gostava um dia de conseguir observar-me fora de mim, de me ser dada a hipótese de passar por mim na rua, de tomar café ao meu lado no balcão de um estabelecimento, de me ouvir a falar com as pessoas, porque só assim iria perceber que raio de imagem ando eu a passar de mim próprio há 47 anos.
se eu fosse uma estrela do cinema ou da música, já me teria despedido. faço muito pouco pela minha imagem, pela venda da pessoa que sou, pela minha personalidade. pior: sou mesmo a primeira pessoa a deitar-me abaixo e a rebaixar-me, seja qual for a situação. portanto, sou daquele tipo de pessoas que, em caso de dúvida, se utiliza como bode expiatório para resolver o diferendo. é preciso culpar alguém? lá estarei, qual batman a responder ao sinal estampado nos céus de gotham de cada vez que há uma emergência.
o que é que eu ganho com isto? muito pouco, convenhamos...
sei que não vou conseguir arranjar amigos com o estilo de vida que levo. sei que deveria sair, e agora apertem os cintos porque vem lá uma daquelas expressões fantásticas só ao alcance daquelas pessoas que realmente têm alguma coisa a dar à sociedade, com massa cinzenta suficiente para 1435 palestras motivacionais, cujo conteúdo é 95% tirado de posts do facebook com frases lindíssimas plasmadas em cima de pôr-de-sol, gatinhos ou flores, uff... da minha zona de conforto, ir à procura de um sítio onde me integrar, sentir bem ou, pelo menos, menos desenquadrado socialmente.
pois, falta-me isso. esse arriscar, essa coragem de não ter medo de ser escrutinado, observado e julgado. tal como faço aos outros... ou seja, tenho medo de me integrar em algo, porque, no fundo, sei que, se eu pertencesse a esse algo, eu próprio não me aceitaria a mim mesmo.
nó no cérebro? isso passa, vão por mim.
enquanto isso, a minha maior dúvida, desde que me conheço, persiste: será o resto do mundo que não permite que eu me integre, ou sou eu que não estou devidamente preparado para me integrar em algo?
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