O Município de Viseu lançou uma rubrica mensal, que terá início no dia 22 deste mês, intitulada “O Presidente responde”. Na definição do evento, refere-se que esta é uma rubrica de “contacto direto” entre os munícipes e o presidente da autarquia. Pretende-se, assim, que os cidadãos façam perguntas, “sem tabus nem preconceitos”, como se refere nas normas de participação, para Almeida Henriques responder em formato de vídeo. “Todas e todos são livres de colocar as questões que gostariam de ver esclarecidas”, afirma-se também, o que se enaltece, por respeitar os valores democráticos da sociedade em que vivemos.
A ideia preconizada é simples: os munícipes devem enviar as questões até às 10h00 do dia 21, sendo estas respondidas, no tal formato de vídeo, às 13h00 do dia 22. O autarca terá três minutos para responder a cada questão e a sessão terá cerca de 30 minutos de duração, o que dará espaço para 10 perguntas. Sublinha-se, nas normas de participação, que das questões remetidas será seleccionado “um conjunto representativo” para o presidente responder, procurando-se, desta forma, “uma maior abrangência de abordagens e temas”. Diz ainda o município que as sessões serão mensais e que decorrerão sempre na última quinta-feira de cada mês.
O que se pode depreender disto tudo até agora? Primeiro, não há nenhum “contacto direto”, como se observa, ao contrário do que se pretende fazer crer. Segundo, a última quinta-feira de Outubro é no dia 29. Terceiro, o autarca fica com bastante tempo, mais de 24 horas, mesmo considerando o tempo despendido na gravação do formato de vídeo para publicação, para trabalhar, com a sua equipa, as respostas. Quarto, todos gostaríamos de saber quem irá escolher o tal “conjunto representativo abrangente”. Ou seja, é uma espécie de censura controlada, porque não convém tornar este exercício em algo penoso ou até embaraçoso para o executivo camarário. Logo agora, ao fim de vários meses covidianos a dar “tiros nos pés”…
Apoiando-nos no historial de relações azedas com a oposição, sempre que esta tenta ser, efetivamente, oposição, é fácil chegar à conclusão de que este executivo não gosta mesmo nada de ser criticado ou que lhe apontem incongruências, falhas ou discrepâncias. São anos e anos de desaforos vomitados para cima dos vereadores da oposição em assembleias municipais e reuniões de câmara, simplesmente porque, de vez em quando, lá calha aparecer uma dúvida ou um pedido de justificação. Portanto, se este executivo é assim com a oposição, o que não fará com os titulares das perguntas mais impertinentes que surgirem?!
Sendo assim, certamente que, com este “contacto direto”, estarão à espera de perguntas como “É mesmo muito difícil ser presidente da câmara, não é?”, “Para qual canal de televisão gosta mais de dar entrevistas?”, “Sabe onde é que o Jorge Sobrado compra os seus chapéus?”, “Tenho uma prima e um tio que trabalha na câmara. Posso enviar o meu CV?” ou “Qual é a primeira coisa que faz quando chega à câmara?”. Nada de politicamente incorreto ou que possa ferir susceptibilidades, portanto.
Mesmo correndo esse risco, lanço aqui as minhas perguntas ao presidente da autarquia, que fiz seguir, tal como recomendado, para o mail presidencia@cmviseu.pt. Porque, lá está, perguntar não ofende.
- Por que motivo, sempre que há furacões ou depressões, com chuvas fortes e persistentes, se registam cheias nas mesmas artérias da cidade e por que razão, mesmo com esses locais bem identificados há anos, ainda não se tomaram providências para resolver esse problema?
- Em 2013, no início do seu primeiro mandato, disse que queria ficar com o seu nome associado ao regresso do comboio a Viseu. Quando pensa começar a fazer alguma coisa para esse desenlace?
- Depois dos atrasos na distribuição de máscaras aos munícipes e dos portáteis aos alunos (todos os outros municípios do distrito foram muito mais rápidos e eficientes), que justificação encontra para terem sido distribuídas, através do Viseu Educa, máscaras aos alunos do concelho que não cumprem os requisitos mínimos de proteção?
- Qual a explicação para se ter destruído o circuito de manutenção do Fontelo e se ter optado pela “plantação” indiscriminada de instalações de arte de duvidosa qualidade no seu espaço? Já não havia espaço na Quinta da Cruz? Nem no Parque Aquilino Ribeiro? Ou no Parque Urbano de Santiago?
- Na mesma medida, o que levou o município a vedar, no Fontelo, o acesso à água em todos os fontanários existentes, sabendo-se que é um local de excelência para praticar desporto e para convívios familiares? É notório que a água não é o líquido preferido deste executivo camarário…
- O Viseu Arena representa um investimento de 6,4 milhões de euros, com um financiamento a 20 anos e taxas de juro bonificadas. Acredita que será inaugurado antes do término do financiamento ou será uma coisa relativamente mais demorada e estará pronto apenas aquando das conclusões da Operação Éter?
- Na mesma linha, fará sentido iniciar, depois de sete anos de análises, avaliações, orçamentos e previsões, os projetos do Mercado 2 de Maio e do Mercado Municipal se não será possível fazer um quarto mandato para os inaugurar?