acho que nunca vou ser capaz de entender a lógica que define o destino do meu próprio mundo. sou constantemente atropelado por seguir um caminho de onde já estão a regressar todas as outras pessoas. se for eu a descobrir outro caminho, sou derrubado e ultrapassado por toda a gente que quer chegar mais rápido. não encontro conforto na intermitência da minha vida social, nos esporádicos e breves contactos, na fugacidade dos encontros, na competitiva troca de palavras em que se coloca em confronto a miserabilismo da condição humana, na ansiedade de uma próxima vez, nos imponderáveis silêncios e afastamentos, na incerteza do próximo dia. mas recuso, ao mesmo tempo, fazer a auto-promoção necessária para abrir novas portas, nadar em oceanos em vez de rios, percorrer estradas em vez de caminhos...
desta forma, continuarei a definhar, dia após dia, na minha inconsequência, num mundo (o real e o virtual) que nunca chega a parar para eu, finalmente, entrar. dia após dia, a mesma ânsia de culpabilização interior, o desboroar lento e previsível de uma indómita vontade de encaixar em algum lado, de fazer parte de alguma coisa. vou escurecendo lentamente, transformando ímpetos em poeira e potenciais sorrisos em taciturnos semblantes, coarctando a minha própria boa vontade. trago comigo, sempre, os meus melhores amigos, a ironia e o sarcasmo, para me defenderem de qualquer invasão ou tentativa de aproximação exterior. se o mundo é um oceano, eu não sei claramente nadar; e quando aprender, tenho a certeza que deixará de existir água... voltarei a chegar tarde demais, como sempre.
será sempre esta a minha grande dúvida: não me consigo ou não me quero integrar?
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