sábado, maio 20, 2023

a importância do amparo descomplexado... e da coragem


nos nossos momentos menos bons, daqueles em que sentimos que temos apenas nuvens bastante negras a pairar sobre nós e em que até uma mera contemplação do futuro próximo nos deixa imediatamente derrotados e deprimidos, eles estão lá. quando o nosso cérebro teima em visitar sistematicamente as mesmas situações e repisar até à exaustão momentos, bons e maus, que não conseguimos tirar da cabeça, eles aparecem e abrem as portas para novos mundos. 

no caso de ontem, foi o da mais pura e imbecil parvoíce. eu e o zé fonseca ainda estamos no jornal, mas o luís barros e o luís miroto já não estão, mas isso não invalida, obviamente, que nos consigamos reunir, quando as nossas agendas assim o permitem, para os nossos hilariantes jantares. aquelas quase cinco horas foram tão hilariantes que, apesar de fazer cerca de 12 kms por dia de actividade física no parque de santiago, sinto que aquele tempo todo a rir fez ainda mais pelos meus abdominais. 

são momentos descomplexados, espontâneos e genuínos, onde sai tudo sem filtro, não estamos a tentar impressionar ninguém, as parvoíces correm ao sabor do vento e a finalidade é, essencialmente, rir, rir muito, entre amigos, entre pessoas que sabemos que gostam de estar connosco. basta isso. não ligam ao que tens vestido, se fizeste a barba ou não, se tens o indicador da mão direita todo lixado por causa do bicabornato de sódio que usaste durante a tarde para tentar desentupir a pia, se as calças estão rotas entre as pernas ou se os sapatos não estão engraxados. 

e sim, naquelas horas, que parecem sempre poucas, entra-se numa outra dimensão, ganham-se outras prioridades e o teu cérebro consegue dar-te alguma folga. depois, chegamos a casa e voltamos à insipidez da nossa vulgar existência...

o mesmo tem acontecido, felizmente, nos últimos fins de semana. o meu compadre, que vive a mais de 300 km de mim, tem vindo a dar um importante contributo para o meu restabelecimento emocional. além daquela parvoíce descontrolada acima referida, ele também me oferece o lado racional e ponderado, os melhores conselhos e sugestões. é a pessoa que melhor me conhece, disso não tenho dúvida alguma. conhecemo-nos há 45 anos e, para ele, nunca tive segredos. tivemos um período de um ano e meio menos bom, mas felizmente conseguimos sanar tudo entre nós e ele voltou a ser, como sempre foi, o meu mentor, a pessoa em quem mais confio no mundo inteiro.

hoje, vem aí novamente. vem de propósito de castelo branco a viseu só para almoçar comigo. se isto não é amizade, não sei o que será... e é por momentos como este, tal como o referido anteriormente, que não posso deixar de me sentir um felizardo, um privilegiado, por ter amigos assim, que me conseguem ir buscar, sistematicamente, ao fundo do poço.

os últimos dois meses não foram fáceis. tudo o que podia correr mal, correu. por muito distante que estivesse esse cenário de ruptura, porque este último recomeço parecia diferente, mais sólido e resistente, ele surgiu na mesma, independentemente do que tinha ocorrido nos 11 meses anteriores. apaga-se tudo de bom que aconteceu nesse período de tempo com uma enorme esponja, privilegiam-se apenas quatro ou cinco episódios maus e entra-se numa espiral negativa, profunda e bem negra, da qual só pode sair um, apenas um, porque nunca houve outro, resultado: a ruptura. 

é daqueles casos estúpidos em que estamos a observar o desenlace mas não conseguimos evitá-lo. é como um carro a encaminhar-se perigosamente para uma ribanceira e não há travões para o impedir de se despenhar. e assim foi. mais uma vez. a quinta ou a sexta, já perdi a conta. é um atestado ou um carimbo gigante com a palavra "falhanço" marcada na testa para a vida toda. não conseguimos. estamos a ver a ruptura à frente e não conseguimos travar. vamos em frente, cheios de orgulho, de rancor, como que a transmitir uma mensagem de coragem um ao outro. "se tu não parares, eu também não paro". é um "double dare", um jogo para ver quem desiste primeiro, quem quebra primeiro. que, pelos vistos, resulta sempre.

o problema é o que fica desse perigoso jogo, os resquícios, os restos estilhaçados no chão. por várias vezes, pegámos nesses estilhaços e conseguimos voltar a colar tudo direitinho. podíamos abanar, tremer aqui e ali, mas íamos seguindo... até surgir um novo desafio daqueles. partíamos novamente, colávamos tudo e lá estávamos de volta.

não sei se, agora, com estes destroços todos espalhados pelo chão, haverá entusiasmo, coragem, vontade ou força para tentar colar tudo novamente. eles estão cada vez mais minúsculos e a culpa, obviamente, é de duas pessoas. não há dois lados, o bom e o mau, o santinho e o diabo, o limpo e o sujo, há apenas uma dinâmica. não há quem sofra mais e quem sofra menos. nesse aspecto, e porque julgo conhecer muito bem as pessoas envolvidas, sei perfeitamente que é igual e na mesma medida. não há quem ame mais ou menos, e repito o final da frase anterior. há amor? claro, sempre houve. mas ainda há amor? claro que sim, nunca, mas nunca mesmo, deixará de haver. ok, mas haverá coragem? porque, agora, o tal jogo do "double dare" também tem novamente a ver com coragem, mas o prisma é diferente...

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