domingo, julho 16, 2023

ainda aqui estou...


barney panofsky: ...and I'm just gonna keep talking here, 'cause I'm afraid that if I stop there's gonna be a pause or a break and you're gonna say 'It's getting late' or 'I should get going', and I'm not ready for that to happen. I don't want that to happen. Ever.

[they pause]

miriam: There it was. The pause.
barney panofsky: Yeah.
miriam: I'm still here

(do filme "barney's version")

não estarei certamente a exagerar se disser que me senti assim em 95% das vezes que estive contigo, independentemente do número de horas. era sempre doloroso verificar que era altura de nos separarmos, de irmos ambos para o trabalho, para casa ou para um qualquer tipo de compromisso. disse-te isto ontem: por muitas horas que passemos juntos a conversar, no final fica sempre a sensação que foi apenas meia hora. sabe sempre a pouco. fica-se sempre a desejar mais e com aquela certeza inabalável de que teríamos conversa para várias semanas seguidas, porque esta nunca enche e é sempre estimulante.
tenho esta teoria há anos: uma pessoa até pode ser interessante, inteligente, com boa cultura geral, bem falante, erudita e eloquente, mas se não tiver uma pessoa estimulante à frente, que a faça sobressair e evidenciar estes dotes, rapidamente se torna num ser amorfo, sem interesse e completamente banal. e eu tenho plena convicção de que sou assim visto pela maioria das pessoas que me conhece e que costuma falar comigo. quando a conversa não me interessa, admito, desligo. não sou estimulado a participar na mesma e não sou de sorrisos amarelos de concordância ou de fingir interesse em algo que não o tem.
por isso é tão gratificante ter-te como interlocutora. é diferente, porque sou estimulado e até consigo demonstrar alguma eloquência e até clarividência. eu próprio me considero mais interessante como pessoa quando estou ao teu lado. porquê? porque nos entendemos de olhos fechados, até sem falar, embora nós nunca o consigamos fazer. há dias, num concerto que vimos juntos, eu estava ansioso pelo final das músicas para poder falar novamente contigo. por sorte, o líder da banda fartou-se de "encher chouriços" entre músicas e pudemos falar mais tempo.
este diálogo retirado do fime "barney's version" reflecte isso mesmo. fica bem evidenciado o receio do paul giamatti em ver partir a rosamund pike, porque quer continuar a prolongar aquele prazer de estar com ela e a conversar com ela. e até no aspecto visual a coisa é credível. rosamund é lindíssima, cheia de classe e elegância, e o giamatti é quase o oposto. portanto, transportando o filme para a nossa realidade, confere.
numa semana, quase que conseguimos recuperar os tais 106 dias perdidos. temos falado muito, temos feito autênticas introspecções frente a frente e também temos tido a coragem de falar sempre de forma franca, honesta e transparente, como sempre fomos. é por isso que é tão estimulante estar contigo. podemos falar de tudo, mas tudo mesmo, que eu sei, e tu sabes, que é sempre tudo genuíno e brutalmente honesto, não estamos a mascarar nada ou a fingir que somos outra pessoa. tu sabes quem eu sou e eu sei quem tu és!
apesar de tudo o que (não) vivemos nos tais 106 dias, satisfaz-me imenso e deixa-me totalmente confortado o facto de, nesta semana, em apenas três encontros, ter verificado que continuamos rigorosamente iguais e que a nossa química continua intocável. que continuamos a não querer que os ponteiros do relógio avancem. que continuamos a olhar da mesma forma um para o outro. que continuamos a sentar-nos lado a lado, embora no nosso reencontro tenhamos ficado frente a frente. mas, lá está, rapidamente nos colocámos mais perto um do outro, porque essa é uma das características mais fortes da tal química, a necessidade do toque. no nosso último encontro, tenho a noção de que passei a noite inteira, naquele bar, a empurrar a minha cadeira para a frente e para o lado direito, mesmo quando já não havia mais centímetros para ela percorrer, nem para um lado, nem para o outro. é algo inato, animal mesmo. mas, como já reparámos, há velhos hábitos que não perdemos, pequenos gestos e atitudes que continuamos a manter, porque também só nós os percebemos e lhes sabemos dar o devido valor.
depois deste "testamento" (sim, tu és infinitamente mais sintética do que eu, vais directa ao assunto e não te repetes tanto como eu), espero mesmo que ainda estejas desse lado e não tenhas aproveitado um dos meus parágrafos para ir dar de comer aos gatos ou ir à horta do teu pai apanhar morangos. o talisca e o maniche esperam, tenho a certeza. são meus amigos. eles entenderão.
que nunca deixemos, pois, de ter longas e estimulantes conversas!
brindemos a isso (olhos nos olhos. sempre!)!

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