sábado à noite. 
lá fora o mundo fervilha, cheio de pessoas com vontade de se 
divertir, precisando, para tal, de outras pessoas com o mesmo propósito. há como 
que uma espécie de acordo tácito entre companheiros da noite, como se se 
esforçassem ao máximo para se encaixarem em variados ambientes nocturnos, numa 
descontracção directamente proporcional à quantidade de bebidas alcoólicas 
ingeridas. é um jogo, um ritual socialmente obrigatório que se divide em três 
categorias dominantes: os "lobos solitários", que se embrenham na noite à espera 
que lhes aconteça algo; os "groupies", aqueles que pertencem a um grupo 
consolidado há anos e que vagueiam pela noite perfeitamente "amparados" uns 
pelos outros; e os chamados "inadequados", aqueles que saem esporadicamente e, 
por norma, se sentem completamente deslocados, pouco seguros de si, ao contrário 
de um "lobo solitário", e sem o conforto de ser um "groupie", uma parte 
integrante de algo que foi construído ao longo dos tempos.
geralmente, estes 
"inadequados", claramente sem "bagagem" espiritual e social para se arvorarem em 
"lobos solitários", saem em ceias de natal, jantares de empresa, aniversários 
ou, menos frequente, "atrelados" a um grupo, por intermédio de alguém. raramente 
se sentem confortáveis em situações do género, olhando diversas vezes para o 
relógio, nunca sentindo os minutos a passar, pensando em todos os programas de 
televisão, incluindo jogos de futebol, que estão a perder, tentando fazer 
sentido numa qualquer conversa de circunstância com alguém, elogiando ou 
comentando a qualidade, ou a falta dela, da comida, olhando mais uma dezena de 
vezes para o relógio, até, finalmente, chegar o café.
é chegada então a 
altura das decisões, normalmente tomadas à porta do restaurante. "para onde 
vamos agora?", pergunta o núcleo duro dominante e com mais peso social. o 
"inadequado" vê claramente aqui a oportunidade que estava à espera. "eu amanhã 
tenho que me levantar cedo, por isso acho que vou andando". já os aspirantes a 
"groupies", à espera de uma oportunidade há algum tempo de se encostarem ao tal 
núcleo duro, aproveitam para, numa espécie de "casting", mostrar todas as suas 
potencialidades, sejam elas humorísticas, sócio-culturais ou simplesmente a 
baixa resistência ao álcool. há ainda quase sempre alguém "independente", que 
quer continuar na noite mas não quer acompanhar os outros, por não concordar com 
o local escolhido ou por simplesmente preferir caminhar sozinho, qual "lobo 
solitário". portanto, no mesmo jantar/evento/ceia/aniversário, temos os três 
grupos dominantes presentes.
sábado à noite. lá fora o mundo fervilha. eu 
estou em casa a escrever este texto, ao som delicioso do novo disco dos sun kil 
moon. até o gato já adormeceu com a voz melodiosa e enleante de mark kozelek. 
vejam lá se adivinham em qual das três categorias me incluo...
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