
mas ainda não encontramos a resposta para esta questão e conheço, pelo menos, uma pessoa que bem a queria saber. a minha solução parte de um princípio básico: as pessoas têm que estar em constante evolução, não podem estagnar, desligar o cérebro, vegetar na comodidade. a maior parte desse desiderato terá que pertencer à própria pessoa, mas terá que existir também algum incentivo no sentido de tornar mais imperceptíveis os "defeitos" e de fazer sobressair ainda mais as virtudes. em ambos os casos descritos em cima, a pessoa que vai escolher tem sempre essa opção, de tornar mais "perfeitos" os adjectivos da pessoa em causa. a escolha terá que recair, a meu ver, na pessoa que mostrar maior receptividade em todo este processo de "aperfeiçoamento".
é certo que podem dizer "cala-te lá ó versão masculina da margarida rebelo pinto, isso é impossível, ninguém muda assim de um dia para o outro, não é só carregar num botão". têm razão, sim senhor. se nenhuma das pessoas mudar, o melhor é mesmo "ver os dois pássaros a voar" e partir em nova expedição pelo espécime perfeito. there's plenty of fish in the sea...

4 comentários:

Anónimo disse...

É um caso bicudo, de facto, e pelo qual todos nós já passámos ao longo das nossas vidas. Estou convencido que nos casos em que a escolha se torna impossível - porque as qualidades de uma e outra pessoa, embora distintas, são muito fortes - a solução, pesando os prós e os contras, ou seja, as coisas boas e más de cada uma, só pode ser uma: optar por aquela que tem as mamas maiores.
É a minha opinião.

Ricardo

Anónimo disse...

Tem graça como foste comentado por uma pessoa que não sabe tomar decisões, especialmente esse tipo de decisões e vive o mesmo dilema, embora multiplicado por uns quantos dígitos...
Amar é aceitar a pessoa com as suas virtudes e defeitos... coisa nem sempre fácil. É acima de tudo sentirmo-nos completos por uma pessoa. A meu ver, quando se sente a necessidade de buscar mais, de procurar outras pessoas, então é porque não há amor. Muitas vezes há comodismo.
Um beijinho,

A. Duarte Lázaro

josé alberto lopes disse...

cara amiga angela, o dilema que relato não é vivido por mim, mas compreendo-o perfeitamente. pode parecer um paradoxo, mas amar alguém e manter essa relação não é conformismo, na mesma medida em que procurar outras pessoas também não é traição. algures no meio encontra-se o ponto de equilíbrio.

Anónimo disse...

mas nao podemos esuqecer que ao tomar a decisao, nao toma-la so pelo digitos que essa pessoa podera ter... ou estar com ela so por ter "moeda"...
Mas sim tomar a decisao pelo que sentimos... e pelo que queremos viver... e nao estar numa relaçao so pelo comodismo...