há algo de reconfortante no vislumbre de uma meteorologia perfeita para os nossos estados de espírito. noite cerrada, o prazo do jantar já prescreveu há muito mas é substituído pela confiança no dever cumprido.
fecho a porta com as quatro voltas habituais, desço as escadas e vou preparando o telemóvel e os phones para a caminhada que me levará até casa. a rotina ensinou-me que haverá sempre lugar a duas músicas no trajecto, mas gosto de escolher a função aleatória da apresentação das músicas. no meio da minha tão intrínseca rotina, também deverá haver espaço para algum resquício de surpresa.
saio do prédio, detenho-me à beira do passeio enquanto o telemóvel, na sua lentidão exasperante, rasteja até à aplicação que utilizo. coloco os phones nos ouvidos, aperto o casaco e ajeito o cachecol, que se detém no último patamar antes do asfixiamento.
olho em volta antes de começar a caminhar. pavimento molhado a reflectir as luzes dos carros e das lojas, frio suportável e ruas semi-desertas. tenho direito àquela "chuva molha tolos", miudinha, suave, que sempre me soube bem. a música começa e inicio a minha caminhada, mãos nos bolsos das calças, mochila às costas.
"salty seas", dos devics, num daqueles momentos perfeitos e de simbiose entre música, meteorologia, estado de espírito, luzes, noite, estradas e passeios molhados. ouvi uma vez. fixei o verso "the falling leaf that never tries to hold on to what keeps it alive". tinha tempo para mais uma música. carreguei em "repeat"...
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