quinta-feira, junho 03, 2010
lost
"you can let go now!"...
é isso mesmo. agora podemos, finalmente, "let go". fechou-se um capítulo, ao fim de seis anos.
a última série pretendia esclarecer todas as dúvidas que foram criadas nas anteriores cinco temporadas. é certo que algumas delas tiveram uma resposta à altura; outras ficaram por esclarecer. quem estava à espera de que, no último episódio, surgisse alguma explicação metafísica ou científica para tudo o que aconteceu na ilha, ficou certamente defraudado. aliás, até aposto que havia uma grande franja dos espectadores do último episódio de "lost" que já sabia previamente que ia detestar a conclusão da série, fosse ela qual fosse. outros, a meu ver, entenderam mal o final, pensando que os passageiros do oceanic 815 morreram todos quando o avião caiu na ilha e que tudo o que se passou lá foi uma espécie de "purgatório" por que as personagens tinham que passar. essa teoria foi, logo no decorrer da primeira série, desmentida pelos próprios criadores da série. o purgatório, ou como lhe queiram chamar, apareceu na última série na forma dos "flash sideways", em que as personagens, de regresso a los angeles, seguiam as suas vidas de uma forma normal, embora ligeiramente diferentes da versão que nos havia sido contada, em "flash backs", nas séries anteriores (sawyer e miles são polícias; desmond é o "braço direito" de widmore; jack tem um filho, ben é professor, etc).
a componente religiosa esteve sempre presente ao longo da série, bem como os conceitos de mal e bem, céu e inferno. na última série foi dito que dentro de cada ser humano havia uma balança, que pesava o bem e o mal; cabia a cada um fazer pender essa balança para o lado correcto. várias personagens, depois de muitas peripécias, conseguiram chegar à almejada redenção. o caso mais flagrante acaba por ser o de sayid, que estava presente, com shannon, na última cena da série, na igreja. a meu ver, as personagens que estavam no interior dessa igreja foram aquelas que provaram merecer o céu, aquelas que conseguiram fazer pender as suas balanças para o bem. por isso se entendeu perfeitamente por que ben linus estava no exterior da igreja e não no seu interior. afinal, ele, apesar da sua solicitude na última série, foi durante muito tempo o inimigo número um dos sobreviventes do oceanic 815. mais uma vez, como em muitos momentos da série, ben conseguiu outro grande momento, na sua interpretação plena de contenção e resignação pelo facto de sentir que não merecia estar na igreja, com os outros. mesmo assim, recebeu de locke e hurley a aprovação e a consideração que lhe era devida. já aqui o referi, mas volto a confessar toda a minha admiração por michael emerson, que transformou o seu ben linus numa das personagens mais marcantes, para mim, da história televisiva dos últimos 30 anos.
o último episódio marcou o simbolismo da eterna questão colocada ao longo da série, protagonizada por duas das suas personagens mais marcantes: jack e locke. jack era o homem da ciência e locke o homem de fé. estas duas doutrinas colidiram muitas vezes nas séries anteriores, marcando claramente a separação entre as duas personagens. com a morte de locke (não o "fumo negro"), às mãos de ben, jack sentiu que a sua missão na ilha não estava ainda completa, por isso decidiu voltar para a ilha. na última temporada ele descobre finalmente o que lhe estava reservado: substituir jacob. assistimos então a uma completa transformação de jack, de homem da ciência para homem de fé, homenageando, de certa forma, locke, aquele que foi o primeiro a sentir a ilha como uma dádiva dos céus, sentindo-a como um destino que ele tinha que cumprir e preservar. no final, coube a jack esse papel, impedindo o "fumo negro" de destruir a ilha, com a preciosa ajuda de desmond. o simbolismo da garrafa de vinho que jacob mostrava várias vezes ao irmão foi explicado no último episódio, quando desmond retirou a pedra, libertando o mal, mas tornando o "fumo negro" vulnerável, e jack a voltou a colocar no sítio, depois da morte do irmão de jacob, que, ironicamente, não chegou a sair da ilha, nem mesmo depois de morto, jazendo a poucos metros do mar. a redenção, e ao mesmo tempo transformação, de jack estava consumada, tinha cumprido o seu papel como protector da ilha, delegando depois essa missão na personagem mais consensual da série, hurley. no "flash sideways", o dr. jack shephard encetou outra missão, como forma, talvez, de fazer as pazes com a personagem que mais o confrontou, john locke. aqui, jack mostrou a locke que, para além de ser um homem de ciência, também era, agora, um homem de fé, fazendo tudo para recuperar o seu paciente. a partir daqui, faltava apenas resolver as suas questões com o pai, christian shephard. antes disso, as outras personagens da série reencontram-se no "flash sideways". especialmente comoventes foram os encontros de charlie e claire, juliet e sawyer, sayid e shannon e a cena do bebé de sun e jin. apesar de tudo o que tinham vivido na ilha, as personagens tinham encontrado, finalmente, a sua recompensa. quando christian explica a jack que "there's no time in now", ficamos a saber que aquele mundo, afinal, não existe, tinha sido criado pelos sobreviventes do oceanic 815 para se poderem encontrar. hurley, antes, tinha dito a ben que ele tinha sido um excelente número 2. portanto, apesar da morte de jack, a ilha continuou a ser gerida por hurley e ben, agora já sem o "fumo negro".
o final da série foi muito mais sentimental do que racional. digamos mesmo que foi a tão apregoada vitória da fé sobre a ciência, um duelo tantas vezes travado entre jack e locke, afinal de contas as personagens centrais de toda esta história. para quem seguiu a série durante seis anos, foi humanamente impossível ficar indiferente em várias momentos. mas, mais ainda, quando se vê o final de algo que gostamos a aproximar-se, sentindo o nó na garganta cada vez mais apertado, e sabemos que nos vamos despedir de personagens que nunca mais vamos encontrar, muitas delas bastante marcantes, como ben linus, desmond hume, kate austen, jack shephard, john locke, sawyer, hurley, sun, jin... já pareço o spot promocional da série na "fox". sim, vou ter saudades deles todos.
em suma, gostei do último episódio (podem começar a atirar pedras agora), apelou ao meu lado mais sentimental, ao lado lamechas que há em mim. faço, simplesmente, um reparo aos criadores da série. se a intenção era realmente acabar desta forma a série, creio que houve "palha" a mais, apenas para "esticar" o programa por várias temporadas e confundir os espectadores. em todo o caso, ficaram alguns aspectos por explicar, mas quem sabe se todas as respostas que ficaram agora por dar não serão respondidas daqui a uns tempos, com a mais do que provável versão cinematográfica da série...
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarimpossível "atirar pedras". fica claro que as águas foram divididas, que a série tomou partido pelo lado emocional.
ResponderEliminarnão, eu não gostei, mas seis anos de devoção não podem perder-se desta forma e aos poucos arranjo espaço para admirar o programa num todo, com toda palha incluída.
aborrece-me ter respostas de tudo quando é lado que não o do programa, mas esta feito.
let go. move on.
abraço zé! :)
Também não vou atirar pedras, mas subscrevo em pleno o comentário do Tadeu...
ResponderEliminar(Pelo menos sei que as minhas insónias nas noites de Terça para Quarta vão agora acabar!! Yes, I can let go now...)