sexta-feira, março 08, 2019

mark hollis (1955-2019)




a notícia chegou no dia 25 de fevereiro de 2019 e apanhou certamente toda a gente de surpresa. tinha partido mark hollis. o homem que nos tinha abandonado a todos, musicalmente, em 1998, desaparecia assim, também, da nossa vida terrena. 
não foi o meu caso, porque, curiosamente, há meses que andava a ouvir talk talk no carro, nas minhas viagens, mas houve logo uma necessidade galopante de ir ouvir novamente os discos, nomeadamente os mais introspectivos, como "spirit of eden", "laughing stock" ou o disco a solo "mark hollis". foi assim que, aos primeiros sons de "i believe in you" foi impossível segurar as lágrimas, quando nos apercebemos que jamais haveria possibilidade de ouvir músicas como esta ao vivo, ou tantas outras do mesmo quilate, como "wealth", "april 5th", "time it's time", "it's getting late in the evening", "tomorrow started", "renee", "inheritance" ou "after the flood".
conheci verdadeiramente os talk talk apenas nos anos 90, através de um grande amigo, a quem já fiz questão de agradecer várias vezes a sugestão musical. claro que me lembro de, no início dos anos 80, ouvir dezenas de vezes por dia a "my foolish friend" e de, mais tarde, ouvir os hits da banda, como "it's my life", "talk talk" ou "such a shame". quando discos como "the colour of spring", "spirit of eden" e "laughing stock" foram editados, entre 1986 a 1991, estava longe de imaginar que um dia poderia endeusar as suas músicas e ouvi-las repetidamente. mas ainda fui a tempo de reconhecer todo o virtuosismo da banda, a capacidade invulgar de hollis verbalizar o seu sofrimento, a pungência das suas letras e a carga emocional encerrada nos seus discos mais introspectivos, de um perfeccionismo cortante e de imaculados arranjos. hollis chegou cedo ao sucesso e depois aproveitou-o para fazer os trabalhos que realmente queria deixar ao mundo. pintou os seus quadros e abandonou a sala para eles serem devidamente apreciados e reconhecidos.
depois do seu disco homónimo, a solo, em 1998, mark hollis abandonou o mundo da música, anunciando que se iria dedicar a ser um bom pai. à medida que os anos foram passando, os seus últimos três discos foram ganhando cada vez mais consenso, apesar do insucesso de vendas, chegando a ser considerados, especialmente "spirit of eden", como um dos melhores discos de sempre.
a sua morte consternou o mundo da música, com vários músicos a reconhecer a forte influência de hollis nas suas carreiras, como roland orzabal, dos tears for fears ("he was a god among so many mere mortals of 80s music. in fact, to brand what he did with talk talk as ‘80s music' is to discredit the genius that seeped out of his melodies and lyrics – lyrics that sometimes barely made it out of his mouth, as though he wanted to keep the world’s best kept secret all to himself"), charlotte church ("spirit of eden is, hands down, one of the greatest records ever made. The amount of healing that record allows is nothing less than a beautiful gift and I am ever thankful for it. Thank you, Mark, for your enigmatic spirit, which surrounded and comforted us through every work you made"), rachel goswell, dos slowdive ("mark’s voice has such fragile beauty and warmth. Eden floors me every time I hear it – lyrically it’s so beautiful, and the space and depth of the songs are simply wonderful"), richard reed parry, dos arcade fire ("if there were ever records that defy description, it’s Spirit of Eden, Laughing Stock, and Mark’s solo record. I don’t know of any other albums as confidently soft-spoken and utterly without precedent – where the sound of the room seems to be as important as any instrument, where the quality of an improvised single note, captured on tape the first time it’s played, is far more important than any amount of rehearsing or catchy pop melody. This trinity of modern chamber, jazz, post-rock masterpieces are some of the most finely crafted albums ever made, with no discernible limits to their scope beyond their own gorgeous sense of self-restraint"), ou max richter
("the first time I heard it (spirit of eden), I felt like I’d found a secret universe, one that contained something I’d been been missing without my being aware of it, and that seemed to promise a way of making sense of the world. I read somewhere that a person’s true legacy is what they leave behind in the hearts of others. By that measure, Mark Hollis left us a very beautiful legacy indeed").
o jornalista wyndham wallace descreveu, no site the quietus, a sensação de impotência com que todos nós, apreciadores do homem, do músico e do compositor, ficamos após a sua morte: 
"In the 21 years following the release of his only solo album, people would occasionally claim to have spotted Hollis in, say, the stands at White Hart Lane, but to all intents and purposes he disappeared from sight entirely. Even his former bandmates and manager lost almost all contact with him. He was, in many ways, doing us a favour: our enjoyment of his records remains unfettered and unpolluted by anything so banal as analysis. But now, after a short illness, Mark Hollis has left us, extinguishing for eternity any last hope that he would share the secrets of its alchemy. The dream that he would one day again make air vibrate is gone with him too".

p.s. - se, depois de lerem tudo isto, tiverem a curiosidade de ouvir a música dos talk talk que agrafei a este post, espreitem, por favor, os comentários das pessoas que aproveitaram o youtube para se despedirem de mark hollis. raramente tinha sentido pele de galinha durante tanto tempo e tantas vezes, confesso.

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