domingo, março 06, 2022

aprender a andar de bicicleta sem rodinhas...


para um indivíduo claustrofóbico como eu, as escadas são sempre a melhor solução. os elevadores nunca foram opção, porque aquela sensação de estar preso dentro de quatro paredes, num espaço minúsculo, sem que dependa de mim a resolução do problema, caso este se manifeste (falta de electricidade, avaria, etc.), não se coaduna com a minha superlativa ansiedade. ou seja, venham de lá essas escadas, sem receio algum. aliás, a partir do momento em que, na minha alta hospitalar, em setembro do ano passado, após cinco dias de internamento e com claras debilidades físicas, decidi ir pelas escadas do sétimo andar para o rés-do-chão... creio que não será preciso mais nada para reforçar este aspecto.

os degraus que tenho vindo a subir desde agosto, no sentido de um completo restabelecimento de uma insuspeita e repentina falência renal, conheceram na última semana importantes desenvolvimentos. aquilo que colocaram dentro do meu corpo, mais concretamente nos rins, para estabilizar a minha situação, ou seja, um duplo jota, foi-me retirado no passado dia 3 de março. foi colocado em coimbra, no dia 28 de agosto, e foi retirado agora, em viseu. seis meses e 3 dias depois... 

enquanto o tive dentro de mim, e só no dia em que o tiraram fui capaz de ver a sua extensão (não estava à espera de algo tão extenso...), porque a primeira cirurgia, em coimbra, foi com anestesia geral, não consegui esconder o desconforto que me provocava, as dores, as constantes impressões na bexiga, o peso, o facto de não conseguir caminhar mais de 10 minutos sem me cansar como se tivesse acabado de correr uma maratona. apesar disso tudo, sabia que era para o meu bem, porque o duplo jota estava a impedir que os meus rins bloqueassem novamente, esse "pequeno" pormenor que me levou a ser intervencionado de urgência em coimbra. 

olhando para essa curiosa "ferramenta", o citado duplo jota, e depois das lancinantes dores que a intervenção me provocou, desta vez com anestesia local, concluí que seria impossível não ter os sintomas que tive durante seis meses. quando me falaram do duplo jota, pensei que seria algo com uns 10 centímetros no máximo. mas tinha o triplo do tamanho que eu pensava. mas, verdade seja dita, cumpriu a sua função. isso, aliado à forte medicação que tomei durante seis meses para destruir as pedras que me bloqueavam os dois rins, resolveram, para já, o problema. sofri a bom sofrer, mais agora, até, do que em agosto, porque aquela intervenção para retirar o duplo jota não teve, até hoje, qualquer paralelo em termos de intensidade de dores e da mais dilacerante agonia. mas está feito!

esta nova fase, que agora começa, será semelhante àquela em que começamos a aprender a andar de bicicleta sem rodinhas. após três dias em casa, já fiz uma caminhada. primeira diferença: não tenho nenhum daqueles sintomas provocados pelo duplo jota que citei acima. mas vou andar mais preocupado, porque, agora, os rins podem voltar a bloquear novamente. já não há as tais rodinhas...

mas é um processo e uma nova escadaria para subir, sem receios, com redobrado prazer pela vida e com renovada vontade de viver bem e sem dores!

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