quinta-feira, maio 10, 2012

"já não temos vagas"

este texto surge porque senti que vos devia algumas palavras, como "frigorífico", "estendal" e "capacete". a minha vida continua a ser a mesma sucessão de quintas-feiras, sem que nada de particularmente interessante ou especial me aconteça. continuo a cumprimentar as pessoas e a ficar com a sensação de que elas não respondem aos meus "bons dias" e "boas tardes" (já nem digo "boas noites" porque já não saio à noite desde que foi proclamada a república), continuo com a impressão de que sou sempre mal atendido nos cafés e restaurantes onde entro pela primeira vez (por isso tento sempre frequentar os mesmos sítios em viseu - pastelaria lobo e restaurante amarelinho), continuo a chegar e a sair sempre a horas ao trabalho, embora por vezes o patronato merecesse que eu entrasse às 15h e saísse às 15h30, e continuo à espera que algo de bom me aconteça, todos os dias. acho que toda a gente parte para um novo dia com esse pensamento na cabeça. "e se hoje surgisse uma proposta de emprego aliciante?", "será que me vão pagar hoje?", "conseguirei arranjar estacionamento hoje no centro histórico à hora de almoço?". no fim do dia, antes de preparar mentalmente o dia seguinte (o que não é muito difícil), faz-se o balanço e, se não tiver acontecido nada de relevante, arrumamos as memórias das últimas 24 horas no fundo do cérebro, ao lado do cubo mágico, da bota botilde e do spectrum zx, e ansiamos rapidamente pelo próximo dia. é claro que o meu objectivo nunca foi conhecer uma pessoa nova por dia, embora reconheça que é um excelente objectivo, sobretudo para quem trabalha atrás de um balcão numa repartição pública, mas se calhar, e colocando o dedo na ferida, fazia-me bem conhecer pessoas novas, sobretudo daquele tipo de pessoas que não me irrita automaticamente quando se mexe ou abre a boca. acreditem, já conheci muitas dessas. não me interpretem mal, o problema não são as pessoas que conheço, as que já fazem parte do meu pequeno círculo de amizades, essas são interessantes o suficiente. infelizmente, é muito reduzido o tempo que passo com elas, criando-se um fosso temporal enorme que condiciona e faz estremecer a mais sólida das amizades. quando reencontramos um amigo deste género, ao fim de algum tempo, perde-se sempre uma hora a actualizar as informações, o ambiente é quase sempre de constrangimento, porque nunca sabemos se alguma coisa mudou, se o nosso comportamento é o ideal, se devemos ou não fazer uma graçola fácil quando esse amigo nos está a contar algo desagradável que lhe aconteceu, etc.. gasta-se algum tempo a encontrar o ponto em que tinha ficado o nosso encontro anterior. e geralmente quando isso acontece, a outra pessoa tem que ir embora. segue-se uma inevitável frustração, seguida da previsível resignação. não há mesmo nada a fazer. só aceitar as evidências.
em termos de novos conhecimentos, todavia, também não peço muito, não quero conhecer um astronauta, um prémio nobel ou um cientista, contentar-me-ia com alguém que soubesse, pelo menos, qual é a capital da turquia e da austrália, quem é o vocalista dos radiohead, o realizador de "when harry met sally" e a formação inicial do sporting na final da taça de portugal na época 1994/1995. pronto, nesta última estava a brincar. vou alterá-la para o nome dos 24 jogadores da selecção de el salvador no mundial 82, realizado na espanha.
o meu problema é que as pessoas interessantes parecem já estar ocupadas... com as outras pessoas interessantes. mesmo que tentasse, eu nunca conseguiria entrar. lembro-me sempre da famosa citação de groucho marx, que dizia que não gostaria de pertencer a um clube que o aceitasse como membro...

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