duas pessoas decidem fazer uma viagem sem destino e sem perspectiva de regresso. carregam o carro com a bagagem de cada um e metem-se ao caminho. a viagem corre muito bem na primeira centena de quilómetros. boa conversa, músicas cantadas em dueto e sorrisos estampados nos rostos.
ao quilómetro 379, a primeira contrariedade: furou um pneu. um esforço adicional daqui e outro dali e em pouco mais de meia hora o problema ficou resolvido, reiniciando-se a viagem.
entre paragens para visitas, fotografias, refeições e dormidas, a viagem seguia pacífica, envolta numa cumplicidade emocional indisfarçável e num sentido de admiração e respeito mútuo. todavia, tal não impedia que as contrariedades continuassem a aparecer. eles chegavam, por vezes, em forma de multas por excesso de velocidade, reparos à adequação da condução em virtude das condições meteorológicas adversas, filas intermináveis de trânsito, ocasionais acidentes rodoviários ou ainda de problemas mecânicos do automóvel. mas eles, após uma análise cuidada aos imprevistos que iam surgindo, alguns deles demorando mais tempo que outros, seguiam caminho, nem sequer equacionando a hipótese de voltar para trás ou de desistir.
a seguir aos instantes mais conturbados, chegavam invariavelmente momentos de plenitude, contemplação, paz e realização. em todos os momentos, bons e maus, o coração estava sempre aconchegado e embevecido com as juras de amor que se trocavam, com o calor dos olhares apaixonados e com o toque que transmitia serenidade e aquela distinta sensação de se estar no sítio certo, ao lado da pessoa certa e parte de algo que fazia todo o sentido, por toda a corrente emocional que ligava dois seres deslumbrados e ainda incrédulos com a felicidade que lhes tinha vindo parar ao colo.
e a viagem seguia, nem sempre pelas melhores estradas, o que causava algumas perturbações momentâneas, mas rapidamente surgia uma nova auto-estrada e o sol voltava a brilhar.
mas, ao quilómetro 728, aconteceu o "evereste" dos imprevistos: o carro avariou e eles tiveram de parar. desnorteados, tentaram encontrar justificações para aquela avaria. um dizia uma coisa, o outro apontava outra; um avançava uma solução, o outro aventava uma outra. não tardou até que chegassem as acusações mútuas de negligência ou descuido no manuseamento da viatura. um dizia que bastaria chamar o mecânico e esperar um pouco enquanto o carro era reparado; o outro entendia que não valia a pena e que ainda não estariam longe demais para voltar para trás e esquecer a viagem. um queria seguir a viagem; o outro, agastado com tantos imprevistos, decidiu ficar por ali.
nenhum deles fazia ideia das paisagens que se seguiriam naquela viagem, que fotografias tirariam em dezenas de cidades, que refeições saboreariam em localidades pitorescas, que vinhos provariam ou em que hotéis dormiriam. os quilómetros que se seguiriam eram uma incógnita, tal como o foram, afinal, todos os quilómetros que eles já tinham percorrido. mas a viagem acabou ali, naquela avaria. um deles voltou para trás. o outro ficou ao lado do carro, a insistir, a tentar ligar novamente a viatura, porque lhe parecia inconcebível que tivessem chegado até ali e não continuassem a viagem. algum tempo depois, também desistiu, depois de sentir que tinha feito tudo o que estava ao seu alcance para continuar em frente, mas não havendo carro, nem companhia, tal seria impossível. aqueles quilómetros realizados, as paisagens contempladas e os momentos vividos a dois, a cantar, a passear de mãos dadas, a tirar fotografias com a máquina e com a alma, tinham ficado para trás. não houve coragem para continuar a viagem, substituindo a viatura, ou prosseguindo de autocarro, de comboio, de avião. alternativas não faltavam, mas, porventura, não estariam predispostos a passar novamente por mais imprevistos ou para percorrer as tais estradas menos boas quando não havia auto-estrada. mas fica a sensação de que já tinham passado pelas maiores agruras quando decidiram acabar aquela viagem.
o que resta agora, são apenas recordações, o vazio de uma ausência que nunca tinha sido tão prolongada, uma dor pungente e dilacerante de uma saudade que não se consegue alimentar, uma vontade de gritar a tudo e a todos "vocês viram-na?", "como é que ela está?", "como é que tem passado?", ou de pegar no telemóvel e usar uma das dezenas de possibilidades de entrar em contacto. mas antes desse ímpeto chega um outro, o receio da resposta, o medo de que uma palavra mais ríspida possa provocar, o pânico de não sentir na outra pessoa aquilo que outrora era automático, a cumplicidade, a sintonia sentimental, a mesma ansiedade por chegar, a mesma vontade de tocar, de passar as mãos pelo cabelo, de deitar a cabeça no peito, de agarrar algo que se sente como nosso, só nosso, intransmissível, único e indivisível.
o dilema é cortante, porque o carro continua lá, no quilómetro 728, e há uma pessoa que não sai do lado dele, à espera de algo que o coloque novamente a andar. enquanto houver carro e chave, existirá sempre uma hipótese de ele voltar a fazer-se à estrada. nunca o chavão "enquanto há vida, há esperança" fez tanto sentido. não é crime nenhum gostar de alguém; não é crime nenhum ter uma imensa vontade de dizer a essa pessoa que estamos cheios de saudades; não é crime nenhum manter viva esta premência de a voltar a ter nos braços; não é crime nenhum dizer "eu amo-te". posso estar "broken", mas continuarei ao lado do carro, no quilómetro 728, até não haver mais esperança, até o carro ser rebocado de vez.
"and i´m running out of words
I still love you like the very first time"
https://www.youtube.com/watch?v=kdjELYZ5GbQ
quinta-feira, setembro 19, 2019
quarta-feira, setembro 18, 2019
patrick watson - broken
Tell me where we're going tonight Home is better than wandering in our heads We tried everything to save our love The best was always waiting to come Did we dig too deep For fifty-one reasons not to lose our souls? And it's not that you're not the one And it's not that you're not the one We all need a little peace Do you feel a little broken? Do you feel a little broken? Tell me where we're going so fast Never used to run when we were young And I'm running out of words I still love you like the very first time Pack your bags with all the lives you've been before And leave behind what you don't want no more Sometimes sometimes you wanna wanna go back But it don't work like that Do you feel a little broken? Do you feel a little broken? Do you feel a little broken? Do you feel a little broken? Memories come and then they go You just learned how to let go Sometimes sometimes you wanna wanna go back But it don't work like that Do you feel a little broken? Do you feel a little broken? Do you feel a little broken? Do you feel a little broken?
terça-feira, setembro 17, 2019
patrick watson - dream for dreaming
This dream I'm dreaming Won't you wake me up tonight 'Cause this life I'm living Doesn't really feel like mine This strange dream I'm dreaming If it ain't wrong it don't feel right Never thought you were leaving I never thought I'd have to start again Somebody wake me up Don't you wish we were dreaming Don't you wish that we were just dreaming I never thought the stars would look new again Thought we'd get old, get dressed, and walk the dogs Never really thought I'd have to be alone I never thought you'd ever really be gone But I still sing along To yesterday's song I got lost in the tall green grass I'm so lost in the tall green grass Got on the phone and called a friend Asked him where the hell I am? Somebody wake me up Don't you wish we were dreaming Don't you wish that we were just dreaming Don't you wish that we were just dreaming
domingo, setembro 15, 2019
orgulho de pai
esta virtuosa miúda, de apenas 14 anos, mostrou hoje a centenas de pessoas o que é ter coragem. foi operada há menos de dois anos à coluna, mas a vontade férrea de dançar, vocação que nasceu com ela, levou-a a criar um grupo de dança para coreografar músicas de k-pop, o seu estilo de música preferido. o grupo cresceu, ensaiou todas as semanas e aperfeiçoou-se para uma oportunidade. ela chegou hoje, depois de, também, muito esforço para contactar as pessoas certas e angariar apoios. doze bravos adolescentes subiram ao palco viriato da feira de são mateus e encantaram a plateia, onde estava, a rejubilar com a actuação, jorge sobrado, vereador da cultura da câmara municipal de viseu e gestor da feira.
hoje, como sempre, a mariana deslumbrou, soltou-se, foi ela mesmo, aquela menina que eu via a inventar coreografias para as músicas da shakira e da beyoncé quando tinha 4/5 anos e que pegava no comando da televisão para fingir que era um microfone. a artista esteve sempre dentro dela, desde tenra idade. hoje, a artista saiu e foi um deleite, a dançar sempre com um sorriso nos lábios, de alguém que está a fazer o que adora, aquilo para que nasceu! E a Mariana nasceu para a dança!
no final, jorge sobrado deu-lhes a boa notícia: no próximo viseu street art, o grupo volta a actuar. como pai babado, babadíssimo, agradeço a distinção e a escolha. o grupo merece ser apoiado e acarinhado.
és uma valente, mariana! tomara eu ter metade da tua coragem e determinação! és uma verdadeira inspiração!
domingo, setembro 08, 2019
a dúvida persiste
gostava um dia de conseguir observar-me fora de mim, de me ser dada a hipótese de passar por mim na rua, de tomar café ao meu lado no balcão de um estabelecimento, de me ouvir a falar com as pessoas, porque só assim iria perceber que raio de imagem ando eu a passar de mim próprio há 47 anos.
se eu fosse uma estrela do cinema ou da música, já me teria despedido. faço muito pouco pela minha imagem, pela venda da pessoa que sou, pela minha personalidade. pior: sou mesmo a primeira pessoa a deitar-me abaixo e a rebaixar-me, seja qual for a situação. portanto, sou daquele tipo de pessoas que, em caso de dúvida, se utiliza como bode expiatório para resolver o diferendo. é preciso culpar alguém? lá estarei, qual batman a responder ao sinal estampado nos céus de gotham de cada vez que há uma emergência.
o que é que eu ganho com isto? muito pouco, convenhamos...
sei que não vou conseguir arranjar amigos com o estilo de vida que levo. sei que deveria sair, e agora apertem os cintos porque vem lá uma daquelas expressões fantásticas só ao alcance daquelas pessoas que realmente têm alguma coisa a dar à sociedade, com massa cinzenta suficiente para 1435 palestras motivacionais, cujo conteúdo é 95% tirado de posts do facebook com frases lindíssimas plasmadas em cima de pôr-de-sol, gatinhos ou flores, uff... da minha zona de conforto, ir à procura de um sítio onde me integrar, sentir bem ou, pelo menos, menos desenquadrado socialmente.
pois, falta-me isso. esse arriscar, essa coragem de não ter medo de ser escrutinado, observado e julgado. tal como faço aos outros... ou seja, tenho medo de me integrar em algo, porque, no fundo, sei que, se eu pertencesse a esse algo, eu próprio não me aceitaria a mim mesmo.
nó no cérebro? isso passa, vão por mim.
enquanto isso, a minha maior dúvida, desde que me conheço, persiste: será o resto do mundo que não permite que eu me integre, ou sou eu que não estou devidamente preparado para me integrar em algo?
se eu fosse uma estrela do cinema ou da música, já me teria despedido. faço muito pouco pela minha imagem, pela venda da pessoa que sou, pela minha personalidade. pior: sou mesmo a primeira pessoa a deitar-me abaixo e a rebaixar-me, seja qual for a situação. portanto, sou daquele tipo de pessoas que, em caso de dúvida, se utiliza como bode expiatório para resolver o diferendo. é preciso culpar alguém? lá estarei, qual batman a responder ao sinal estampado nos céus de gotham de cada vez que há uma emergência.
o que é que eu ganho com isto? muito pouco, convenhamos...
sei que não vou conseguir arranjar amigos com o estilo de vida que levo. sei que deveria sair, e agora apertem os cintos porque vem lá uma daquelas expressões fantásticas só ao alcance daquelas pessoas que realmente têm alguma coisa a dar à sociedade, com massa cinzenta suficiente para 1435 palestras motivacionais, cujo conteúdo é 95% tirado de posts do facebook com frases lindíssimas plasmadas em cima de pôr-de-sol, gatinhos ou flores, uff... da minha zona de conforto, ir à procura de um sítio onde me integrar, sentir bem ou, pelo menos, menos desenquadrado socialmente.
pois, falta-me isso. esse arriscar, essa coragem de não ter medo de ser escrutinado, observado e julgado. tal como faço aos outros... ou seja, tenho medo de me integrar em algo, porque, no fundo, sei que, se eu pertencesse a esse algo, eu próprio não me aceitaria a mim mesmo.
nó no cérebro? isso passa, vão por mim.
enquanto isso, a minha maior dúvida, desde que me conheço, persiste: será o resto do mundo que não permite que eu me integre, ou sou eu que não estou devidamente preparado para me integrar em algo?
quem sai aos seus alumia duas vezes
é engraçado como o tempo se encarrega de nos esbofetear com pequenos nadas que julgávamos insignificantes e que, uns anos mais tarde, chocam de frente connosco, como autocarros desgovernados após uma inclinação de noventa graus.
a minha mãe trabalhava como uma escrava, das 8h00 às 19h00, sensivelmente, com apenas uma meia horita para comer alguma coisa, a fingir que era o almoço. a restauração é dos sectores mais duros e limitadores que existem, falo por experiência própria. o seu trabalho consistia em assegurar tudo o que houvesse para assegurar num cozinha de restaurante, que era, ao mesmo tempo, pensão, snack bar e café. ou seja, a todos os momentos do dia, tinha que existir sempre algo para "mata-buchar" (expressão popular que deriva do não menos famoso "mata-bicho", muito usado na zona onde a minha mãe trabalhava). portanto, era trabalho non-stop, desde preparar os almoços, passando pelos lanches e acabando nos jantares. não havia tempo para descansar.
eu teria uns 8, 9 anos quando me apercebi disto, da carga hercúlea que ela e o meu pai tinham às costas, para poderem providenciar aos filhos, a mim e à minha irmã, três anos mais nova, uma vida confortável, digna e sem privações.
mas a minha mãe tinha os seus "truques", ou melhor, as suas formas de transformar tudo aquilo por que ela tinha de passar todos os dias numa espécie de recompensa no final do dia. ela tinha necessidade de, chegada ao final de um daqueles dias, se regalar com algo que ela entendia ser um prémio pelo esforço realizado. acredito mesmo que seria a pensar nisso que a minha mãe dava tudo o que tinha, para chegar ao fim do dia e ter a sua recompensa.
pois bem, a recompensa da minha mãe era muito simples: todos os dias, a minha mãe, quando saía do trabalho, tinha de levar consigo algo para degustar quando já estivesse de pijama, confortável, na sua cama, no pleno gozo do seu descanso. no verão, era sempre um gelado, primeiro os pernas de paus, mais tarde os magnum de amêndoas. não falhava! no inverno, era um chocolate jubileu, que dividia por duas semanas. mas era esta a rotina: chegava a casa, tomava banho, vestia o pijama, metia-se na cama e... recompensa! assistia a isto todos os dias, entendia, mas nunca lhe dei muita importância.
eu trabalho muito menos que a minha mãe. facto! nem me atrevo a comparar sequer a carga de trabalho. porém, há dias em que gosto de me mimar, e hoje foi um deles.
depois de uma semana de seis dias seguidos de trabalho, de um sábado em que dividi o tempo de ócio/folga com trabalho, cheguei ao domingo. acordei cedo, tomei banho e pequeno-almoço. decidi que seria tempo de, finalmente, sair de casa. aceitei o meu próprio desafio. vesti roupa desportiva e meti-me à estrada. rua direita abaixo, ribeira, parque radial de santiago. muito tempo a caminhar, tirar fotos e, essencialmente, a respirar. fundo, bem fundo! e a pensar. muito. muito mesmo...
chegado a casa, preparei o almoço, porque sabia o que lá vinha.
almocei, compassadamente, lavei a louça, mudei de roupa e... meti-me ao trabalho. estive quase cinco horas a trabalhar. texto, mais texto, mais texto, e por aí adiante.
acabei de trabalhar... e fui trabalhar. tinha-me comprometido que passaria pelo jornal para ajudar no fecho de edição. e lá fui. mais duas horas. num dia de folga...
a recompensa, perguntam vocês? pois, eu sabia que teria de me mimar, para me compensar por ter desperdiçado duas folgas com trabalho e, vá, algum ócio insatisfatório.
saí do jornal, fui a uma superfície comercial e, basicamente, tratei de me satisfazer com pequenos nadas que eu sabia que me iriam saber bem quando, já no meu período de descanso, as pudesse usufruir com conforto, sossego e tempo.
as práticas passam de pais para filhos, como se fossem matéria de testamento. hoje senti-me como a minha mãe em 1980. e senti-me mesmo muito bem com isso!
a minha mãe trabalhava como uma escrava, das 8h00 às 19h00, sensivelmente, com apenas uma meia horita para comer alguma coisa, a fingir que era o almoço. a restauração é dos sectores mais duros e limitadores que existem, falo por experiência própria. o seu trabalho consistia em assegurar tudo o que houvesse para assegurar num cozinha de restaurante, que era, ao mesmo tempo, pensão, snack bar e café. ou seja, a todos os momentos do dia, tinha que existir sempre algo para "mata-buchar" (expressão popular que deriva do não menos famoso "mata-bicho", muito usado na zona onde a minha mãe trabalhava). portanto, era trabalho non-stop, desde preparar os almoços, passando pelos lanches e acabando nos jantares. não havia tempo para descansar.
eu teria uns 8, 9 anos quando me apercebi disto, da carga hercúlea que ela e o meu pai tinham às costas, para poderem providenciar aos filhos, a mim e à minha irmã, três anos mais nova, uma vida confortável, digna e sem privações.
mas a minha mãe tinha os seus "truques", ou melhor, as suas formas de transformar tudo aquilo por que ela tinha de passar todos os dias numa espécie de recompensa no final do dia. ela tinha necessidade de, chegada ao final de um daqueles dias, se regalar com algo que ela entendia ser um prémio pelo esforço realizado. acredito mesmo que seria a pensar nisso que a minha mãe dava tudo o que tinha, para chegar ao fim do dia e ter a sua recompensa.
pois bem, a recompensa da minha mãe era muito simples: todos os dias, a minha mãe, quando saía do trabalho, tinha de levar consigo algo para degustar quando já estivesse de pijama, confortável, na sua cama, no pleno gozo do seu descanso. no verão, era sempre um gelado, primeiro os pernas de paus, mais tarde os magnum de amêndoas. não falhava! no inverno, era um chocolate jubileu, que dividia por duas semanas. mas era esta a rotina: chegava a casa, tomava banho, vestia o pijama, metia-se na cama e... recompensa! assistia a isto todos os dias, entendia, mas nunca lhe dei muita importância.
eu trabalho muito menos que a minha mãe. facto! nem me atrevo a comparar sequer a carga de trabalho. porém, há dias em que gosto de me mimar, e hoje foi um deles.
depois de uma semana de seis dias seguidos de trabalho, de um sábado em que dividi o tempo de ócio/folga com trabalho, cheguei ao domingo. acordei cedo, tomei banho e pequeno-almoço. decidi que seria tempo de, finalmente, sair de casa. aceitei o meu próprio desafio. vesti roupa desportiva e meti-me à estrada. rua direita abaixo, ribeira, parque radial de santiago. muito tempo a caminhar, tirar fotos e, essencialmente, a respirar. fundo, bem fundo! e a pensar. muito. muito mesmo...
chegado a casa, preparei o almoço, porque sabia o que lá vinha.
almocei, compassadamente, lavei a louça, mudei de roupa e... meti-me ao trabalho. estive quase cinco horas a trabalhar. texto, mais texto, mais texto, e por aí adiante.
acabei de trabalhar... e fui trabalhar. tinha-me comprometido que passaria pelo jornal para ajudar no fecho de edição. e lá fui. mais duas horas. num dia de folga...
a recompensa, perguntam vocês? pois, eu sabia que teria de me mimar, para me compensar por ter desperdiçado duas folgas com trabalho e, vá, algum ócio insatisfatório.
saí do jornal, fui a uma superfície comercial e, basicamente, tratei de me satisfazer com pequenos nadas que eu sabia que me iriam saber bem quando, já no meu período de descanso, as pudesse usufruir com conforto, sossego e tempo.
as práticas passam de pais para filhos, como se fossem matéria de testamento. hoje senti-me como a minha mãe em 1980. e senti-me mesmo muito bem com isso!