desde pequenos que somos "gozados" por mostrarmos sinais de afecto. em casa, fazemos tudo para que os nossos filhos sejam afectuosos, ternurentos e afáveis; mas mal vão para a escola, esquecem rapidamente tudo o que lhes ensinamos. isto porque esse tipo de "comportamento" é frequentemente mal aceite e excomungado pelos colegas de escola. nas meninas ainda se tolera, mas em meninos é... motivo de chacota para o resto do ano lectivo.
sempre me habituei a despedir-me, todos os dias, do meu filho, quando o levava ao jardim de infância e agora à escola, com um beijo na face. ele sempre aceitou e retribuiu esse mesmo gesto de carinho; mas, mais recentemente, só o aceita e pratica quando ninguém está a ver, para não ser alvo de piadas. bem sei que é uma idade ainda muito tenra, 8 anos, mas é nestas idades que são lançadas muitas das bases para o futuro de uma pessoa. um princípio destes, gozar com o afecto e carinho, é sempre errado. no entanto, se esses mesmos miúdos virem o meu filho a partir o vidro de um carro com uma pedra, passa a ser considerado um herói. algo está mal nesta fotografia da actualidade escolar. aliás, actualidade nem é o termo correcto. já no meu tempo era assim... quem mostrasse coragem para fazer asneiras, para desafiar os professores, para gozar com os outros, para não fazer os trabalhos de casa, para bater nos mais fracos, era imediatamente considerado um líder nato pelos seus colegas. uma espécie de james dean, de "rebelde sem calças", mas com calções, fisga e pedras afiadas. o miúdo bem comportado, sossegado, respeitador e educado é corrido a termos como "betinho", "menino da mamã" e "quequezinho".
outro evidente sinal de que a afectividade não é, de forma alguma, bem recebida neste precoce meio escolar é a questão da "namorada". quando é que alguém é mais gozado na escola? quando se desconfia que essa pessoa gosta de outra. "ai o andré gosta da raquel"; "o tiago é o namorado da rita". para o meu filho, por causa deste tipo de reacções, o tema "namorada" é um tema tabu. nem sequer se pode pronunciar a palavra "namorada" lá em casa. tivemos que deitar fora todos os livros do fernando namora por causa disso. curiosamente, apenas uns anos depois, na adolescência, já é extremamente "cool" ter namorada. passamos da "vergonha" dos afectos para a "exposição" dos afectos, em pouco tempo.
a escola ideal seria aquela que ensinasse que nunca se deve ter vergonha de gostar de alguém. devemos ter vergonha de matar, de roubar, de forjar licenciaturas; nunca devemos ter vergonha de amar alguém, de assumir esses sentimentos, sem culpas nem receio de represálias. nem que essas represálias venham em forma de pedra afiada atirada com uma fisga...
o mundo idela seria assim... mas infelizmente, a realidade é outra... caramba, deve ser mesmo difícil educar um filho...
ResponderEliminarbjs