domingo, outubro 17, 2010
greenberg
este é, certamente, um dos melhores filmes que vi recentemente. habituado a ver ben stiller a fazer papéis cómicos, alguns em filmes bastante medíocres ("the heartbreak kid", "dodgeball", "envy", etc.), fiquei espantado com a sua actuação neste "greenberg", filme realizado e escrito a meias (com a actriz jennifer jason leigh) por noah baumbach. aqui, ele é roger greenberg, um homem amargo de 40 anos, recém saído de um hospital psiquiátrico, que vai de nova iorque para los angeles, para casa do irmão, simplesmente para tentar não fazer nada... com uma casa inteira só para ele, porque o irmão saiu em trabalho para o vietname e levou a família, só tem de cuidar do cão da família.
o filme é de uma simplicidade desarmante, ora cómico, ora comovente, nunca resvalando para o lado piegas e lamechas de cada situação, mantendo em paralelo, do início ao final do filme, as vertentes dramáticas e cómicas. tem igualmente diálogos bem construídos, com tiradas brilhantes como esta, proferida por greenberg, em resposta à frase "youth is wasted on the young" de ivan (rhys ifans): "life is wasted on people"; ou ainda esta: "a shrink said to me once that I have trouble living in the present, so I linger on the past because I felt like I never really lived it in the first place, you know?". os pontos que tenho em comum entre a personagem principal deste filme (tirando a vida sentimental), nomeadamente a nível social, a frustração profissional (a escolha, entre dois caminhos, pelo pior deles), a incapacidade de resolver, frente a frente, os problemas que lhe são criados (greenberg escreve imensas cartas durante o filme, sempre a queixar-se de algo, à starbucks, a uma companhia aérea, a um serviço de transporte de animais, etc.. no meu caso, utilizo o blogue como "escape"), a relação com o seu melhor amigo, os desabafos que ficaram anos em stand by à espera de sair, a inépcia para conviver socialmente com desconhecidos, a ânsia pela solidão e, ao mesmo tempo, a procura incessante de alguém para conversar, a paixão pela música e a segurança que sente quando a ouve (a referência aos duran duran, no momento em que é proferida, é particularmente deliciosa), a tendência auto-destrutiva para terminar relacionamentos, para depois os tentar reatar... está tudo lá. em termos cinematográficos, nunca vi uma personagem tão parecida comigo como este roger greenberg. mas não foi apenas por isso que eu gostei do filme. rhys ifans e greta gerwig são absolutamente notáveis, acompanhando a interpretação notável de ben stiller.
recomendo vivamente!
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