segunda-feira, setembro 26, 2011
very low and insignificant profile
quando era miúdo era normal delirar com os poderes dos super-heróis de banda desenhada. no entanto, o poder que mais desejava nada tinha a ver com força, destruição ou violência. era tão somente ser invisível. trinta anos depois, é gratificante verificar que esse poder me foi concedido. basta eu entrar num café...
dúvida
conhecem aquela sensação de se ser indispensável, de uma impreteribilidade absoluta, seja em que situação for, alegre ou triste, de trabalho ou lazer?
como é que é?
como é que é?
sábado, setembro 17, 2011
enclausuramento
a distância pode ser cruel e, por vezes, intolerantemente dolorosa. no entanto, acredito que a saudade embeleza os sentimentos, ajuda a moldá-los da forma correcta. perdemos muito tempo a contemplar o que já vivemos, a recordar quem nos faz falta. vagueamos pelas ruas e conseguimos facilmente vislumbrar nos semblantes das outras pessoas o mesmo aspecto carregado de saudosismo.
toda a gente sente a falta de alguém. toda a gente faz falta. é um fenómeno de massas. há pessoas que passam por nós diariamente, seja um carteiro, um polícia ou um estafeta, que certamente estará a fazer falta a alguém. todavia, a nós não nos dizem nada, literalmente. aliás, muito dificilmente me dirão algo, na medida em que, diariamente, exceptuando o trabalho, só comunico basicamente com empregados de café.
o tempo que passamos longe das pessoas de quem gostamos é interminável. por outro lado, o tempo que gastamos, ou perdemos, com pessoas que não nos dizem nada é uma monstruosa amargura. os dias passam e a frieza dos minutos, das horas a passar tornam-nos cada vez mais azedos, mais tristes. é muito fácil deixarmo-nos viciar pela tristeza, pela depressão. por vezes até é cómodo. é uma desculpa, como outra qualquer, para não funcionarmos, para vegetar.
há certamente pessoas com quem queremos estar, que querem estar connosco. mas quando olhamos à volta, vemos que não são aquelas que nos rodeiam. o mesmo sucederá com as outras pessoas em relação a mim... e por aí adiante. é praticamente um genocídio sentimental. e continuamos a perder tempo, dias, semanas, meses, sempre a ansiar por um reencontro, um regresso.
há quem acredite que a partir de uma certa idade se perde o luxo de ter amigos só por amizade. inventam-se novas categorias: "amigos de amigos", "amigos de familiares", "amigo que dá jeito porque eu não faço ideia de como se compõe uma persiana", "amigo que um dia me pode ser muito útil quando quiser abrir uma loja de peças para torradeiras", "amigo que me leva o carro à inspecção todos os anos se eu lhe pedir", etc.. a vida "obriga-nos" a alargar os nossos horizontes em termos sociais, dando especial relevo à via profissionalizante desses nossos contactos.
infelizmente, ou felizmente, ainda não decidi, não enveredei por essa prática. como já referi, o meu "público" são as funcionárias e os funcionários dos cafés e restaurantes. o resto do meu tempo é... para o saudosismo. nunca tive vocação nenhuma para estabelecer qualquer tipo de cumplicidade com desconhecidos. até fujo desse tipo de situações. por isso, abracei a solidão, habituei-me a ela. dessa forma, evito ser avaliado ou julgado, ou estar numa posição desconfortável de tentar agradar a alguém. os amigos que (ainda) tenho já vêm de longe e é deles que tenho saudade.
há quem endeuse esta palavra (saudade), mas ela é apenas o sinal evidente de que há qualquer coisa que não está bem. ou seja, alguém não está onde devia estar. simplesmente! saudade é amor ou amizade que se gasta sem proveito, provavelmente enquanto estamos a almoçar sozinhos numa esplanada qualquer, em silêncio, pensando que poderíamos estar a ter uma conversa estimulante com um amigo. ao invés, estamos enclausurados num básico "boa tarde, queria um café curto, se faz favor" (café esse que nunca, mas nunca mesmo, vem como a gente o pediu, ou seja, curto), provando que metade do que dizemos não se ouve mesmo (e eu já digo tão pouco...).
e o tempo vai-se gastando... sem piedade. fica, como consolação, o facto de imaginarmos que, algures, a 100 metros, a 10 ou a 800 quilómetros, haverá alguém a sentir o mesmo por nós. só espero que tenha mais sorte do que eu em relação ao café curto...
toda a gente sente a falta de alguém. toda a gente faz falta. é um fenómeno de massas. há pessoas que passam por nós diariamente, seja um carteiro, um polícia ou um estafeta, que certamente estará a fazer falta a alguém. todavia, a nós não nos dizem nada, literalmente. aliás, muito dificilmente me dirão algo, na medida em que, diariamente, exceptuando o trabalho, só comunico basicamente com empregados de café.
o tempo que passamos longe das pessoas de quem gostamos é interminável. por outro lado, o tempo que gastamos, ou perdemos, com pessoas que não nos dizem nada é uma monstruosa amargura. os dias passam e a frieza dos minutos, das horas a passar tornam-nos cada vez mais azedos, mais tristes. é muito fácil deixarmo-nos viciar pela tristeza, pela depressão. por vezes até é cómodo. é uma desculpa, como outra qualquer, para não funcionarmos, para vegetar.
há certamente pessoas com quem queremos estar, que querem estar connosco. mas quando olhamos à volta, vemos que não são aquelas que nos rodeiam. o mesmo sucederá com as outras pessoas em relação a mim... e por aí adiante. é praticamente um genocídio sentimental. e continuamos a perder tempo, dias, semanas, meses, sempre a ansiar por um reencontro, um regresso.
há quem acredite que a partir de uma certa idade se perde o luxo de ter amigos só por amizade. inventam-se novas categorias: "amigos de amigos", "amigos de familiares", "amigo que dá jeito porque eu não faço ideia de como se compõe uma persiana", "amigo que um dia me pode ser muito útil quando quiser abrir uma loja de peças para torradeiras", "amigo que me leva o carro à inspecção todos os anos se eu lhe pedir", etc.. a vida "obriga-nos" a alargar os nossos horizontes em termos sociais, dando especial relevo à via profissionalizante desses nossos contactos.
infelizmente, ou felizmente, ainda não decidi, não enveredei por essa prática. como já referi, o meu "público" são as funcionárias e os funcionários dos cafés e restaurantes. o resto do meu tempo é... para o saudosismo. nunca tive vocação nenhuma para estabelecer qualquer tipo de cumplicidade com desconhecidos. até fujo desse tipo de situações. por isso, abracei a solidão, habituei-me a ela. dessa forma, evito ser avaliado ou julgado, ou estar numa posição desconfortável de tentar agradar a alguém. os amigos que (ainda) tenho já vêm de longe e é deles que tenho saudade.
há quem endeuse esta palavra (saudade), mas ela é apenas o sinal evidente de que há qualquer coisa que não está bem. ou seja, alguém não está onde devia estar. simplesmente! saudade é amor ou amizade que se gasta sem proveito, provavelmente enquanto estamos a almoçar sozinhos numa esplanada qualquer, em silêncio, pensando que poderíamos estar a ter uma conversa estimulante com um amigo. ao invés, estamos enclausurados num básico "boa tarde, queria um café curto, se faz favor" (café esse que nunca, mas nunca mesmo, vem como a gente o pediu, ou seja, curto), provando que metade do que dizemos não se ouve mesmo (e eu já digo tão pouco...).
e o tempo vai-se gastando... sem piedade. fica, como consolação, o facto de imaginarmos que, algures, a 100 metros, a 10 ou a 800 quilómetros, haverá alguém a sentir o mesmo por nós. só espero que tenha mais sorte do que eu em relação ao café curto...
sexta-feira, setembro 16, 2011
infinite arms - band of horses
I had a dream
I had a dream
That I was your neighbor
About to give birth
And then everything
Was really hurt
And I was so lonely
I didn't see It's like
Living in a movie
Twisting the plot
My friends and family
The little things I've got, I've got
When my thoughts drift to you
I love the morning
I like to listen
To 4am birdies
Begging to feed
Now there's something here before me
A figure, I think
Isn't there a warning
Or something to drink
My god, my god
When my thoughts drift to you
These mended bones
The storms approach
Ever so slowly
Out on the sea
There's an animal below me
Lack of control
Others came before me
Others to come, to come
When my thoughts drift to you
(actuação dos band of horses, na semana passada, no talk show de conan o'brien)
quinta-feira, setembro 15, 2011
cyrano de bergerac
revi "cyrano de bergerac" no último fim de semana.
voltei a ficar com a sensação de que é este "o filme". vinte e um anos depois, continua a despertar as mesmas emoções, a comover e a apaixonar... gérard depardieu é assombroso como cyrano, a realização é eficiente, a fotografia excelente. já dissertei bastante sobre este filme neste blogue. o post serve apenas para confirmar, em absoluto, que este é mesmo o meu filme preferido de todos os tempos!
voltei a ficar com a sensação de que é este "o filme". vinte e um anos depois, continua a despertar as mesmas emoções, a comover e a apaixonar... gérard depardieu é assombroso como cyrano, a realização é eficiente, a fotografia excelente. já dissertei bastante sobre este filme neste blogue. o post serve apenas para confirmar, em absoluto, que este é mesmo o meu filme preferido de todos os tempos!
terça-feira, setembro 13, 2011
queimar etapas
estou cada vez mais convencido de que estou neste mundo apenas para ver, não me interessando minimamente participar. na minha juventude saltei todas as etapas que a maioria considerava fulcrais: baile de finalistas, praxes, latadas, queimas... ao invés, entrei cedo no mercado de trabalho porque queria definir rapidamente o meu futuro. é o que dá crescer num corpo que sempre aparentou ter cinco ou seis anos a mais do que os verdadeiros. no liceu, quando comparavam a minha envergadura física com a dos meus restantes colegas, não faltavam pessoas a pensar que eu precisava de três anos para passar um ano de escolaridade. quando jogava futebol federado acontecia o mesmo "drama": quando era iniciado, diziam que havia aldrabice porque eu parecia juvenil; quando cheguei a juvenil, fartava-me de ouvir bocas do público (geralmente quando jogava fora de casa), acusando-me de já ser júnior. finalmente, ao chegar a júnior, pude descansar um pouco, mas havia sempre um "esperto" qualquer a chamar-me de sénior, provavelmente por causa da minha barba (que cresce desmesuradamente desde os meus 13 anos). assim, todas estas pequenas incidências (com grande impacto no meu crescimento) fizeram com que eu desejasse chegar o mais rapidamente possível ao mundo dos adultos. agora que aqui estou, que já dei umas voltas para ver o ambiente e meti conversa com dois ou três espécimes, apetece-me pagar a conta, meter-me no carro e voltar ao ano de 1988 (não faço a mínima ideia de qual será a melhor estrada para isso, vou tentar ir por ermesinde, virando à direita em esposende, atravessando o douro em amarante e cortando à esquerda em carrazeda de ansiães). sim, confesso que sinto a falta de alguma loucura, de alguma irreverência, de alguma extravagância juvenil. e porquê? pode parecer estúpido agora, mas na altura não queria defraudar aquelas pessoas que já viam em mim, um puto de 14/15 anos, um adulto, e tentei ser o mais "atinadinho" possível, sem desvios comportamentais ou psicológicos. quando se cresce num meio pequeno, onde toda a gente se conhece, é complicado cometer um pequeno devaneio que seja sem se ficar imediatamente conotado ou rotulado. mesmo assim, foi nessa miserável terra que tive oportunidade de experimentar um "cheirinho" das três profissões que, desde cedo, queria seguir: fui futebolista durante seis anos, tendo chegado, no penúltimo ano, à selecção distrital sub-17 de viseu, como defesa-central (a minha altura tinha que servir para alguma coisa); actuei ao vivo, como músico (escrito assim até parece algo de especial, mas já de seguida vão ficar a saber que... nem por isso), como elemento da escola de música "lira", interpretando, no órgão, a famosa canção popular francesa do século XVIII "au clair de la lune"; e fiz teatro amador durante quatro anos, chegando a acumular, na mesma peça ("o saco das nozes"), dois papéis (marido violento e padre). recordo com particular saudade os ensaios, as actuações, o friozinho que corria pela espinha quando se aproximava a altura de entrar em palco, o alívio enorme quando acabava uma sessão, as diabólicas cócegas que os bigodes postiços causavam, a roupa desconfortável e os sapatos apertados, a férrea resistência a qualquer boca que viesse da assistência para nos fazer rir, as cábulas escondidas no cenário para não falharmos uma deixa, os improvisos, as "brancas", as pancadinhas de moliére e... os aplausos, que felizmente eram sempre muitos. bons tempos! dos melhores, certamente, que passei naquela miserável terra.
quando mudei para outra terra, senti-me revigorado, pronto para recomeçar a construir um outro eu, uma nova identidade. fiz amigos, criei novas rotinas e cresci bastante em termos psicológicos, sociais e intelectuais. rapidamente me entrosei, me senti em casa. no meu primeiro ano de liceu em viseu, 10º ano de escolaridade, vivia mesmo no centro da cidade. apetecia-me sempre andar na rua, passear pela rua formosa, cheirar as tílias do rossio e a relva molhada do parque aquilino ribeiro (por onde passava todos os dias para ir às aulas), calcorrear a rua direita e a zona histórica... foi um gigantesco "banho" de viseu, um novo baptismo espiritual, que me fez cair de amores por esta cidade para o resto da vida.
três anos depois, deu-se a despedida. coimbra chamou por mim. ainda lhe dei o benefício da dúvida durante uns meses, mas a minha cidade de eleição já tinha sido encontrada. senti-me desamparado em coimbra, não fui capaz de absorver a cidade da mesma forma. sabia que me estava a enganar a mim mesmo ao prolongar aquele martírio, mas não queria desapontar os meus pais, especialmente a minha mãe, grande admiradora do fado de coimbra, das tunas e das serenatas. mas algum tempo depois o barco bateu no icebergue (excelente analogia! diria mais: brilhante!). desabafei com os meus pais, dei-lhes um grande desgosto e uma desilusão que jamais esqueceram (a minha mãe suspira sempre que vê uma tuna na televisão) e voltei. adeus latadas, queimas, bebedeiras de caixão à cova, concertos do quim barreiros, sexo desenfreado sem obrigações morais, "directas" a estudar, pequenos-almoços às cinco da tarde, mais concertos do quim barreiros, mais sexo desenfreado sem obrigações morais e sem telefonema obrigatório no dia seguinte, preservativos de todas as cores, lingerie comestível, cogumelos esquisitos, "o bacalhau quer alho" em altos berros, sexo desenfreado com gémeas polacas do erasmus, colecção de garrafas vazias de absinto na cozinha, pilha de roupa suja na marquise, cama por fazer há quatro meses, quim barreiros novamente e, para acabar, sexo desenfreado no banco traseiro de um renault 5 laureate gtl com a equipa feminina de voleibol do castêlo da maia. perdi tudo isto, sem que alguma vez possa recuperar seja o que for (bem, talvez o quim barreiros). será que quem passou por isto tudo atribui alguma importância a estes anos das suas vidas? creio que sim, pelo menos a acreditar em alguns meus amigos. entraram na vida adulta mais aliviados, mais leves, em clara descompressão. esgotaram totalmente o plafond de "loucuras permitidas" que lhe foi atribuído aquando da entrada na universidade e encararam, de forma positiva, a vida laboral, com memórias e incidências suficientes para centenas de coffee-breaks nas empresas onde trabalham. as minhas histórias, quando muito, dariam para uma pausa para um cigarro no parque de estacionamento. nem sequer para um charuto davam. mas já estou completamente resignado, acreditem. por estes dias, depois de intensa introspecção e alguma terapia, só ainda não consegui tirar da cabeça as gémeas polacas do programa erasmus...
quando mudei para outra terra, senti-me revigorado, pronto para recomeçar a construir um outro eu, uma nova identidade. fiz amigos, criei novas rotinas e cresci bastante em termos psicológicos, sociais e intelectuais. rapidamente me entrosei, me senti em casa. no meu primeiro ano de liceu em viseu, 10º ano de escolaridade, vivia mesmo no centro da cidade. apetecia-me sempre andar na rua, passear pela rua formosa, cheirar as tílias do rossio e a relva molhada do parque aquilino ribeiro (por onde passava todos os dias para ir às aulas), calcorrear a rua direita e a zona histórica... foi um gigantesco "banho" de viseu, um novo baptismo espiritual, que me fez cair de amores por esta cidade para o resto da vida.
três anos depois, deu-se a despedida. coimbra chamou por mim. ainda lhe dei o benefício da dúvida durante uns meses, mas a minha cidade de eleição já tinha sido encontrada. senti-me desamparado em coimbra, não fui capaz de absorver a cidade da mesma forma. sabia que me estava a enganar a mim mesmo ao prolongar aquele martírio, mas não queria desapontar os meus pais, especialmente a minha mãe, grande admiradora do fado de coimbra, das tunas e das serenatas. mas algum tempo depois o barco bateu no icebergue (excelente analogia! diria mais: brilhante!). desabafei com os meus pais, dei-lhes um grande desgosto e uma desilusão que jamais esqueceram (a minha mãe suspira sempre que vê uma tuna na televisão) e voltei. adeus latadas, queimas, bebedeiras de caixão à cova, concertos do quim barreiros, sexo desenfreado sem obrigações morais, "directas" a estudar, pequenos-almoços às cinco da tarde, mais concertos do quim barreiros, mais sexo desenfreado sem obrigações morais e sem telefonema obrigatório no dia seguinte, preservativos de todas as cores, lingerie comestível, cogumelos esquisitos, "o bacalhau quer alho" em altos berros, sexo desenfreado com gémeas polacas do erasmus, colecção de garrafas vazias de absinto na cozinha, pilha de roupa suja na marquise, cama por fazer há quatro meses, quim barreiros novamente e, para acabar, sexo desenfreado no banco traseiro de um renault 5 laureate gtl com a equipa feminina de voleibol do castêlo da maia. perdi tudo isto, sem que alguma vez possa recuperar seja o que for (bem, talvez o quim barreiros). será que quem passou por isto tudo atribui alguma importância a estes anos das suas vidas? creio que sim, pelo menos a acreditar em alguns meus amigos. entraram na vida adulta mais aliviados, mais leves, em clara descompressão. esgotaram totalmente o plafond de "loucuras permitidas" que lhe foi atribuído aquando da entrada na universidade e encararam, de forma positiva, a vida laboral, com memórias e incidências suficientes para centenas de coffee-breaks nas empresas onde trabalham. as minhas histórias, quando muito, dariam para uma pausa para um cigarro no parque de estacionamento. nem sequer para um charuto davam. mas já estou completamente resignado, acreditem. por estes dias, depois de intensa introspecção e alguma terapia, só ainda não consegui tirar da cabeça as gémeas polacas do programa erasmus...
segunda-feira, setembro 12, 2011
irreversivelmente
falha-se o momento, perde-se a oportunidade... e o mundo avança, sem piedade, sem contemplações. mais uma ruga, mais 134 cabelos brancos, mais uma colecção de frases que deveriam ter sido proferidas em determinado momento mas que só nos surgem horas depois. a vida é construída de pequenos nadas, em que até uma mera palavra, dita no momento exacto e com a respectiva eloquência, pode fazer toda a diferença, seja no emprego, na vida pessoal, familiar ou numa colectividade recreativa e social. até pode ser uma palavra tão simples como "sim", "não" ou "trombocitopenia". a questão é dizê-la quando realmente interessa, quando ela pode fazer toda a diferença. acumular sentimentos, remoer amarguras sem as extravasar, reviver momentos passados ao segundo, analisando todas as palavrinhas, vírgulas e pontos finais, é tão saudável como andar de bicicleta em fukushima.
por mais "programados" que estejamos para enfrentar determinado momento das nossas vidas, quando ele surge parece que o nosso cérebro ganhou uma aridez nunca antes vista. a lógica é a mesma de um hotel ter um dia semanal de descanso. não há nenhuma lógica que explique como é que se pode estar preparado para algo, às vezes com o diálogo já todo decorado e na ponta da língua, e depois, quando é realmente a valer, ficar petrificado e com as cordas vocais entrelaçadas. o momento está lá, os intervenientes também, mas a conversa programada dilui-se como o pó de uma saqueta de alka-seltzer num copo de água. no final, quando o nosso cérebro recupera do choque e já conseguimos processar novamente o argumento previamente estabelecido, apetece voltar a chamar a pessoa, ou pessoas, para, então, repetir o momento. mas este, quando se perde, nunca volta. é o chamado "síndrome miles raymond" - quem viu o filme "sideways" sabe do que estou a falar. faz lembrar, também, um episódio de "seinfeld", em que george costanza é alvo de chacota no seu local de trabalho, por comer camarões em catadupa e de forma alarve ("hey george, the ocean called; they're running out of shrimp"). na altura, fica sem palavras, mas horas mais tarde lembra-se da resposta perfeita. nos dias seguintes, no escritório, tenta desesperadamente repetir a situação inicial, de forma a poder responder adequadamente ao comentário do seu colega de trabalho. obviamente, apesar de conseguir dizer o que tinha "engatilhado" há dias, o impacto não é o mesmo. os timings, nestas situações, são vitais.
george clooney, em "up in the air", é um homem solitário, habituado a viajar de um lado para o outro, sem residência fixa, sem amarras emocionais ou familiares. no entanto, quando começa a vacilar sentimentalmente, por vera farmiga, vai perdendo, sucessivamente, o momento exacto para "oficializar" o que sente, isto apesar de ela lhe dizer que "i am the woman that you don't have to worry about" (e mais tarde saberemos o que ela quis dizer com isto). quando eles se despedem, no aeroporto (where else?), depois de um fim de semana juntos, ela diz-lhe "call me when you're feeling lonely". enquanto ela se vai afastando, ele diz "i'm feeling lonely right now", sem que ela ouça. mas que raio, se nem o george clooney consegue "sacar" um momento destes, que esperança temos nós, a ralé feiosa e totalmente desprovida de charme? mas confesso que gostei de ver, tanto em "500 days of summer" como em "up in the air", duas personagens femininas verdadeiramente independentes a nível emocional e de fortes convicções a nível sentimental: zooey deschanel e vera farmiga.
voltando à terra, cada um de nós é responsável pelos momentos que perde, por todas as frases que não chegou a dizer, pelos "amo-te" que não confessou, os "tens mau hálito", os "já ouviste falar em desodorizante?", ou os "raios me partam se esse decote não é das coisas mais sensuais que eu já vi na vida". em suma, por tudo o que ficou a entulhar o telencéfalo ao longo dos anos. seríamos mais felizes se tivéssemos dito tudo o que nos passou pela cabeça? nunca se saberá... mas, em todo o caso, os momentos já passaram e as oportunidades goraram-se. irreversivelmente.
por mais "programados" que estejamos para enfrentar determinado momento das nossas vidas, quando ele surge parece que o nosso cérebro ganhou uma aridez nunca antes vista. a lógica é a mesma de um hotel ter um dia semanal de descanso. não há nenhuma lógica que explique como é que se pode estar preparado para algo, às vezes com o diálogo já todo decorado e na ponta da língua, e depois, quando é realmente a valer, ficar petrificado e com as cordas vocais entrelaçadas. o momento está lá, os intervenientes também, mas a conversa programada dilui-se como o pó de uma saqueta de alka-seltzer num copo de água. no final, quando o nosso cérebro recupera do choque e já conseguimos processar novamente o argumento previamente estabelecido, apetece voltar a chamar a pessoa, ou pessoas, para, então, repetir o momento. mas este, quando se perde, nunca volta. é o chamado "síndrome miles raymond" - quem viu o filme "sideways" sabe do que estou a falar. faz lembrar, também, um episódio de "seinfeld", em que george costanza é alvo de chacota no seu local de trabalho, por comer camarões em catadupa e de forma alarve ("hey george, the ocean called; they're running out of shrimp"). na altura, fica sem palavras, mas horas mais tarde lembra-se da resposta perfeita. nos dias seguintes, no escritório, tenta desesperadamente repetir a situação inicial, de forma a poder responder adequadamente ao comentário do seu colega de trabalho. obviamente, apesar de conseguir dizer o que tinha "engatilhado" há dias, o impacto não é o mesmo. os timings, nestas situações, são vitais.
george clooney, em "up in the air", é um homem solitário, habituado a viajar de um lado para o outro, sem residência fixa, sem amarras emocionais ou familiares. no entanto, quando começa a vacilar sentimentalmente, por vera farmiga, vai perdendo, sucessivamente, o momento exacto para "oficializar" o que sente, isto apesar de ela lhe dizer que "i am the woman that you don't have to worry about" (e mais tarde saberemos o que ela quis dizer com isto). quando eles se despedem, no aeroporto (where else?), depois de um fim de semana juntos, ela diz-lhe "call me when you're feeling lonely". enquanto ela se vai afastando, ele diz "i'm feeling lonely right now", sem que ela ouça. mas que raio, se nem o george clooney consegue "sacar" um momento destes, que esperança temos nós, a ralé feiosa e totalmente desprovida de charme? mas confesso que gostei de ver, tanto em "500 days of summer" como em "up in the air", duas personagens femininas verdadeiramente independentes a nível emocional e de fortes convicções a nível sentimental: zooey deschanel e vera farmiga.
voltando à terra, cada um de nós é responsável pelos momentos que perde, por todas as frases que não chegou a dizer, pelos "amo-te" que não confessou, os "tens mau hálito", os "já ouviste falar em desodorizante?", ou os "raios me partam se esse decote não é das coisas mais sensuais que eu já vi na vida". em suma, por tudo o que ficou a entulhar o telencéfalo ao longo dos anos. seríamos mais felizes se tivéssemos dito tudo o que nos passou pela cabeça? nunca se saberá... mas, em todo o caso, os momentos já passaram e as oportunidades goraram-se. irreversivelmente.
o filme da minha vida...
confesso que continuo sem saber qual é o meu papel nesta grande produção chamada "vida". em virtude das minhas limitações, talvez não ouse almejar mais do que um papel secundário, daqueles sem direito sequer a uma linha no filme. é mais do que evidente, trinta e nove anos depois, que o filme está a ser rodado noutro lado qualquer, que a acção nunca há-de passar por estes lados. no máximo, aparecerei como aquele que é quase atropelado pelo autocarro no "speed", ou um dos escoceses que morrem ao lado de william wallace em "braveheart". nem terei direito ao meu dramático "freeedooom". limitar-me-ia a levar com uma seta no peito e a tombar, tal como centenas dos meus irmãos escoceses, nessa luta pela independência do jugo britânico.
há igualmente uma crescente preocupação em relação ao género do filme. comédia ou drama? porque se há alturas em que me sinto um jim carrey, em filmes como "yes" ou "ace ventura", há outras em que visto as roupas de um jack baker, em "the fabulous baker boys", ou de um miles raymond, em "sideways". ou seja, se eu fosse escolhido como actor principal desta grande produção, hesitaria bastante quando tivesse que escolher um dos registos. ainda não cheguei a nenhuma conclusão neste domínio. a minha vida daria uma comédia ou um drama? e, havendo um produtor completamente lunático disposto a levar a minha vida ao grande ecrã, quem entraria no meu filme? que momentos da minha vida seriam realçados? e teria cenas de acção frenéticas ou, pelo menos, uma perseguição de carro? um affair? um "love interest"? um homicídio passional? um iceberg? vampiros? um vírus mortal? provavelmente, teriam que incluir tudo isto no filme, para ficar minimamente apetecível gastar cinco euros para o ver no cinema. se o filme fosse apenas baseado na minha vida seria um autêntico soporífero. seria uma espécie de "groundhog day", o filme em que bill murray é obrigado a reviver o mesmo dia... todos os dias, encontrando sempre as mesmas pessoas e passando constantemente pelas mesmas situações, mas com muito menos piada, obviamente. resultaria um "groundhog day" como se fosse realizado por manoel de oliveira, o que, ainda por cima, significaria que eu teria que arranjar um papel para o luís miguel cintra e para o ricardo trêpa (como se já não houvesse dezenas de personagens aborrecidas no "meu" filme).
como personagem principal do filme (do tal lunático e, sejamos francos, demente produtor), não cativaria nem apelaria a ninguém (provavelmente só aquela franja de espectadores que considera o filme "branca de neve", de joão césar monteiro, o melhor filme de sempre), tanto a nível psicológico, como físico. daí que, para tornar o filme um pouco mais interessante, tal como fiz há anos e na medida em que estamos a fazer cócegas à imaginação neste exercício especulativo que chega a roçar a pura imbecilidade, me permitam que vá buscar os seguintes atributos a algumas personagens masculinas:
- a eloquência e a destreza de gerard depardieu em "cyrano de bergerac"
- os dotes artísticos e o virtuosismo de geophrey rush em "shine"
- a inteligência e o discernimento de morgan freeman em "seven"
- ser sedutor como daniel day lewis em "a idade da inocência"
- a "pinta" do jeff bridges em "os fabulosos irmãos baker"
- o sex appeal de george clooney em "out of sight"
- o sentido de humor de woody allen em "annie hall"
- o charme natural de hugh grant em "notting hill"
- o cavalheirismo de clint eastwood em "as pontes de madison county"
- a paixão profissional de robin williams em "o clube dos poetas mortos"
- o carácter meticuloso de tim robbins em "shawshank redemption"
- o optimismo e altruísmo de roberto benigni em "a vida é bela"
- a integridade de paul giamatti em "sideways".
com tudo isto, nem o manoel de oliveira conseguiria estragar o filme da minha vida. a única coisa que o poderia fazer seria... o argumento.
há igualmente uma crescente preocupação em relação ao género do filme. comédia ou drama? porque se há alturas em que me sinto um jim carrey, em filmes como "yes" ou "ace ventura", há outras em que visto as roupas de um jack baker, em "the fabulous baker boys", ou de um miles raymond, em "sideways". ou seja, se eu fosse escolhido como actor principal desta grande produção, hesitaria bastante quando tivesse que escolher um dos registos. ainda não cheguei a nenhuma conclusão neste domínio. a minha vida daria uma comédia ou um drama? e, havendo um produtor completamente lunático disposto a levar a minha vida ao grande ecrã, quem entraria no meu filme? que momentos da minha vida seriam realçados? e teria cenas de acção frenéticas ou, pelo menos, uma perseguição de carro? um affair? um "love interest"? um homicídio passional? um iceberg? vampiros? um vírus mortal? provavelmente, teriam que incluir tudo isto no filme, para ficar minimamente apetecível gastar cinco euros para o ver no cinema. se o filme fosse apenas baseado na minha vida seria um autêntico soporífero. seria uma espécie de "groundhog day", o filme em que bill murray é obrigado a reviver o mesmo dia... todos os dias, encontrando sempre as mesmas pessoas e passando constantemente pelas mesmas situações, mas com muito menos piada, obviamente. resultaria um "groundhog day" como se fosse realizado por manoel de oliveira, o que, ainda por cima, significaria que eu teria que arranjar um papel para o luís miguel cintra e para o ricardo trêpa (como se já não houvesse dezenas de personagens aborrecidas no "meu" filme).
como personagem principal do filme (do tal lunático e, sejamos francos, demente produtor), não cativaria nem apelaria a ninguém (provavelmente só aquela franja de espectadores que considera o filme "branca de neve", de joão césar monteiro, o melhor filme de sempre), tanto a nível psicológico, como físico. daí que, para tornar o filme um pouco mais interessante, tal como fiz há anos e na medida em que estamos a fazer cócegas à imaginação neste exercício especulativo que chega a roçar a pura imbecilidade, me permitam que vá buscar os seguintes atributos a algumas personagens masculinas:
- a eloquência e a destreza de gerard depardieu em "cyrano de bergerac"
- os dotes artísticos e o virtuosismo de geophrey rush em "shine"
- a inteligência e o discernimento de morgan freeman em "seven"
- ser sedutor como daniel day lewis em "a idade da inocência"
- a "pinta" do jeff bridges em "os fabulosos irmãos baker"
- o sex appeal de george clooney em "out of sight"
- o sentido de humor de woody allen em "annie hall"
- o charme natural de hugh grant em "notting hill"
- o cavalheirismo de clint eastwood em "as pontes de madison county"
- a paixão profissional de robin williams em "o clube dos poetas mortos"
- o carácter meticuloso de tim robbins em "shawshank redemption"
- o optimismo e altruísmo de roberto benigni em "a vida é bela"
- a integridade de paul giamatti em "sideways".
com tudo isto, nem o manoel de oliveira conseguiria estragar o filme da minha vida. a única coisa que o poderia fazer seria... o argumento.
domingo, setembro 11, 2011
inconsequência
acho que nunca vou ser capaz de entender a lógica que define o destino do meu próprio mundo. sou constantemente atropelado por seguir um caminho de onde já estão a regressar todas as outras pessoas. se for eu a descobrir outro caminho, sou derrubado e ultrapassado por toda a gente que quer chegar mais rápido. não encontro conforto na intermitência da minha vida social, nos esporádicos e breves contactos, na fugacidade dos encontros, na competitiva troca de palavras em que se coloca em confronto a miserabilismo da condição humana, na ansiedade de uma próxima vez, nos imponderáveis silêncios e afastamentos, na incerteza do próximo dia. mas recuso, ao mesmo tempo, fazer a auto-promoção necessária para abrir novas portas, nadar em oceanos em vez de rios, percorrer estradas em vez de caminhos...
desta forma, continuarei a definhar, dia após dia, na minha inconsequência, num mundo (o real e o virtual) que nunca chega a parar para eu, finalmente, entrar. dia após dia, a mesma ânsia de culpabilização interior, o desboroar lento e previsível de uma indómita vontade de encaixar em algum lado, de fazer parte de alguma coisa. vou escurecendo lentamente, transformando ímpetos em poeira e potenciais sorrisos em taciturnos semblantes, coarctando a minha própria boa vontade. trago comigo, sempre, os meus melhores amigos, a ironia e o sarcasmo, para me defenderem de qualquer invasão ou tentativa de aproximação exterior. se o mundo é um oceano, eu não sei claramente nadar; e quando aprender, tenho a certeza que deixará de existir água... voltarei a chegar tarde demais, como sempre.
será sempre esta a minha grande dúvida: não me consigo ou não me quero integrar?
desta forma, continuarei a definhar, dia após dia, na minha inconsequência, num mundo (o real e o virtual) que nunca chega a parar para eu, finalmente, entrar. dia após dia, a mesma ânsia de culpabilização interior, o desboroar lento e previsível de uma indómita vontade de encaixar em algum lado, de fazer parte de alguma coisa. vou escurecendo lentamente, transformando ímpetos em poeira e potenciais sorrisos em taciturnos semblantes, coarctando a minha própria boa vontade. trago comigo, sempre, os meus melhores amigos, a ironia e o sarcasmo, para me defenderem de qualquer invasão ou tentativa de aproximação exterior. se o mundo é um oceano, eu não sei claramente nadar; e quando aprender, tenho a certeza que deixará de existir água... voltarei a chegar tarde demais, como sempre.
será sempre esta a minha grande dúvida: não me consigo ou não me quero integrar?
incapacidades
tenho saudades de ter saudades de alguém. uma vida assim vazia, sem o contar dos dias, das horas para se ver uma determinada pessoa, tende a cair num marasmo irrecuperável, em que nunca há nada à nossa espera em cada dia que nasce. eu gosto de ter saudades das pessoas, dos momentos que partilhei e do que elas me fizeram sentir.
um ser humano, por muito misantropo que seja, carrega sempre consigo uma carga emocional, sendo que umas são naturalmente mais pesadas que outras, em função do que se viveu até agora. o presente e o futuro ainda não aconteceram. mas enquanto há pessoas que sabem perfeitamente o que lhes reserva esse presente e esse futuro, porque conhecem muito bem a "bagagem" que carregam e os créditos que granjearam ao longo da sua vida, sabendo, portanto, que nunca lhes faltará alguém de quem sentir saudades ou ansiar por um novo encontro, outras há que, se forem à janela espreitar o seu horizonte apenas contemplarão um árido deserto nesse domínio.
sinto que estou neste último grupo há algum tempo já, e, sinceramente, não sei o que sentir, porque me encontro dividido, tal como sempre me senti, entre ser uma "people person", daquelas dedicadas, que fazem tudo pelos amigos, pelos amigos dos amigos, pela família dos amigos, no sentido de aumentar a sua rede de conhecimentos pessoais, e ser um completo misantropo, avesso a qualquer contacto social, mesmo os mais ligeiros, como cumprimentar alguém na rua com um simples "bom dia".
aos 39 anos de idade, sinto que ainda não sei quem sou. pior: sinto que não sei o que quero ser. faça o que fizer, interpretando os dois papéis acima referidos, seja em que situação for, acabo sempre por me recriminar, por sentir que não fui eu mesmo. confuso? é capaz de ser um pouco. trata-se de um complicado caso de bipolaridade. a questão é esta: em que circunstâncias é que sou eu mesmo, sem hipocrisias, sem tiques artificiais para impressionar, sem arrogâncias estéreis ou laivos de superioridade? ou eu sou realmente assim, com todas as características que apontei? será que tenho um feitio tão insuportavelmente cretino e cabotino que, a pouco e pouco, afugento toda a gente à minha volta?
se me é permitido responder às minhas próprias perguntas, eu acho que sim. analisando os últimos quinze anos da minha vida, em termos puramente sociais, é muito mais fácil contabilizar as pessoas que ficaram pelo caminho do que aquelas que conheci e com quem desenvolvi algum tipo de relação de amizade. portanto, a conclusão é bastante fácil de tirar. sendo eu, ainda por cima, uma pessoa pouco talhada para impressionar alguém nos primeiros encontros, devo ser a pessoa com maior número de piores "primeiras impressões" à superfície da terra, falhando geralmente os "mínimos" para garantir, pelo menos, uma "segunda impressão", sinto que estou, irremediavelmente, num beco sem saída. são já muito poucas as pessoas que leram o meu manual de instruções e decidiram "comprar o produto".
por coincidência, ou não, como estamos quase no outono, aos poucos a minha árvore vai ficando sem folhas. elas vão caindo, uma a uma, levando com elas a irreversibilidade do momento em que conseguem soltar-se, precipitando-se numa queda aliviada para o chão. aqueles tempos em que, como pessoa ansiosa que sou, contava os dias que faltavam para me encontrar com amigos já lá vão. tenho que me render às evidências. falhei redondamente neste aspecto da minha vida, tal como noutros. sou obrigado a reconhecer que ainda não tenho uma personalidade devidamente estabilizada e coerente para me "soltarem" na sociedade.
se eu fosse um computador, aceitaria, por esta altura, um "reset" total ou, em último caso, que me devolvessem à fábrica, por manifesto erro de fabrico. como não sou um computador, resta-me agradecer às pessoas que me fizeram chegar a esta conclusão. porventura, demorei tempo demasiado a aceitá-la, mas esta é uma consequência natural de quem luta diariamente com duas personalidades diferentes: aquela que queria ter e a que realmente tenho.
"vintes" vs. "trintas"
os "trintas" são tramados, não tenham dúvidas. é aquela altura da vida em que se definem as nossas prioridades, em que se faz aquela transição, nem sempre fácil, entre uma vida de solteiro e uma vida de casado. enquanto solteiros, o mais normal é manter durante vários anos as amizades que se foram cimentando durante a vida de estudante, nos liceus, nas universidades, etc.. mesmo quando surge uma namorada na nossa vida, é de certa forma fácil conciliar os dois mundos e, apesar das exigências de ambos os lados, o pensamento que impera nesta fase é o de que a vida deveria ser sempre assim, com os amigos e a namorada sempre "à mão", dependendo do nosso estado de espírito.
os "vintes" são, dessa forma, fantásticos, porque há um pouco de tudo na nossa vida: ainda há vida de estudante, com as consequentes loucuras sazonais, há a emoção do primeiro emprego, as borbulhas começam finalmente a desaparecer, decidimos que "look" é que vamos adoptar ao entrar na chamada "vida adulta" (pêra, barba de três dias, bigode à freddie mercury, cabelinho "à fosga-se", risco ao meio), conduzimos o nosso primeiro carro, temos o nosso primeiro acidente de viação, ainda temos energia para parques de campismo, discotecas e batalhas de shot's, ainda há bebidas alcoólicas para experimentar e, sobretudo, já não temos, finalmente, hora para chegar a casa, porque experimentamos pela primeira vez as maravilhas de viver sozinho.
basicamente, the world is your oyster, ou seja, estamos a retirar tudo o que queremos da vida, da forma como queremos e quando queremos. nos "vintes", depois de muitos anos a obedecer às regras parentais, nós fazemos as nossas próprias regras. se quisermos ficar a dormir até ao meio dia num sábado, tomar o pequeno-almoço à uma da tarde, dormir mais um bocado, porque a noite foi "puxada", e almoçar apenas às seis, podemos fazê-lo sem recriminações. à noite, estamos novamente fresquinhos para repetir a dose.
pois, os "vintes" não têm comparação com mais nenhuma época da nossa vida. os amigos são realmente amigos, aturam-nos tudo, embarcam em todas as nossas loucuras, não desperdiçam vinho nem palavras e são, acima de tudo, mais honestos e francos, sobretudo quando estão embriagados. é nesta altura das nossas vidas que descobrimos que os nossos amigos só dizem determinadas coisas quando estão "tocados", abandonando todas as camadas de timidez e preconceito para dizerem bacoradas como "tu és um tipo muito porreiro", ou "sempre achei que ficavas muito sexy com essas calças", ou ainda "fui eu que atropelei acidentalmente o teu gato". depois, vomitar nos "vintes" é de homem, ou um sinal de que nos estamos a tornar uns homenzinhos; vomitar nos "trintas" é deprimente, para quem vomita e para quem vê.
uma noitada nos "trintas" é diferente. já existem horas para chegar a casa, temos sempre que conduzir até casa, o fígado já começa a dar de si e a "controlar" o que bebemos, até os amigos e as conversas são diferentes. nos "trintas" já não queremos dominar o mundo, marcar uma posição, falar mais alto do que os outros para impressionar a sala inteira; só queremos é ser bem atendidos e passar o mais despercebidos possível, sobretudo quando estamos num ambiente... cheio de "vintes". certamente que, quando andava pelos "vintes", pouca importância dava aos "trintas", porque na maior parte das vezes, nas saídas nocturnas, estavam sempre aquela mesa mais silenciosa, só se fazendo notar quando olhavam incredulamente para nós, os "vintes", na maior algazarra e animação. agora, os papéis inverteram-se.
os "trintas" já nem querem sair à noite por se sentirem deslocados ou, lá está, por terem assumido outras prioridades na vida. esta transição não é visível a olho nu e muito menos palpável, mas acontece e marca decisivamente o adeus aos "vintes". nos "trintas", o mundo já não é a nossa ostra, no máximo é uma ameijoa, e o grande objectivo passa a ser, essencialmente, a gestão desse grande empreendimento chamado família. a tendência é, quer se queira, quer não, termos outros amigos, com as mesmas prioridades e estilo de vida, pessoas que nos compreendam e respeitem a nossa "missão". agora, em vez de estarmos às 4 da manhã a beber mais um shot, estamos na cozinha a preparar um biberon de leite.
os "trintas" demoram um pouco a resignar-se, mas quando se conformam é para o resto da vida. regressar aos "vintes", só num de lorean, como no "regresso ao futuro"...
os "vintes" são, dessa forma, fantásticos, porque há um pouco de tudo na nossa vida: ainda há vida de estudante, com as consequentes loucuras sazonais, há a emoção do primeiro emprego, as borbulhas começam finalmente a desaparecer, decidimos que "look" é que vamos adoptar ao entrar na chamada "vida adulta" (pêra, barba de três dias, bigode à freddie mercury, cabelinho "à fosga-se", risco ao meio), conduzimos o nosso primeiro carro, temos o nosso primeiro acidente de viação, ainda temos energia para parques de campismo, discotecas e batalhas de shot's, ainda há bebidas alcoólicas para experimentar e, sobretudo, já não temos, finalmente, hora para chegar a casa, porque experimentamos pela primeira vez as maravilhas de viver sozinho.
basicamente, the world is your oyster, ou seja, estamos a retirar tudo o que queremos da vida, da forma como queremos e quando queremos. nos "vintes", depois de muitos anos a obedecer às regras parentais, nós fazemos as nossas próprias regras. se quisermos ficar a dormir até ao meio dia num sábado, tomar o pequeno-almoço à uma da tarde, dormir mais um bocado, porque a noite foi "puxada", e almoçar apenas às seis, podemos fazê-lo sem recriminações. à noite, estamos novamente fresquinhos para repetir a dose.
pois, os "vintes" não têm comparação com mais nenhuma época da nossa vida. os amigos são realmente amigos, aturam-nos tudo, embarcam em todas as nossas loucuras, não desperdiçam vinho nem palavras e são, acima de tudo, mais honestos e francos, sobretudo quando estão embriagados. é nesta altura das nossas vidas que descobrimos que os nossos amigos só dizem determinadas coisas quando estão "tocados", abandonando todas as camadas de timidez e preconceito para dizerem bacoradas como "tu és um tipo muito porreiro", ou "sempre achei que ficavas muito sexy com essas calças", ou ainda "fui eu que atropelei acidentalmente o teu gato". depois, vomitar nos "vintes" é de homem, ou um sinal de que nos estamos a tornar uns homenzinhos; vomitar nos "trintas" é deprimente, para quem vomita e para quem vê.
uma noitada nos "trintas" é diferente. já existem horas para chegar a casa, temos sempre que conduzir até casa, o fígado já começa a dar de si e a "controlar" o que bebemos, até os amigos e as conversas são diferentes. nos "trintas" já não queremos dominar o mundo, marcar uma posição, falar mais alto do que os outros para impressionar a sala inteira; só queremos é ser bem atendidos e passar o mais despercebidos possível, sobretudo quando estamos num ambiente... cheio de "vintes". certamente que, quando andava pelos "vintes", pouca importância dava aos "trintas", porque na maior parte das vezes, nas saídas nocturnas, estavam sempre aquela mesa mais silenciosa, só se fazendo notar quando olhavam incredulamente para nós, os "vintes", na maior algazarra e animação. agora, os papéis inverteram-se.
os "trintas" já nem querem sair à noite por se sentirem deslocados ou, lá está, por terem assumido outras prioridades na vida. esta transição não é visível a olho nu e muito menos palpável, mas acontece e marca decisivamente o adeus aos "vintes". nos "trintas", o mundo já não é a nossa ostra, no máximo é uma ameijoa, e o grande objectivo passa a ser, essencialmente, a gestão desse grande empreendimento chamado família. a tendência é, quer se queira, quer não, termos outros amigos, com as mesmas prioridades e estilo de vida, pessoas que nos compreendam e respeitem a nossa "missão". agora, em vez de estarmos às 4 da manhã a beber mais um shot, estamos na cozinha a preparar um biberon de leite.
os "trintas" demoram um pouco a resignar-se, mas quando se conformam é para o resto da vida. regressar aos "vintes", só num de lorean, como no "regresso ao futuro"...
sábado, setembro 10, 2011
méritos intelectuais vs. atributos físicos
serei alguma vez capaz de atingir os meus próprios padrões em termos de personalidade? é complicado estabelecer comparações e juízos de valor sobre uma pessoa quando verificamos que padecemos dos mesmos defeitos.
a rita (nome fictício de marta) é intriguista, básica, fútil, hipócrita, tem mau hálito e um hábito terrível de citar fernando pessoa sempre que lhe perguntam o que quer de sobremesa. tudo bem, a rita pode ser isto tudo, mas é fabulosamente agradável em termos visuais.
o rafael (igualmente nome fictício de marta, curiosamente) deve sentir-se mal por ser amigo dela? por preferir as virtudes físicas às virtudes morais? por deixar arrastar uma "amizade" que nada de psicologicamente estimulante lhe oferece?
se analisarmos estas últimas três pertinentes questões pelo lado masculino, chegamos à conclusão de que o rafael quer, efectivamente, apenas "saltar para a cueca" da rita. ou então nem tanto, tendo em conta o tal problema do mau hálito da rapariga, quer apenas ser visto com ela, ser invejado pelo resto da sua espécie.
o rafael criou, durante largos anos, baseando-se em revistas, programas nocturnos com bolinha vermelha no canto superior direito e na sua professora de inglês do 8º ano, um consistente ideal de beleza. na sua transição da adolescência para a vida adulta, conheceu centenas de mulheres, umas mais inteligentes, outras mais atraentes, sempre com os mesmos padrões físicos embutidos no cérebro.
depois de uma interminável travessia pelo deserto (em sentido figurado, claro, porque ele não conseguiu os mínimos para participar no rally lisboa dakar), rafael conheceu rita. dois segundos depois, a sua libido deu cambalhotas de contentamento. dois minutos depois, a libido foi-se deitar novamente, por manifesto cansaço. meia hora depois, a libido acordou porque alguém estava a bater à porta, mas era engano. ou seja, o estímulo visual criado pela rita foi-se desvanecendo com o tempo e o pobre do rafael começou a ficar dividido.
ouvir horas e horas de conversas fúteis e insípidas só porque ela é efectivamente uma "brasa" ou continuar a procurar alguém que reúna as vertentes psicológica e física num só corpo? pepsi ou coca-cola? fifa 2008 ou pro evolution soccer 2008? conan 0'brien ou jon stewart? miguel sousa tavares ou vasco pulido valente? pois, o rafael não sabe o que fazer. chega a sentir-se mal ao lado da rita porque sente que está a atraiçoar os seus próprios valores e padrões. sente que não é aquilo que ele representa. sente que poderia perfeitamente estar a ter conversas muito mais interessantes e estimulantes com outras pessoas, que poderia estar a cultivar-se e a aprender.
a rita, por sua vez, gosta muito de estar com o rafael, acha que ele é boa pessoa, com um sentido de humor um bocado esquisito (que ela muitas vezes não entende mas sorri na mesma para mostrar que percebeu a piada) e umas referências musicais e cinematográficas estranhas (cinema europeu? isso existe?). no entanto, ao mesmo tempo também acha que o rafael é intriguista, básico, fútil, hipócrita, tem mau hálito e um hábito terrível de assobiar o refrão da música "the final countdown", dos europe, antes de tomar café.
a rita (nome fictício de marta) é intriguista, básica, fútil, hipócrita, tem mau hálito e um hábito terrível de citar fernando pessoa sempre que lhe perguntam o que quer de sobremesa. tudo bem, a rita pode ser isto tudo, mas é fabulosamente agradável em termos visuais.
o rafael (igualmente nome fictício de marta, curiosamente) deve sentir-se mal por ser amigo dela? por preferir as virtudes físicas às virtudes morais? por deixar arrastar uma "amizade" que nada de psicologicamente estimulante lhe oferece?
se analisarmos estas últimas três pertinentes questões pelo lado masculino, chegamos à conclusão de que o rafael quer, efectivamente, apenas "saltar para a cueca" da rita. ou então nem tanto, tendo em conta o tal problema do mau hálito da rapariga, quer apenas ser visto com ela, ser invejado pelo resto da sua espécie.
o rafael criou, durante largos anos, baseando-se em revistas, programas nocturnos com bolinha vermelha no canto superior direito e na sua professora de inglês do 8º ano, um consistente ideal de beleza. na sua transição da adolescência para a vida adulta, conheceu centenas de mulheres, umas mais inteligentes, outras mais atraentes, sempre com os mesmos padrões físicos embutidos no cérebro.
depois de uma interminável travessia pelo deserto (em sentido figurado, claro, porque ele não conseguiu os mínimos para participar no rally lisboa dakar), rafael conheceu rita. dois segundos depois, a sua libido deu cambalhotas de contentamento. dois minutos depois, a libido foi-se deitar novamente, por manifesto cansaço. meia hora depois, a libido acordou porque alguém estava a bater à porta, mas era engano. ou seja, o estímulo visual criado pela rita foi-se desvanecendo com o tempo e o pobre do rafael começou a ficar dividido.
ouvir horas e horas de conversas fúteis e insípidas só porque ela é efectivamente uma "brasa" ou continuar a procurar alguém que reúna as vertentes psicológica e física num só corpo? pepsi ou coca-cola? fifa 2008 ou pro evolution soccer 2008? conan 0'brien ou jon stewart? miguel sousa tavares ou vasco pulido valente? pois, o rafael não sabe o que fazer. chega a sentir-se mal ao lado da rita porque sente que está a atraiçoar os seus próprios valores e padrões. sente que não é aquilo que ele representa. sente que poderia perfeitamente estar a ter conversas muito mais interessantes e estimulantes com outras pessoas, que poderia estar a cultivar-se e a aprender.
a rita, por sua vez, gosta muito de estar com o rafael, acha que ele é boa pessoa, com um sentido de humor um bocado esquisito (que ela muitas vezes não entende mas sorri na mesma para mostrar que percebeu a piada) e umas referências musicais e cinematográficas estranhas (cinema europeu? isso existe?). no entanto, ao mesmo tempo também acha que o rafael é intriguista, básico, fútil, hipócrita, tem mau hálito e um hábito terrível de assobiar o refrão da música "the final countdown", dos europe, antes de tomar café.
no meu tempo é que era...
(vou começar este post como se tivesse 78 anos. ora, reparem nas primeiras três palavras... ah, e também sou dos poucos bloggers que iniciam um texto com frases entre parêntesis).
no meu tempo, escrever uma carta para a namorada era algo que se fazia com tempo, dedicação e paciência. não era algo que se fizesse em dois minutos, tinham que estar reunidas várias condições: casa vazia, uma música calminha de fundo, uma caneta em bom estado e papel em quantidade suficiente, não fosse a inspiração bater e não haver folhas para a "despejar". depois, o simples facto de se escrever à mão fazia com que nos esmerássemos na letra, na apresentação da carta, na caligrafia e ortografia, tentando não dar erros, porque era sempre complicado apagar e ficava sempre mal um enorme borrão no meio da carta.
portanto, havia muito coração e muita entrega, tanto no que se dizia como na maneira como se escrevia. tudo tinha que sair perfeito, para impressionar a namorada. lembro-me de estar a escrever e de estar, ao mesmo tempo, a tentar imaginar a reacção da pessoa que ia ler aquelas palavras, as sensações que lhe ia arrancar, as lágrimas que ela poderia derramar... sim, eram outros tempos. até a carta ir para o marco de correio passava por várias etapas: dobrar meticulosamente a carta para caber no envelope, escrever com cuidado a morada do destinatário, para ela não ir parar a marrocos, fechar bem o envelope, eu utilizava cola, sempre me dava mais garantias, comprar e colar bem os selos (uma vez os selos descolaram-se, mas a carta foi lá parar na mesma. grandes correios portugueses...) e, por fim, introduzi-la no marco de correio. no final, ficava sempre uma sensação de satisfação, porque sabia que aquelas minhas palavras iriam ser lidas no dia seguinte e que eram, apesar da distância que nos separava, um pedaço de mim que a minha namorada ia receber.
depois, era sempre muito gratificante quando vinha a resposta. receber uma carta era um bálsamo, um enorme beijo virtual em forma de envelope que se soltava quando se abria a caixa do correio. lembro-me de guardar bem a carta, preferindo lê-la quando tivesse realmente tempo para me debruçar sobre cada palavra nela incluída. e como me sabia bem ler uma carta da minha namorada, saber que ela tinha tido a mesma dedicação que eu ao escrevê-la e que guardou um pedaço do seu dia para me dedicar umas palavras. sim, eram outros tempos... mas não há muito tempo atrás. tudo isto que eu descrevi até agora passou-se há 15 anos. os meus primeiros anos de namoro foram assim, de carta em carta, até aos encontros ansiados e tantas vezes descritos nas cartas trocadas. e como sabiam tão bem esses reencontros, depois desses autênticos "preliminares" em forma de envelope.
hoje, duvido que ainda se namore assim. depois do telemóvel, sms, internet, messenger, hi5, skype a afins deve ter ficado tudo um pouco mais frio e menos sentimental. já ninguém se deve sentar a escrever uma carta. já ninguém deve comprar envelopes ou selos. agora é tudo por mail, por messenger ou por telemóvel. a preocupação com a caligrafia e a ortografia perdeu-se, aliás até é "cool" junto da malta jovem escrever coisas como "qq", "tb", "bjs" ou "pk", sempre se esconde a verdadeira realidade, que é a de não saber escrever verdadeiramente.
irrita-me que vá acontecer o mesmo com os meus filhos, quando passarem por esta fase. daqui a 10 anos ainda vai ser pior, ou seja, já nem devem existir selos, nem envelopes, nem marcos do correio. as saudades serão mitigadas com mensagens do género "tou xeio de saudds tuas mor", enviadas por telemóvel em cinco segundos, quando há uma nesga de tempo, assim do género de uma ida à casa de banho. se não houver nada para ler enquanto se lá está, leva-se o telemóvel e manda-se a mensagem. assim não se perde tempo valioso.
escrever uma carta, no meu tempo, demorava pelo menos uma hora; agora qualquer mensagem de amor demora um minuto; daqui a 10 anos, durará cinco segundos. será possível medir a intensidade dos sentimentos da mesma forma?
no meu tempo é que era...
no meu tempo, escrever uma carta para a namorada era algo que se fazia com tempo, dedicação e paciência. não era algo que se fizesse em dois minutos, tinham que estar reunidas várias condições: casa vazia, uma música calminha de fundo, uma caneta em bom estado e papel em quantidade suficiente, não fosse a inspiração bater e não haver folhas para a "despejar". depois, o simples facto de se escrever à mão fazia com que nos esmerássemos na letra, na apresentação da carta, na caligrafia e ortografia, tentando não dar erros, porque era sempre complicado apagar e ficava sempre mal um enorme borrão no meio da carta.
portanto, havia muito coração e muita entrega, tanto no que se dizia como na maneira como se escrevia. tudo tinha que sair perfeito, para impressionar a namorada. lembro-me de estar a escrever e de estar, ao mesmo tempo, a tentar imaginar a reacção da pessoa que ia ler aquelas palavras, as sensações que lhe ia arrancar, as lágrimas que ela poderia derramar... sim, eram outros tempos. até a carta ir para o marco de correio passava por várias etapas: dobrar meticulosamente a carta para caber no envelope, escrever com cuidado a morada do destinatário, para ela não ir parar a marrocos, fechar bem o envelope, eu utilizava cola, sempre me dava mais garantias, comprar e colar bem os selos (uma vez os selos descolaram-se, mas a carta foi lá parar na mesma. grandes correios portugueses...) e, por fim, introduzi-la no marco de correio. no final, ficava sempre uma sensação de satisfação, porque sabia que aquelas minhas palavras iriam ser lidas no dia seguinte e que eram, apesar da distância que nos separava, um pedaço de mim que a minha namorada ia receber.
depois, era sempre muito gratificante quando vinha a resposta. receber uma carta era um bálsamo, um enorme beijo virtual em forma de envelope que se soltava quando se abria a caixa do correio. lembro-me de guardar bem a carta, preferindo lê-la quando tivesse realmente tempo para me debruçar sobre cada palavra nela incluída. e como me sabia bem ler uma carta da minha namorada, saber que ela tinha tido a mesma dedicação que eu ao escrevê-la e que guardou um pedaço do seu dia para me dedicar umas palavras. sim, eram outros tempos... mas não há muito tempo atrás. tudo isto que eu descrevi até agora passou-se há 15 anos. os meus primeiros anos de namoro foram assim, de carta em carta, até aos encontros ansiados e tantas vezes descritos nas cartas trocadas. e como sabiam tão bem esses reencontros, depois desses autênticos "preliminares" em forma de envelope.
hoje, duvido que ainda se namore assim. depois do telemóvel, sms, internet, messenger, hi5, skype a afins deve ter ficado tudo um pouco mais frio e menos sentimental. já ninguém se deve sentar a escrever uma carta. já ninguém deve comprar envelopes ou selos. agora é tudo por mail, por messenger ou por telemóvel. a preocupação com a caligrafia e a ortografia perdeu-se, aliás até é "cool" junto da malta jovem escrever coisas como "qq", "tb", "bjs" ou "pk", sempre se esconde a verdadeira realidade, que é a de não saber escrever verdadeiramente.
irrita-me que vá acontecer o mesmo com os meus filhos, quando passarem por esta fase. daqui a 10 anos ainda vai ser pior, ou seja, já nem devem existir selos, nem envelopes, nem marcos do correio. as saudades serão mitigadas com mensagens do género "tou xeio de saudds tuas mor", enviadas por telemóvel em cinco segundos, quando há uma nesga de tempo, assim do género de uma ida à casa de banho. se não houver nada para ler enquanto se lá está, leva-se o telemóvel e manda-se a mensagem. assim não se perde tempo valioso.
escrever uma carta, no meu tempo, demorava pelo menos uma hora; agora qualquer mensagem de amor demora um minuto; daqui a 10 anos, durará cinco segundos. será possível medir a intensidade dos sentimentos da mesma forma?
no meu tempo é que era...
sexta-feira, setembro 09, 2011
are we really through - ray la montagne
"Are We Really Through"
Is the sun
Ever gonna break
Break on through the clouds
Shine down in all its glory?
Onto me
Here upon the ground
'Cause I can't hear a sound
Sept' my own sad story
I get so tired
A starin' at the walls
Weight so heavy
Mountain so tall
Is there no one
Who would catch me
If I fall?
It's more
It's more than I can take
I wish that I could fake it
Or pretend like I don't know what's goin' on
Somethin's wrong
Somethin's wrong
I'm tryin' to hold on
For just a little longer
I get so tired
A starin' at the walls
Weight so heavy
Mountain so tall
Is there no one
Who would catch me
If I fall?
Can you hear me?
Can you see me?
Why is that so hard for you to do?
Don't dispel me, girl
Just tell me
Are we really through?
Is the sun
Ever gonna break
Break on through the clouds
Shine down in all its glory?
Onto me
Here upon the ground
'Cause I can't hear a sound
Sept' my own sad story
Can you hear me?
Can you see me?
Why is that so hard for you to do?
Don't dispel me, girl
Just tell me
Are we really through?
Are we really through?
i still care for you - ray la montagne
"I Still Care For You"
Hear me out
Day follows day
Light turns to clay in my hands
How to explain,
So pristine the pain
It was kindness made the cut so clean
I still care for you
Hear me out
You wanted to me to be
Less your love than a mirror
Can't you see
What you mean to me?
(even promises may bleed)
I still care for you
The hours grow
Heavy,
And hollow,
And cruel as a grave
Open
Me
You'll find
Only bones burned to glass.
I still care for you
a falling through - ray la montagne
"A Falling Through"
Laid our blessings on the ground,
The softening of sound
Draws us closed again
Stay, stay and watch the coals
Till they cease to glow
Like empty promises
Why, Why did you go, why did you go away?
Why, Why did you go, why did you go away?
Baby?
There's nothing I can say
Nothing I can do
To bring you back again
This of life I know is true
It's all a falling through
And so I reach for you
Why, Why did you go, why did you go away?
Why, Why did you go, why did you go away?
Don't you care
That it may seem unfair?
(You steal things you ought to borrow)
Don't you find
That it may seem unkind?
(I'd rather breathe than drown in sorrow)
Why, why did you go
Why did you go away baby
within you - ray la montagne
"Within You"
War is not the answer
The answer is within you
War is not the answer
The answer is within you
Love
Love
Love
Love
War is not the answer
The answer is within you
Love
Love
Love
Love
empty - ray la montagne
"Empty"
She lifts her skirt up to her knees
Walks through the garden rows with her bare feet, laughing
And I never learned to count my blessings
I choose instead to dwell in my disasters
Walk on down the hill
Through grass grown tall and brown
And still it's hard somehow to let go of my pain
On past the busted back
of that old and rusted Cadillac
That sinks into this field collecting rain
Will I always feel this way ‒
So empty, so estranged?
And of these cut-throat busted sunsets,
these cold and damp white mornings
I have grown weary
If through my cracked and dusted dime-store lips
I spoke these words out loud would no one hear me?
Lay your blouse across the chair,
Let fall the flowers from your hair
And kiss me with that country mouth so plain.
Outside the rain is tapping on the leaves
To me it sounds like they're applauding us,
The quiet love we've made.
Will I always feel this way
So empty, so estranged?
Well, I looked my demons in the eyes
laid bare my chest, said "Do your best, destroy me.
You see, I've been to hell and back so many times,
I must admit you kind of bore me."
There's a lot of things that can kill a man
There's a lot of ways to die
Yes, and some already dead that walk beside me
There's a lot of things I don't understand
Why so many people lie
Well, it's the hurt I hide that fuels the fires inside me
Will I always feel this way
So empty, so estranged?
be here now - ray la montagne
"Be Here Now"
Don't let your mind get weary and confused
Your will be still, don't try
Don't let your heart get heavy child
Inside you there's a strength that lies
Don't let your soul get lonely child
It's only time, it will go by
Don't look for love in faces, places
It's in you, that's where you'll find kindness
Be here now, here now
Be here now, here now
Don't lose your faith in me
And I will try not to lose faith in you
Don't put your trust in walls
'Cause walls will only crush you when they fall
Be here now, here now
Be here now, here now
till the sun turns black - ray la montagne
"Till The Sun Turns Black"
Can you see the young and pretty
Confident as cops
Blooming, laughing in the shops
Till the sun turns black
Can you see the old and lonely
Walking through the park
Pushing grocery carts
Till the sun turns black
Can you see the corporate man
He's winning on the telephone
His possessions are his throne
Till the sun turns black
Can you see him in his lounger
Watching TV in the dark
Waiting for a spark
Till the sun turns black
Oh oh oh oh oh
Who are we
Oh oh oh oh oh
Who are we
Who are we
Can you see the working classes
Trudging through their days
Time goes slowly when you're only waiting
Till the sun turns black
Can you see the wise man simply
Living, loving quietly
Every breath he takes eternity
Till the sun turns black
can i stay - ray la montagne
"Can I Stay"
Can I stay here with you till the morning
I am so far from home and i feel a little stoned
so can i stay here with you till the morning?
There's nothing i want more than to wake up on your floor
So lay with me in your thinnest dress
fill my heart with each caress
between your blissful kisses, whisper
darling, is this love?
So can I stay here with you, till the day breaks?
There's something you should know
I ain't got no place to go
So can I stay here with you, till the day breaks
How happy it would make me to see your face when I wake
So lay with me in your thinnest dress
Fill my heart with each caress
Between your blissful kisses, whisper
Darling, is this love?
So can I stay here with you till the nighttime
I've fallen sad inside and I need a place to hide
So can I stay, here with you, through the nighttime
I've fallen so sad it's true, now won't you take me to your room
Lay with me in your thinnest dress
fill my heart with each caress
between your blissful kisses, whisper
Darling is this love?
Whisper to me, is this love?
hold you in my arms - ray la montagne
"Hold You In My Arms"
When you came to me with your bad dreams and your fears
It was easy to see that you'd been crying
Seems like everywhere you turn catastrophe it reigns
But who really profits from the dying
I could hold you in my arms
I could hold you forever
I could hold you in my arms
I could hold you in my arms forever
When you kissed my lips with my mouth so full of questions
It's my worried mind that you quiet
Place your hands on my face
Close my eyes and say
Love is a poor man's food
Don't prophesize
I could hold you in my arms
I could hold you forever
And I could hold you in my arms
I could hold you forever
So now we see how it is
This fist begets the spear
Weapons of war
Symptoms of madness
Don't let your eyes refuse to see
Don't let your ears refuse to hear
Or you ain't never going to shake this sense of sadness
I could hold you in my arms
I could hold on forever
And I could hold you in my arms
I could hold forever