ainda ontem era 28 de abril e, sem um tipo dar conta, já é natal. outra
vez. tantos cortes, tantos constrangimentos orçamentais e ninguém foi capaz de
acabar com o natal... resultado: não se consegue ir a um hipermercado comprar um
quilo de arroz que seja. está tudo cheio. filas intermináveis, trânsito caótico
e um nunca mais acabar de listas de compras: prendas, frutos secos, bebidas,
queijo, etc.. a azáfama faz sempre parte do programa. não é natal se um tipo não
andar totalmente desorientado num hipermercado, com uma folha de papel na mão,
com uma lista de artigos que a mulher lhe pediu para ir comprar à última hora.
ou a prenda que ficou por comprar. ou aquele brandy que o cunhado tanto gosta de
beber com o café. ou o adoçante para a cevada do sogro. o baralho de cartas
nunca pode faltar... tal como as pilhas, para as dezenas de brinquedos que,
invariavelmente, demoram montes de tempo a tirar das caixas e a montar
correctamente. tenho a impressão de que passo um ano inteiro sem olhar para um
manual de instruções e, na noite de natal, devo ver, demoradamente e cada vez
com a testa mais franzida, uns cinco ou seis.
curiosamente, e este é um momento que registo todos os anos e espero registar novamente este ano: por volta das oito da noite, oito e meia vá, do dia 24, quando olho para a rua, não vejo
ninguém, os carros não passam na rua e impera o silêncio. depois do rebuliço que
foram os dias anteriores, quando chega aquela hora já está toda a gente em casa,
a celebrar o natal em família.
de repente, apercebemo-nos de que valeu a pena
ter ficado 45 minutos naquela fila interminável para embrulhar as prendas, ou 20
minutos à procura de estacionamento para se ir a um centro comercial apinhado
comprar aquela prenda que a filha já andava há meses a pedir ao pai natal...
quando fecho as cortinas e me viro para a sala, para os miúdos ansiosos por
abrir as prendas, para a mesa enfeitada com muito empenho e afinco para que nada
faltasse, para os sorrisos estampados nos rostos de toda a gente, acontece...
natal! e esse é um sentimento interior tão forte, tão umbilicalmente ligado aos
laços familiares, que em vez de estarmos a festejar um nascimento, estamos nós
próprios a nascer de novo, outra vez, tal como acontece todos os anos na noite
de 24 de dezembro. podem tirar-nos tudo, mas esta sensação nunca nos vão
conseguir tirar. é natal! e nós vamos nascer outra vez...
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